Após anos de denúncias e pressão pública, um relatório de uma comissão independente de inquérito sobre abusos sexuais dentro da Igreja Católica afirma que mais de 200.000 menores de idade podem ter sido vítimas na Espanha. O documento, feito a pedido do Parlamento, foi publicado nesta sexta-feira, 27, e traça casos desde a década de 1940.
Apesar de impreciso em relação aos números, o relatório contém uma pesquisa com mais de 8 mil indivíduos, segundo a qual 0,6% da população adulta de Espanha (de um total de 39 milhões) disse ter sido abusada sexualmente por clérigos quando eram menores.
Os números chegam a dobrar quando este mesmo grupo foi questionado sobre abusos de leigos em ambientes religiosos, e atingem 1,13% (mais de 400 mil pessoas), segundo Ángel Gabilondo, membro da comissão de inquérito.
“Infelizmente, durante muitos anos, houve um certo desejo de negar os abusos ou um desejo de esconder ou proteger os abusadores”, disse Gabilondo, que já foi ministro da Educação.
A Espanha, lugar onde o catolicismo é fortemente enraizado, foi um dos últimos países a aderir de forma oficial à crise dos abusos sexuais que assola o Vaticano. Os Estados Unidos, a França, a Alemanha e a Irlanda são algumas das nações que já apresentaram seus próprios inquéritos.
A Conferência dos Bispos Espanhóis afirmou que realizaria uma reunião extraordinária na segunda-feira para discutir as suas conclusões sobre o documento, pouco antes dele ter sido apresentado aos deputados.
O relatório espanhol criticou as respostas “tardias” da Igreja sobre as crescentes acusações, e disse que elas foram “insuficientes”, além de recomendar a criação de um fundo estatal para pagar reparações às vítimas.
A Igreja Católica da Espanha se negou a participar da comissão independente, e já se negava a conduzir uma própria investigação, mas não criou obstáculos e cooperou, por meio de documentos sobre casos de abuso sexual que tinham sido recolhidos pelas dioceses.
Créditos: VEJA.