Representantes do Psol exaltaram a greve no Metrô, na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e na Sabesp, nesta terça-feira 3, em São Paulo. Isso em meio ao caos, ao trânsito e às multidões paradas, sem rumo, na frente das estações. O partido de esquerda se opõe ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Deputados federais por São Paulo, Guilherme Boulos, Sâmia Bonfim, Érika Hilton e Ivan Valente estavam entre os que postaram mensagens de apoio aos grevistas. “São Paulo está em greve!”, vibrou Sâmia.
Enquanto isso, multiplicavam-se cenas em que trabalhadores paravam diante das estações fechadas e se desesperavam ao perceber que perderiam seu dia de trabalho.
Outros peregrinavam de estação em estação, à procura de uma brecha, uma carona ou um ônibus que os levasse até pelo menos um local mais próximo de seus destinos. Perderam horas e tiveram grande desgaste físico nessas idas e vindas.
O jornal O Estado de S. Paulo trouxe um exemplo de como uma greve pode trazer prejuízos não só à rotina, mas à vida de muitas pessoas. O cozinheiro Édson Marui, de 53 anos, desempregado há alguns meses, busca uma recolocação e reservou um dia inteiro para ir até o centro de São Paulo em busca de oportunidades. Ao chegar à Estação Mauá, da Linha-10 da CPTM, por volta de 7h, encontrou as portas fechadas. “Não sabia que ia ter greve”, disse ele.
Ao lado de vários outros moradores de Mauá, cidade na Região Metropolitana de São Paulo, Édson esperou fora da estação, com a expectativa de que a greve se encerraria ainda nesta manhã. Em vão.
“No fim, a greve prejudica o trabalhador, o pai de família. Se tem alguma reivindicação, é algo que tem que ser resolvido judicialmente”, disse ele, que também se queixou das poucas alternativas de ônibus. “Não me deixam onde quero e hoje estão ainda mais lotados.”
Cerca de 4,2 milhões de passageiros usam diariamente as linhas de trem e metrô paralisadas pela greve. São elas: Linha 1–Azul (Metrô), Linha 2–Verde (Metrô), Linha 3–Vermelha (Metrô), Linha 15–Prata (Metrô), Linha 10–Turquesa (CPTM)
Linha 12–Safira (CPTM) e Linha 13–Jade (CPTM).
Já as linhas 4-Amarela (Luz-Vila Sônia) e 5-Lilás (Capão Redondo-Chácara Klabin), que foram concedidas à iniciativa privada, funcionam normalmente, das 4h40 à meia-noite.
Por causa da greve, os governantes decretaram ponto facultativo para diversas atividades na região metropolitana, como escolas e unidades de saúde.
Boulos acusou o governo estadual de intransigente ao não aceitar a proposta da liberação das catracas, defendida pelos sindicatos grevistas, o que, para ele, determinou a paralisação.
O governador, no entanto, já havia explicado que uma liberação de catracas colocaria toda a população em risco, ao abrir a possibilidade de correrias, movimentos descontrolados, sem a garantia de segurança, já que os funcionários estariam em greve.
A decisão de não permitir catraca livre foi legitimada pela Justiça. O desembargador Celso Ricardo Peel Furtado de Oliveira, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2), proibiu a liberação com o argumento de que “a arrecadação pela prestação de serviço público não se insere no rol de direitos para exercício do direito de greve, acarretando, se deferido fosse, grave ofensa à ordem econômica”. O pedido por catraca livre havia sido feito pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo.
Já o TRT-2 também negou a catraca livre proposta pelo Sindicato dos Ferroviários. Segundo a juíza Raquel Gabbai de Oliveira, foram válidos os argumentos da CPTM, em relação à possibilidade de tumulto e risco de acidentes. Em caso de descumprimento, cada sindicato será multado em R$ 500 mil.
Em declaração nesta terça-feira no Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio voltou a falar que a greve é política. E garantiu que seu governo irá prosseguir nos estudos para a privatização destes serviços.
“Estamos estudando e vamos continuar estudando”, disse “Existe o momento, existe a hora, existe o formato adequado para se manifestar no processo, pra dar contribuições, pra mostrar discordância. Agora, a discordância não pode ser motivo de privação do cidadão, o cidadão tá sendo privado de um serviço essencial, privado do transporte publico e do seu direito de ir e vir.”
Deputada federal do Psol pede greves também em outros setores
Érika Hilton foi outra deputada do Psol a exortar a paralisação. Ela, que se apresenta como mulher trans, pediu que outras categorias fizessem o mesmo.
“Todo meu apoio à greve dos funcionários do Metrô, da CPTM e da Sabesp”, afirmou Érika. “A reação dos trabalhadores das estatais é necessária e pelo bem de todo o Estado de São Paulo, assim como a dos estudantes, docentes e técnicos-administrativos das universidades estaduais.”
Para ela, a política de privatização iria dilapidar o patrimônio. O governador, porém, ressaltou que as atuais linhas privatizadas têm oferecido um serviço eficiente — inclusive, funcionam normalmente nesta terça-feira. Além de ter sido claro, durante a campanha ao governo, em relação ao seu projeto de privatização destes serviços.
“A privatização foi decidida nas urnas”, disse o governador, sobre sua vitória nas eleições, o que rechaça qualquer possibilidade de plebiscito relativo às privatizações, pleiteado por partidos de esquerda.
Outros dois deputados federais do Psol, Sâmia Bonfim, e o experiente Ivan Valente elogiaram a postura dos grevistas. Pela manhã, muitos deles desobedeceram ordem judicial ao interromperem osserviços também nos horários de pico. A Justiça havia determinado que os serviços teriam de ser oferecidos nestes períodos.
O TRT havia concedido, na sexta-feira 29, liminares ao Metrô e à CPTM que determinavam a operação de 100% dos serviços no horário de pico (6 às 9 horas e das 16 às 19 horas) e de 80% nos demais horários, com multa de R$ 500 mil para cada um dos sindicatos em caso de descumprimento. Na Sabesp, a taxa de trabalhadores em serviço deve ser de 85% e a multa, de R$ 100 mil.