O objetivo dos autores que furtaram o arsenal de guerra do Exército em São Paulo, com metralhadoras .50 e calibre 7,62, era fazer muito dinheiro aumentando o poder bélico das duas maiores facções criminosas do país — a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e a carioca Comando Vermelho (CV). No entanto, o mal estado de conservação e a ausência de uma peça fundamental esfriaram o interesse.
Em uma primeira negociação com integrantes do CV que comandam o tráfico no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, os fornecedores não conseguiram emplacar a venda em razão da ausência de uma fita metálica necessária para inserir a munição nas armas. A peça é de uso controlado pelo Exército, ou seja, difícil de ser adquirida no mercado. A informação foi confirmada ao Metrópoles por fontes da inteligência da Polícia Civil do Rio.
De acordo com os investigadores, a negociação das armas foi feita em um grupo de WhatsApp do qual participam lideranças do CV. Um fornecedor postou no grupo um vídeo em que apareciam as quatro metralhadoras .50 desviadas do arsenal. Ao todo, 21 metralhadoras foram subtraídas do quartel em Barueri, sendo 13 de calibre .50 e outras oito de calibre 7,62. O crime foi descoberto no último dia 10, durante uma inspeção, conforme revelou a reportagem do Metrópoles. Até agora, 17 armas foram recuperadas.
“Armas velhas”
O arsenal também foi oferecido a um integrante do PCC, conhecido por liderar grandes roubos contra agências bancárias e carros-fortes. As metralhadoras .50 são conhecidas pelo alto poder destrutivo, capaz de perfurar a fuselagem dos veículos usados para o transporte de valores. No entanto, o assaltante descartou a compra por ter considerados as armas “velhas e em mal estado”.
O fornecedor chegou a pedir R$ 350 mil em cada metralhadora .50 (antiaérea) e R$ 180 mil pelos fuzis. Os valores, considerados “justos” no mercado paralelo de armas pesadas, não foram suficientes para agradar ao membro do PCC, que descartou a compra.
Militares aquartelados
Por causa do desvio das armas, cerca de 480 militares ficaram aquartelados para investigação interna desde o último dia 11. O isolamento contribuiu para que o comando conseguisse ouvir depoimentos e afunilar o número de possíveis envolvidos no crime. A maioria da tropa foi liberada na terça-feira (17/10), mas cerca de 160 militares permanecem sem poder deixar o quartel.
O Comando Militar do Sudeste já identificou três militares que teriam ajudado no furto e também investiga a atuação de outros integrantes da corporação e de civis. O diretor do Arsenal de Guerra de Barueri foi exonerado nesta sexta-feira (20/10).
Após o escândalo do furto das armas de alto poder destrutivo, o comandante do Exército, Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, exonerou do cargo, nessa sexta-feira (20/10), o diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo, Rivelino Barata de Sousa Batista. Ele, porém, não foi demitido, mas sim transferido de estado.
Créditos: Metrópoles.