Viram que Rodrigo Pacheco, el parvo, anda peitando o STF? Outro dia ele deve ter tomado uma ou outra taça de champagne a mais e, lá em Paris, disse na cara de Gilmar Mendes que o STF ultrapassa o tempo todo os limites estabelecidos pela Constituição – e mais um pouco. Depois disso, achei que ele iria titubear, mas que nada: de volta ao Brasil, Pacheco insistiu em dizer que pautas que vão contra o absolutismo jurídico devem ser discutidas.
Quem diria, hein?! O Pacheco! Aquele Pacheco altão que está sempre com cara de quem acabou de acordar. Aquele Pacheco que carrega o espírito do burocrata nelsonrodrigueano até no nome. Aquele Pacheco que, se você me perguntar hoje, vou dizer que nunca critiquei. Aquele Pacheco que, até outro dia, só faltava abrir um tapete vermelho para receber as altezas do STF. Aquele mesmo.
O que me leva de imediato ao âmago (ôloko, meu!) deste texto. É que às vezes a gente tem essa mania meio besta, ou melhor, besta inteira de supervalorizar os dotes intelectuais dos personagens políticos. Mesmo de um pacheco como o Pacheco. Deve ter a ver com o poder, isso. Ou com a ojeriza natural que a política nos causa. Inconscientemente, pressupomos que nossos líderes são movidos por perversidades (e raramente em virtudes) inalcançáveis a nós, a ralé. Quando na verdade.
Quando na verdade tudo é muito mais simples do que parece e, apesar do porte de mordomo de ministro do Supremo, Pacheco não passa de um ser humano movido por miudezas típicas do bicho-homem. Igualzinho a mim, a você e, como direi nos parágrafos que se seguem, ao Lula e até ao Alexandre de Moraes. Ou seja, Pacheco não é nenhum gênio do xadrez 4D. Não é nenhuma sumidade intelectual maquiavélica. Nada disso. Como todos nós, ele age de acordo com o diabinho que lhe sopra no ouvido a vaidade, a preguiça, o prazer, a ambição ou o orgulho.
Dor de cotovelo
No caso da atuação de Rodrigo Pacheco estufando o peito para tentar colocar o STF no seu devido lugar o que o move é o velho orgulho ferido cantado em verso e prosa. A velha dor de cotovelo. Pacheco que, como bom mineiro, sonhava em curtir uma praia capixaba na condição de ministro do STF. Ler a Constituição sob o guarda-sol. Dizer que frescobol é antidemocrático. Pegar jacaré. Mas que, ao que tudo indica, foi preterido por Lula, que prefere recompensar amplamente a lealdade sempre ampla do também amplo ministro Flávio Dino.
Só isso? Só. Se bem que não tenho certeza se o advérbio “só” dá conta de expressar a vergonha que o Pacheco deve estar sentindo agora. Depois de ter sido passado para trás por Lula – o que, aliás, faz dele só mais um brasileiro enganado. Mas tudo bem. Imagine a cara do senador quando entra nas festas da aristocrática elite mineira e vê as ladies e os gentlemen, pão de queijo numa das mãos e cachacinha artesanal na outra, abafando o riso. Imagine os bochichos nos cantin da festa. Imagine a fofoca e a maledicência típicas do mundo político.
Mas, como eu já disse em algum momento do texto, a nova postura de Rodrigo Pacheco, essa suposta coragem que não chega a ser nenhuma valentia e que hesita tanto que precisa de aspas, mostra que as autoridades, por mais poderosas que pareçam, se submetem voluntariamente a esses sentimentos miúdos de que se alimenta o ego. Lula, por exemplo. Tem gente que considera um gênio e, no entanto, não passa de um simplório que quer ter sua esperteza reconhecida como inteligência pela elite que bebe café com o dedinho esticado. Nada além disso. Nada.
Créditos: Paulo Polzonoff Jr. para Gazeta do Povo.