Tenente da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Marco Teixeira, comandante da 3ª Companhia de Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) do Batalhão de Choque, disse à Justiça Federal que militares do Exército largaram os escudos e correram durante a invasão ao Palácio do Planalto no 8 de Janeiro. “Tive de grudar pela farda e mandar voltar”, relatou.
No depoimento em vídeo, obtido pela coluna, Teixeira afirmou que ele e seus homens chegaram a “lutar pela própria vida” ao brigar com extremistas nas imediações do Congresso Nacional. E que, em número reduzido e já sem equipamentos, recorreram em vão a militares das Forças Armadas.
“Fomos repelidos até a primeira guarita do Palácio do Planalto, onde havia um pelotão do Exército. Estávamos em frangalhos e pedimos a intervenção deles. Inicialmente, recebemos uma resposta negativa”, relatou.
O policial afirmou que, apenas após extremistas pularem os gradis em direção ao Planalto, o Exército começou a atuar em conjunto com a PMDF. Teixeira disse que militares das Forças Armadas chegaram a fugir por conta das bombas de gás lacrimogêneo.
“Chegou ao extremo de eu e outros policiais encostarmos o rosto na parede, para conseguir respirar. Os militares do Exército, talvez por não terem treinamento, em duas ocasiões largaram o escudo e correram. Nós (policiais militares) precisamos grudá-los literalmente pela farda e mandá-los voltar”, relatou.
Teixera afirmou que, em dado momento, ante o despreparo de homens do Exército, ele próprio chegou a comandar a tropa das Forças Armadas.
“Eu percebi que eles não estavam conseguindo lidar com a situação. Em determinado momento, eu assumi o comando do pelotão do Exército sem oposição do oficial que estava à frente. Teve até um vídeo que circulou em que o subtenente Beroaldo fala para ele:
‘Comanda a sua tropa, larga de frouxura’.
Eu apareço também nesse vídeo, dando orientações e comandos para a tropa do Exército”, afirmou Teixeira. Como mostrou a coluna, o Plano Escudo, protocolo de defesa do Palácio do Planalto, foi ignorado pelo general Gonçalves Dias, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
“Lutamos por nossas vidas”
Ainda no relato feito ao juiz Roberto da Silva Freitas, Teixeira afirmou que, no auge do conflito, ele e colegas de farda chegaram a “lutar por suas vidas”. O depoimento foi dado em julgamento que inocentou o policial de lesão corporal leve por aplicar uma rasteira em uma manifestante extremista.
“Esses vândalos do Congresso, que estavam na cúpula, ignorando os tiros de elastômero e etc, começaram a atacar esses atiradores. Alguns escudeiros voltaram e nós entramos, literalmente, em um momento em que nós lutamos pela nossa própria vida. Todos nós sendo agredidos com barras de ferro. Tem vídeo disso.
Em determinado momento, o delta da cúpula se estreita e alguns policiais foram arremessados da cúpula do Congresso. E nós retraímos. Tomamos uma surra, Excelência, não me orgulho. Mas para o senhor ter noção do nível a que as coisas chegaram, eu cheguei ao ponto de atirar pedras nos manifestantes. Eu não tinha nada a não ser a minha pistola”, disse Teixeira.
Segundo o policial, a rasteira foi dada numa manifestante que se recusou a ser algemada após invadir o Palácio do Planalto. “Se permitíssemos que ela se evadisse do local sem que fosse detida, outros vândalos poderiam querer tratamento igual.
O objetivo do golpe de imobilização, da rasteira ou banda, como queira chamar, era imobilizar para algemar. No momento em que ela cai, ela é algemada. Ponto. Não prossegue nenhum tipo de agressão. O objetivo da ação foi alcançado”.
Posição do Exército
A coluna conversou com um general da cúpula do Exército, a par do assunto, sobre o relato de Marco Teixeira. Sobre a falta de cooperação quando o policial pediu socorro, a avaliação é que, de fato, os sentinelas do Exército que guardavam a guarita do Palácio do Planalto não tinham ordens para deixar o local e auxiliar a PMDF.
Sobre a fuga de militares do Exército após a invasão pelos vândalos, pontuam que os homens não contavam com máscaras contra gás lacrimogêneo e que, portanto, a fuga pode ter ocorrido por necessidade.
Já sobre o fato de Marco Teixeira ter “comandado” a tropa do Exército no Palácio do Planalto, generais vêm a declaração como um certo exagero.
“Houve de fato uma cooperação, com a PMDF auxiliando. Mas daí para ‘assumir o comando’, é uma questão de retórica”, pontuou o general.