A Polícia Federal vai investigar o Exército pelo uso e compra de softwares de inteligência custeados com dinheiro do Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro, então chefiado pelo general Walter Braga Netto.
Uma das ferramentas adquiridas foi o FirstMile, que consegue apontar a geolocalização aproximada de aparelhos celulares e é o centro da Operação Última Milha, que afastou diretores e prendeu oficiais da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na sexta-feira (20).
Durante as buscas na operação, a PF apreendeu a base de dados do software na sede da empresa que o comercializa no Brasil, a Cognyte, em Santa Catarina. Além das informações sobre o uso do programa por parte da Abin, a polícia também arrecadou informações sobre a utilização do Exército.
Segundo pessoas que conhecem o caso disseram à Folha, é preciso averiguar se houve uso irregular da ferramenta pelo Exército, assim como apontam ter havido em relação à agência de inteligência.
A compra do software já estava na mira dos investigadores da Operação Perfídia, deflagrada pela PF no Rio de Janeiro e que apura irregularidades em contratos da gestão de Braga Netto na Intervenção Federal realizada em 2018.
Após a ação da PF de Brasília na Abin e na empresa da que vende o FirstMile, o caso também entrou na mira dos inquéritos relatados por Alexandre de Moraes.
A Folha apurou que a investigação que mira o Exército deve ficar dividida entre as equipes da PF na capital federal (com foco no possível uso irregular da ferramenta) e no Rio (que mira irregularidades na compra com dinheiro da Intervenção Federal).
Em nota, o Exército disse que “quaisquer esclarecimentos solicitados pela Polícia Federal sobre o software em questão serão prestados exclusivamente aquele órgão.”
“Cabe destacar que esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito e profissionalismo do Exército Brasileiro com as demais instituições da República.”
Na última sexta, após a operação da PF na Abin, a Folha mostrou que o Exército também havia adquirido o FirstMile.
A diligência na sede da Cognyte, que colocou o Exército na mira da PF, é considerada como fundamental para o andamento das investigações. Segundo pessoas ouvidas pela reportagem, há provas que respaldam a hipótese do uso ilegal da ferramenta.
Folha de SP