Uma “guerra de resoluções” deverá atingir a Organização das Nações Unidas (ONU), nas próximas 48 horas, em torno de diferentes propostas de texto para lidar com a escalada no conflito Israel–Hamas.
A primeira versão poderá ser votada, na tarde desta quarta-feira (25), no Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos, autores da proposta, construíram um texto focado no “direito de autodefesa” de Israel e sem apelos por um cessar-fogo.
O rascunho dos americanos fala apenas em “pausas humanitárias” para o acesso de insumos básicos – como água, alimentos, combustíveis e medicamentos – à população civil na Faixa de Gaza.
O Brasil, que preside até a próxima semana o Conselho de Segurança da ONU, entendeu a pressão dos Estados Unidos para votar o texto como um indício de que Washington já teria conseguido o número de apoios necessários – pelo menos nove dos 15 membros, permanentes e não permanentes – para a aprovação.
No entanto, segundo relatos feitos à CNN por fontes diplomáticas, a Rússia já deu sinais claros de que pretende exercer seu poder de veto e barrar a resolução americana.
Em seguida, Moscou apresentaria sua própria minuta no Conselho de Segurança. A proposta russa retoma partes do texto costurado pelo Brasil na semana passada – que recebeu 12 votos favoráveis, duas abstenções e foi vetado pelos Estados Unidos.
A nova resolução da Rússia propõe um “cessar-fogo humanitário” e exorta Israel a abandonar “imediatamente” a ordem de retirada dos palestinos do norte de Gaza.
Dá-se como certo que, independentemente do grau de apoio na votação dessa proposta, o texto será vetado pelos Estados Unidos. Na avaliação de fontes do Itamaraty, o objetivo de Moscou com uma minuta fadada ao fracasso é apenas “emparedar” Washington.
O objetivo inicial dos americanos era diluir o custo político do veto à resolução brasileira, transferindo para a Rússia o ônus de impedir um pronunciamento da comunidade internacional sobre os ataques terroristas do Hamas e a escalada do conflito.
A jogada da diplomacia de Vladimir Putin devolve o problema e pode fazer com que os dedos sejam apontados para os Estados Unidos como responsáveis pelo impasse.
Diante da falta de avanços, uma sessão de emergência da Assembleia Geral da ONU – que engloba todos os 192 países da organização – começará a debater o assunto na quinta-feira (26).
Por iniciativa de 57 países de maioria muçulmana, divididos em dois blocos (Grupo Árabe e Organização para a Cooperação Islâmica), uma resolução alternativa poderá ser votada na sexta-feira (27).
As sessões especiais da Assembleia Geral são um evento raro na história da ONU. Só foram convocadas 11 vezes desde a década de 1940 – a última delas para discutir a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Na Assembleia Geral, resoluções sobre guerra e paz são aprovadas por dois terços dos votos. Não há poder de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança.
Além de Estados Unidos e Rússia, gozam de tal status China, Reino Unido e França. No entanto, os textos têm o caráter apenas de recomendação.
A minuta submetida pelos países muçulmanos também replica, em boa parte, a linguagem sugerida pelo Brasil na semana passada. Não fala em “direito de autodefesa”, pede um “cessar-fogo imediato” e conclama Israel a abandonar ordens de evacuação dos palestinos do norte de Gaza.
A resolução que será debatida pela Assembleia Geral aborda ainda a “importância de prevenir maior desestabilização e escalada da violência na região”, além de exortar “todas as partes a exercitar máxima contenção” para atingir esses objetivos.