Ex-presidente do clube fez viagens particulares e de lazer para destinos turísticos e em períodos de festas
O ex-prefeito de Belo Horizonte e candidato ao Governo do Estado de Minas Gerais, Alexandre Kalil (PSD), teria usado ao menos R$ 803 mil (em valores corrigidos) do Clube Atlético Mineiro para viajar com a família para comemorações em Dubai, cidade dos Emirados Árabes Unidos, e em viagens de lazer para outros destinos turísticos. Os gastos foram registrados no período em que ele foi presidente do clube, entre os anos de 2008 e 2014.
A CNN teve acesso a documentos de uma auditoria feita no clube que identificou diversas trocas de mensagem que indicam que a agência de viagens utilizada pelo clube na época, a Turismo Universal Ltda (Unitour), intermediava a compra de passagens e gastos de hospedagem em viagens de dirigentes que, “aparentemente, não estavam relacionadas a atividades do Clube”, segundo o documento.
A auditoria identificou dez viagens que teriam sido realizadas por Alexandre Kalil, ex-presidente do clube, e seus familiares, que não aparentam possuir relação com as atividades como dirigente do Atlético Mineiro.
O levantamento de informações cruzou as datas e locais das viagens indicadas para verificar se havia relação com partidas do Atlético Mineiro fora de Belo Horizonte.
Em todos os casos apontados, as datas e locais não coincidiram com as atividades da equipe profissional de futebol.
Entre os destinos visitados por Kalil ou pessoas ligadas, sob a responsabilidade do clube de futebol, estão as cidades de Dubai, Nova Iorque, Paris e Londres. Viagens de férias para o Rio de Janeiro e para Aruba – ilha caribenha – e para a África do Sul também são apontadas no documento.
De acordo com o levantamento, Kalil embarcou com mais uma pessoa para passar as festas de fim de ano em Dubai, durante a virada de 2010 para 2011. O roteiro também incluiu uma ida ao Líbano e custou mais de R$ 200 mil entre hospedagens e passagens, de acordo com dados de contabilidade do clube mineiro.
Outras viagens de lazer também foram apontadas no relatório. Aruba, teria sido o destino favorito de Kalil nos anos em que foi presidente do Atlético Mineiro. Ao todo, foram três viagens para ele e familiares.
As compras de passagens e a viabilização de hospedagens teriam sido feitas via a agência utilizada pelo clube de futebol, que pagou R$ 193 mil reais.
As viagens de final de ano de 2012 e 2013 também foram feitas via agência do clube de futebol. Hospedagens para duas pessoas em um hotel luxuoso do Rio de Janeiro foram faturadas em R$ 61 mil no primeiro ano.
Já no ano seguinte, o destino escolhido para o Réveillon foi a África do Sul. Os valores das passagens não foram identificados no relatório, mas somente com hospedagem, os gastos chegaram a R$ 151 mil.
Aumentos com despesas de viagens
A documentação analisada pela reportagem mostra que entre 2009 e 2012, a média de gastos com viagens do clube foi de R$ 1, 9 milhão. Entretanto, a partir de 2013 as despesas com viagens aumentaram em mais de três vezes em relação ao ano anterior, passando para R$ 6, 9 milhões.
O relatório apontou que “o aumento não pode ser atribuído a eventuais variações cambiais ocorridas no período” – segundo o documento.
Outro ponto destacado na auditoria é que 27% do total de despesas reconhecidas com viagens não tiveram o suporte de notas fiscais.
“Os pagamentos realizados em cartões de créditos corporativos e/ou por meio de reembolso de despesas arcadas pelos próprios funcionários”, diz o relatório.
Resposta
Procurado via assessoria de imprensa, Alexandre Kalil enviou a seguinte nota:
“Foi feita uma auditoria da Kroll no Atlético. Depois dessa auditoria, uma verdadeira caça às bruxas, recebi da atual gestão uma carta [que segue abaixo] dizendo que nada foi encontrado de errado na minha administração. Fico horrorizado que em um momento de desastre como esse, a emissora de um dos dirigentes do clube venha levantar coisa de 10 anos atrás. Lamento profundamente que, neste momento de grande tristeza para a torcida, estejam procurando fantasmas do passado. Me espanta mais ainda que a única administração investigada foi a minha e que a do ex-presidente Ricardo Guimarães, que levou o Atlético à segunda divisão, nunca tenha sido olhada”.
A assessoria de Kalil também enviou o teor do que ele diz ser uma carta assinada pela atual presidência do Atlético Mineiro, datada de 3 de fevereiro de 2021.
O texto diz que “tanto o Conselho Deliberativo quanto o Conselho Fiscal receberam cópias do aludido relatório de auditoria sem que houvesse, a nosso sentir, no entanto, qualquer conclusão da auditoria no sentido da existência de fato eventualmente irregular relativo a atos de Vossa Excelência [Kalil] que justificasse a instauração de procedimento interno de verificação”.
A CNN entrou em contato com o Atlético para confirmar a autenticidade da carta, mas ainda não obteve retorno. A reportagem também procurou a Unitour e até o momento não obteve resposta.