A guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas chamou a atenção para o histórico poderio militar israelense. A formação das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês), porém, é anterior à criação do próprio Estado judeu, em 1948. Ela remonta às organizações paramilitares criadas na clandestinidade durante a ocupação da Palestina por colonos judeus no começo do século 20.
Uma potência nuclear
Israel é o 15º país com maiores gastos militares do mundo: US$ 23,45 bilhões em 2022. Este e os números abaixo são da edição mais recente, de 2023, do levantamento do GFP (Global Firepower), que mede as forças militares pelo mundo.
Segundo o índice, Israel tem 173 mil militares ativos. Em números absolutos, é o 29º maior efetivo do mundo enquanto o Brasil é o 15º, com cerca de 360 mil na ativa. O efetivo israelense é quase metade (46,24%) do brasileiro, mas o Brasil tem uma população cerca de 24 vezes maior.
Proporcionalmente, Israel ocupa a oitava posição no mundo em investimentos militares: 4,3% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022, segundo o IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos). No Oriente Médio, seu gasto militar só fica atrás da Arábia Saudita (US$ 75 bi).
A força terrestre de Israel é maior que a do Brasil. O exército israelense, segundo as estimativas do GFP, tem mais tanques que o brasileiro (2.200 contra 466), mais veículos blindados (56.290 contra 41.516) e maior poder de artilharia.
As forças armadas israelenses contam com blindados, tanques e aviões modernos. Entre os destaques estão 400 tanques modelo Merkava Mk4 e 36 caças F-35, considerados os mais modernos do mundo. Deste último modelo, o país ainda deverá receber 39 dos EUA.
O arsenal nuclear e o apoio dos Estados Unidos desde o final da 2ª Guerra são outros trunfos. Única potência nuclear no Oriente Médio, Israel conta com 90 ogivas, além de contar ajuda anual de US$ 3,3 bilhões dos Estados Unidos. “Nunca deixaremos de apoiar Israel”, disse Biden após o atentado de sábado (7).
A origem das Forças de Defesa
Chegada de judeus a regiões da Palestina no final do século 19 gerou insatisfação da população local. Com a ideia de criar comunidades judaicas para um futuro Estado de Israel, os judeus começaram a comprar terras em locais de palestinos — pela teoria sionista, a sobrevivência do povo judeu dependia da criação de um Estado.
O crescimento dessas áreas (conhecidas como kibutz) gerou a necessidade de proteger a comunidade judaica. Bar-Giora foi a primeira dessas organizações, criada em 1907 para proteger os assentamentos em troca de uma taxa anual (segundo a Biblioteca Virtual Judaica).
O grupo foi convertido no Hashomer (O Guardião) em 1909 e durou até 1920. Sua principal atribuição era proteger os acampamentos de gangues que roubavam propriedades judaicas.
Na 1ª Guerra Mundial, os judeus se aliaram ao Império Britânico contra o Império Otomano, que dominava a região naquela época. Sob a supervisão do Exército Britânico, nascia o Corpo Muleteiro de Sião e a Legião Judaica, conta o líder sionista Vladimir Jabotinsky em “A história da Legião Judaica”.
Motivada pela aliança e pela Declaração Balfour —documento britânico favorável ao sionismo—, a Legião Judaica ganhou força. A violência de suas ações, no entanto, levou os britânicos a proibirem o grupo.
Com o veto, os líderes judeus decidiram criar, em 1920, um exército clandestino batizado de Haganah. Para evitar se indispor com os britânicos, o grupo tinha como filosofia a moderação.
O Haganah conseguiu defender os assentamentos judeus em conflitos registrados em 1920, 1921, 1929. Em 1931, porém, um braço do Haganah se radicalizou: o Haganah Leumi passou a se chamar Irgun. Elite de combate, a tropa direitista abraçou a guerrilha urbana e o terrorismo.
Os grupos foram fundamentais durante a revolta árabe de 1936-1939 na Palestina. Na época, o capitão inglês Orde Wingate, um sionista declarado, passou a treinar o grupo e criar esquadrões noturnos, os Comandos da Meia-Noite. Em pouco tempo, a Haganah se transformou em uma tropa de choque de elite.
Em 1940, o judeu radical Avraham Stern passou a liderar o grupo fanático Lehi, defensor de ataques suicidas. Àquela altura, a população judaica contava com três organizações combatentes clandestinas: a Haganah, o Irgun e o Lehi.
Os britânicos passaram a reprimir os grupos, mas o Lehi respondeu assassinando o ministro inglês Lorde Moyne em 1944, enquanto o Irgun praticou um atentado ao Hotel Rei David que matou 91 pessoas em 1946.
Nascem as Forças de Defesa de Israel
Com o fim da 2ª Guerra, os três exércitos se juntaram para expulsar os britânicos da Palestina.
Ao mesmo tempo, o Haganah se preparava para uma guerra com os árabes assim que os britânicos deixassem a Palestina. O grupo aumentou os estoques de munições e mantinha uma indústria secreta de armas e outra subterrânea de balas.
Na época, o Haganah contava com cerca de 75 mil membros, segundo o livro “A Job Well Done (Being a History of The Palestine Police Force 1920-1948)” (Um trabalho bem feito (uma história da força policial palestina 1920-1948), em tradução livre), de Edward Horne.
Quando o império deixou a Palestina e a ONU aprovou a divisão daquelas terras entre judeus e palestinos, eclodiu a Guerra Palestino-Sionista (1947-1948), vencida por Haganah, que ocupou mais território.
Israel declarou sua independência em 14 de maio de 1948. Duas semanas depois, o governo provisório criou as Forças de Defesa de Israel ao fundir o Haganá, Irgun e o Lehi. Já sob ataque de Egito, Síria, Líbano e Jordânia, o exército israelense recebeu armamento de outros países, principalmente da Tchecoslováquia, para vencer a guerra.
Desde então, o Exército de Israel ganhou outras guerras, como a do Seis Dias (1967) e do Yom Kippur (1973).
Créditos: UOL.