Cerca de dez mil veículos produzidos no Brasil esperam em portos argentinos autorização para entrar no país vizinho.
A demora se deve a barreiras do governo de Alberto Fernández às importações, para evitar a saída dos dólares das reservas argentinas.
Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatísticas da Argentina, em agosto, o total de importações do país foi 12,4% menor do que no mesmo período do ano passado.
As importações de veículos caíram 17,8% nos oito primeiros meses do ano em relação a 2022 e, quando comparado somente com agosto, um dos meses de mais restrições deste ano, a queda foi de 88,1%.
E o Brasil, que produz cerca de 80% dos carros importados pelo país, é fortemente afetado pelas restrições.
O argentino Francisco Olivera conta que precisava trocar de carro, mas soube na concessionária que teria de esperar vários meses pelo modelo que queria, que era fabricado no Brasil.
“Nos disseram que o prazo mínimo para a entrega era maio do ano que vem”, afirma Francisco.
Além de entrar em uma lista de espera, havia incerteza sobre o custo do carro quando entrasse no país. A solução foi buscar um modelo de outra marca.
“No fim das contas, como eu tinha que trocar de carro, tive que comprar um que eu não queria, mas que era o que tinha”, acrescenta.
Até setembro, cerca de 20 mil veículos fabricados no Brasil se acumularam em portos argentinos esperando autorização para entrar no país vizinho.
Hoje, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que 10 mil unidades estejam esperando liberação.
“Cerca de 50% dos carros não estão com importação aprovada, a entrada ainda está pendente. Isso faz com que não haja certos produtos, principalmente os que vêm do Brasil, e se sente um pouco no abastecimento”, explica Horacio Jack, diretor da Associação de Concessionárias da Argentina.
Com falta de importados, alguns usados estão mais caros do que carros zero quilômetro.
“Quanto vale um litro de água no meio do Saara? Você fica com um mercado mais restrito, com menos unidades e com menos para escolher. Você tem duas opções: ou compra nesse mercado o que tem, ou vai ao mercado de usados que é muito mais amplo, encontra o produto que você gostaria de ter um zero quilômetro e tenta buscar o mais novo possível. E você paga”, avalia Alejandro Lamas, secretário da Câmara de Comércio Automotor da Argentina.
Para liberar parte dos veículos que esperam para entrar no país, o governo fez um acordo com as montadoras. Os carros deveriam ser importados com dólares próprios e não com o oficial, que seria mais barato.
E pelo menos um modelo de cada marca deve ter preço congelado até o fim deste mês, quando acontecem as eleições presidenciais.
Mas as restrições também preocupam outros setores de bens e serviços. E empresários estão reorganizando estoques e manufaturas que dependem de importados.
“As empresas estão readequando seus níveis de produção e de utilização de planta em função de quando vão chegando os insumos, sem poder planejá-la normalmente”, explica Federico Amos, presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira.
CNN Brasil