Percentual era de 27% há um ano, mostra pesquisa ‘A Cara da Democracia’
A taxa dos que afirmam “confiar mais ou menos” no Exército, na Marinha e na Aeronáutica variou de 30% para 33% no período, enquanto a dos que declaram não confiar “nem um pouco” nas Forças Armadas oscilou na direção oposta: passou de 26% para 30%.
A mudança na percepção pública sobre uma das instituições fundamentais para a estabilidade do país ocorre em meio a controvérsias que rondaram os quartéis nos últimos meses, o que passa diretamente pelo envolvimento de militares em questões políticas e pela proximidade desse grupo com tramas golpistas.
Uma das figuras que ilustram o primeiro cenário é o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Cid foi preso em maio por suposta fraude no cartão de vacinação do ex-mandatário e é investigado sob suspeita de envolvimento na compra e venda ilegal de presentes oficiais dados a Bolsonaro no exterior.
No ano passado, o governo Bolsonaro convocou as Forças Armadas, a partir do Ministério da Defesa, para integrarem uma comissão de fiscalização das eleições. Um relatório elaborado pelos militares reconheceu, após o segundo turno do pleito presidencial, que não havia evidências de fraudes nas urnas, mas deixou em aberto a possibilidade de irregularidades, sem apresentar indícios concretos.
A derrota de Bolsonaro nas urnas levou uma parcela de seus apoiadores a acampar em frente a quartéis do Exército na esperança de uma intervenção que pudesse reverter o resultado eleitoral. Esse movimento culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro, seguida pela demissão do então comandante do Exército, general Júlio César Arruda.
A pesquisa “A Cara da Democracia” também indica que decaiu o nível de confiança da população em outras instituições-chave para o funcionamento da democracia no país. O Supremo Tribunal Federal (STF) e a Justiça Eleitoral tiveram resultados piores no novo levantamento do que no anterior.
A pesquisa “A Cara da Democracia” foi feita com 2.558 entrevistas presenciais de eleitores em 167 cidades, de todas as regiões do país, entre 22 e 29 de agosto. O levantamento é financiado pelo CNPq, Capes e Fapemig e é feito pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), que reúne pesquisadores das universidades UFMG, Unicamp, UnB e Uerj. A margem de erro é estimada em dois pontos percentuais para mais ou menos e o índice de confiança é de 95%.
O Globo