Aumentou entre executivos do mercado financeiro a avaliação de que a política econômica do governo está caminhando na direção errada. O grupo que compartilha desse pensamento era de 53% em julho e agora representa 72% dos entrevistados em pesquisa da série Genial/Quaest realizada com 87 executivos e economistas de fundos de investimentos com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro. Já o percentual dos que consideram que a política econômica do governo está no rumo certo caiu de 47% para 28% em dois meses.
A piora na avaliação dos executivos em relação a esse aspecto resulta também num aumento da insatisfação com o desempenho do governo Lula como um todo. O percentual dos que avaliam a gestão como “positiva” recuou de 20% para 12% em dois meses. Já a taxa de avaliações negativas oscilou na direção oposta, de 44% para 47%. Outros 41% veem o governo como “regular”.
O trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que havia atingido em julho seu patamar de aprovação mais alto (65%), agora é considerado “positivo” por 46% dos entrevistados. A taxa de insatisfação saltou de 11% para 23% desde então, enquanto as avaliações “regular” passaram de 24% para 31%.
As avaliações no mercado de capitais se dividem em relação às expectativas para a economia do país para os próximos 12 meses: 36% acreditam que haverá melhora, enquanto 34% preveem deterioração do cenário econômico e 30% acham que as coisas seguirão como estão. Em julho, mais da metade se dizia otimista, enquanto 21% afirmavam esperar um quadro pior.
O levantamento permite identificar nas políticas fiscais do governo Lula um fator-chave para a piora das avaliações no mercado financeiro. Nesse núcleo, 57% consideram que a falta de uma política fiscal que funcione é o que mais atrasa o avanço econômico do país — em julho, eram 45% os que faziam essa afirmação. Quase a totalidade dos executivos ouvidos (95%) diz não acreditar que o governo será capaz de zerar o deficit fiscal no ano que vem, como proposto por Haddad no Orçamento enviado ao Congresso.
As propostas apresentadas para se alcançar essa meta também não convenceram os executivos. Ainda que a taxação dos fundos exclusivos, a taxação de offshores e o fim da dedutibilidade dos juros sobre capital próprio venham a ser aprovadas pelo Legislativo, 86% consideram que as medidas não seriam suficientes para levar o governo a registrar deficit fiscal zero em 2024.
Relação do governo com o Congresso e novo PAC
Só 20% das pessoas no mercado financeiro veem o governo Lula com “alta” capacidade de aprovar sua agenda no Congresso Nacional, contra 27% que a consideram “baixa” e 53% que a veem como “regular”.
Sobre o impacto do embarque do PP e do Republicanos na base de apoio do governo, há divisão nas opiniões dos executivos, com inclinação favorável aos que acham que isso aumentará a capacidade de aprovação de projetos do governo (56%, contra 44% que acham que não haverá mudança).
Perguntados sobre o novo PAC anunciado pelo governo com investimento de R$ 1,7 trilhão, a maioria dos executivos (71%) diz classificar a proposta como “negativa”, sendo que 85% acham que o valor anunciado é “inadequado” e 86% dizem que esse investimento não fará o Brasil crescer.
A pesquisa foi realizada entre 13 e 18 de setembro a partir de entrevistas online com gestores, economistas e analistas do mercado financeiro.
O Globo