Vinte militares são investigados pelo Exército por suspeita de envolvimento com o furto das 21 metralhadoras, em setembro, do quartel de Barueri, Grande São Paulo. Nesse grupo tem soldados a oficiais.
Sete desses militares estão impedidos de deixar o Arsenal de Guerra por indícios de participação direta no crime, de acordo com apuração do g1. Outros 13 militares, investigados por participação indireta, podem deixar o local após o trabalho (leia mais abaixo).
Neste domingo (22), o Comando Militar do Sudeste (CMSE) convocou entrevista coletiva, na sua sede na capital capital paulista, para tratar da investigação e localização de 17 dessas armas furtadas. Nesta semana elas foram recuperadas pelas polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O general Maurício Vieira Gama, chefe do Comando Militar do Sudeste, também comentou a busca pelas outras quatro metralhadoras que ainda não foram encontradas. Gama afirmou que desde o início do caso está em contato direto com a Polícia Civil fluminense e também com a paulista. E que a troca dessas informações ajudou a recuperar as armas que haviam sido negociadas por militares com criminosos.
“Nós temos hoje na frente da esfera administrativa, nós temos aí em torno de 20 militares que respondem disciplinarmente por terem negligenciado na conferência, na fiscalização, na gerência do controle desse armamento. Então, são militares que estão respondendo na esfera disciplinar”, disse ao g1 o general Maurício, repercutindo o que havia dito antes na coletiva.
“Mas isso não exime também de alguns deles responderem na esfera criminal por participação direta, nesse crime, nesse furto do armamento. Então são duas coisas distintas. Agora pode ser que tenham militares que estão sendo investigados nas duas frentes”, explicou o general.
Sete militares impedidos de sair
A reportagem também apurou que sete desses militares estão impedidos de sair do Arsenal de Guerra desde 10 de outubro, quando o desaparecimento das armas foi confirmado pelo Exército durante inspeção. Há indícios de que eles teriam participação mais efetiva no crime, colaborando.
Sendo que três deles, desse grupo de sete, seriam os responsáveis diretos pelo furto, de acordo com a investigação: um teria aberto o paiol, outro pegou as armas e um terceiro transportou num caminhão militar para fora do quartel.
Outros 13 militares do grupo de 20 investigados estão podendo ir para casa e voltar para trabalhar no quartel.
Até a última atualização desta reportagem nenhum militar investigado pelo sumiço das metralhadoras havia sido punido. Àqueles que forem considerados culpados por negligência, ou seja, pela participação indireta no furto das metralhadoras, receberão penas administrativas. Elas podem ir da prisão temporária por 30 dias.
Os militares apontados na investigação por terem envolvimento direto no furto responderão criminalmente na Justiça Militar. Nesse caso, se forem punidos, poderão ser presos preventivamente até que sejam julgados. E também poderão ser expulsos da instituição.
40 militares ‘aquartelados’
Aproximadamente 50 militares já foram ouvidos, mas não necessariamente todos são investigados. Cerca de 40 militares estão “aquartelados”, entre eles, homens e mulheres. Ou seja, ficam se revezando com outros para permanecerem no Arsenal de Guerra por dias seguidos. Até sábado (21) eram 160 “aquartelados” e antes disso toda a tropa de 480 militares ficou proibida de deixar o quartel.
A medida, segundo o CMSE é que eles possam colaborar com as investigações internas para esclarecer o sumiço das metralhadoras. Por esse motivo, quem está “aquartelado” tem o celular confiscado para não se comunicar com outros militares enquanto estiver na base.
O Exército trabalha com a possibilidade de que o furto das 13 metralhadoras antiaéreas calibre .50 e das oito metralhadoras calibre 7,62 tenham sido furtadas durante o feriado de 7 de setembro. Câmeras de segurança do quartel estão sendo analisadas para saber se gravaram a ação criminosa.
Segundo o Instituto Sou da Paz, as 21 metralhadoras furtadas do quartel em Barueri representam o maior desvio de armas da história do Exército brasileiro desde 2009, quando sete fuzis foram roubados e depois recuperados pela polícia de um batalhão em Caçapava, interior de São Paulo. Suspeitos foram presos à época, entre eles um militar.
Exército alega que colabora com polícias
“Estamos trabalhando em conjunto [com as polícias] e esperamos aí encontrar essas quatro armas que estão faltando”, disse Maurício durante a coletiva no Comando Militar do Sudeste.
A declaração do general é uma resposta indireta a Secretaria da Segurança Pública (SSP) e a Polícia Civil de São Paulo. O secretário Guilherme Derrite e o delegado Marcelo Prado haviam dito à imprensa que a localização das nove metralhadoras, na sexta-feira (20), em São Roque, interior paulista, ocorreu após trabalho do setor de investigação das forças de segurança.
Em nenhum momento citaram que tinham recebido informações do serviço de inteligência do Exército para ajudar a encontrar e recuperar o armamento. Quando questionado, o delegado ainda negou que os militares tivessem compartilhado dados: “Nada o Exército passa…”
Foram recuperadas num lamaçal em São Roque cinco metralhadoras calibre .50 e quatro metralhadoras 7,62. Houve troca de tiros com dois criminosos, que iriam entregar o carregamento para uma facção. Os bandidos fugiram. Uma viatura policial foi atingida por três disparos, mas ninguém se feriu.
No Rio de Janeiro, a Secretaria da Segurança e a Polícia Civil fluminense confirmaram que estavam trocado informações com o Exército quando recuperaram oito metralhadoras (quatro .50 e outras quatro 7,62). As armas tinham sido abandonadas, possivelmente por criminosos.
Armas iriam para facções
As outras quatro metralhadoras que ainda não foram recuperadas são de calibre .50 e podem derrubar aeronaves. Tento o Exército quanto as polícias sabem que os militares de Barueri foram cooptados pelo crime organizado. O destino das armas, segundo as investigações, seriam facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV), no Rio, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo.
Apesar de o Exército informar que as armas furtadas, que são de meados dos anos 1960 e 1990, serem “inservíveis” e estarem passando por manutenção, especialistas disseram à reportagem que elas podem voltar a funcionar. Principalmente se caírem nas mãos de criminosos.
Por causa do desaparecimento das armas, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, diretor do Arsenal de Guerra, foi exonerado na semana passada pelo Exército. Ele será transferido para outro quartel e continuará na ativa. Em seu lugar, assume o novo diretor, o coronel Mário Victor Vargas Júnior, que comandará a base em Barueri.
Fonte: G1.