O ex-presidente Donald Trump afirmou à Fox News Digital, nesta quinta-feira, que aceitaria ser temporariamente o presidente da Câmara dos Deputados para “unificar” o Partido Republicano enquanto os parlamentares ainda decidem quem assumirá o cargo, que ficou vago após a destituição do republicano Kevin McCarthy, na terça-feira. O nome de Trump — principal candidato dos republicanos para as eleições presidenciais de 2024 — foi citado por membros da ala radical do partido para ocupar a função, mas o próprio já havia negado que aceitaria os convites para focar em sua campanha para a Casa Branca.
— Eles me perguntaram se eu aceitaria por um curto período de tempo pelo partido, até que cheguem a uma conclusão. Eu não estou fazendo isso porque quero. Eu farei se for necessário, caso eles não consigam tomar uma decisão — disse Trump, acrescentando que seria apenas por um período de “30, 60 ou 90 dias”.
Há um dia, em entrevista a repórteres no lado de fora do tribunal de Nova York, onde responde a um processo de fraude por supostamente inflar o valor de suas empresas, Trump confirmou ter recebido “muitas ligações” sobre a possibilidade de assumir o lugar de McCarthy, mas negou ter interesse em dividir a atenção de sua campanha eleitoral com o cargo legislativo.
— Temos algumas pessoas excelentes no Partido Republicano que fariam um excelente trabalho como presidente da Câmara. Meu único foco é ser presidente e, honestamente, tornar a “América grande novamente” — afirmara o ex-presidente.
Logo após a deposição de McCarthy, deputados como Troy Nehls, do Texas, e Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, foram às redes sociais defender o ex-mandatário como nome ideal.
“O único candidato para presidente [da Câmara] que eu apoio atualmente é o presidente Donald Trump. Ele vai acabar com a guerra na Ucrânia. Ele vai proteger a fronteira. Ele vai acabar com o uso político do governo. Ele vai aprovar uma lei para parar com cirurgias de mudança de gênero em crianças e manter homens fora dos esportes femininos. Ele vai apoiar nossos militares e nossa polícia. E muito mais!”, escreveu Taylor Greene em uma publicação na rede X (antigo Twitter).
McCarthy foi destituído após uma iniciativa movida por integrantes ultraconservadores do seu próprio partido, com os quais travava embates desde antes de assumir a função, em janeiro. A gota d’água veio no último sábado, após McCarthy aprovar uma medida bipartidária provisória de financiamento apoiada pela Casa Branca para evitar uma paralisia do governo.
Com o posto desocupado, a Casa fica paralisada até que um sucessor seja escolhido, mas ainda não há um sucessor claro. Isso promete provocar outra eleição potencialmente confusa — como a do próprio McCarthy, que se estendeu por históricas 15 sessões por conta de bloqueios dos republicanos que não o apoiavam — e num momento em que o Congresso tem pouco mais de 40 dias para evitar outra possível paralisação do governo. Até então, o deputado Patrick McHenry, da Carolina do Norte, assume como interino.
A Constituição permite?
Embora a possibilidade pareça fora da realidade, Trump, em tese, realmente poderia ser eleito presidente da Câmara. De acordo com a Constituição americana, a posição não precisa ser ocupada por um membro eleito da Casa Legislativa. Caso fosse indicado pelos deputados e recebesse o número mínimo de votos necessários, o ex-presidente assumiria o cargo.
Por outro lado, ninguém sabe exatamente como seria este processo. Nos mais de 230 anos de História da Câmara dos EUA, a Casa nunca foi presidida por um representante que não fosse um deputado eleito. Não há nenhum precedente sobre como ficariam os quóruns de votação, ou mesmo se Trump, apesar de presidente, teria direito a voto.
O Globo