O jogador Antony, do Manchester United, que disputou a última Copa do Mundo pela seleção brasileira, voltou a figurar as páginas policiais no início desta semana, após novas informações sobre as supostas agressões contra a ex-namorada, Gabriela Cavallin, vierem a público.
Em maio deste ano, a DJ e influenciadora abriu um boletim de ocorrência na 5ª delegacia da mulher, em São Paulo, contra o atleta.
“O caso segue em trâmite com a realização de oitivas das testemunhas. Os detalhes do inquérito serão preservados devido ao sigilo decretado nos autos”, informa a SSP (Secretária de Segurança Pública do estado).
O jogador também é investigado pela Polícia de Manchester, já que parte das agressões teriam ocorrido na cidade, e foram denunciadas por Cavallin. Uma delas, no início de janeiro, em um hotel da cidade, em que ela alega ter sido socada e ter recebido uma cabeçada do jogador.
“A Greater Manchester Police está ciente das alegações feitas e as investigações continuam em andamento para estabelecer as circunstâncias que cercam este relatório. Não comentaremos mais nada neste momento”, diz a corporação em nota.
Com o avanço das investigações, como fica a situação de Antony, perante a justiça brasileira e inglesa? Em caso de condenação em seu país natal? Ele pode ser extraditado? Confira as explicações de especialistas ouvidos pela reportagem.
“Caso ele seja condenado no Brasil e não se apresente para cumprir pena, o governo brasileiro deverá requerer sua extradição para que aqui cumpra pena. É importante lembrar que o Brasil não extradita ao estrangeiro brasileiro nato, porém, pode pedir que um brasileiro nato seja devolvido ao país para aqui cumprir a pena a que foi condenado”, explica o doutor em direito pela USP, Matheus Falivene.
O especialista analisa ainda que há, sim, chance de que ele seja preso. O jogador poderia responder pelos crimes de lesão corporal, violência doméstica, ameaça e violência psicológica contra a mulher.
Alvo da Polícia de Manchester, Antony também pode ser responsabilizado pelos crimes de que é acusado pela ex-companheira no país europeu. Segundo o especialista em direito penal internacional, Acacio Miranda da Silva Filho, isso expande as possibilidades do que pode acontecer com ele.
“Como correu acusações no Brasil e por lá, o país que julgar primeiro faz prevalecer a sua jurisdição”, projeta. “E como correm processos nos dois países, pelos fatos terem sido praticados em ambos, cada decisão será aplicada isoladamente na sua jurisdição”.
Outro fator que pode prejudicar a defesa de Antony, como explica Acacio, é o fato do Reino Unido adotar o sistema “common law” (lei em comum, na tradução), em que os casos julgados são baseados em decisões anteriores.
As imagens das agressões no corpo de Gabriela, anexadas ao processo, e que se tornaram públicas, também jogam contra o jogador, pois dá materialidade as denúncias.
“Lá também há uma tendência pela condenação do autor, especialmente em casos em que há robustez de provas”, completa Acacio.
Relembre o caso
Gabriela e Antony se conheceram em 2020, quando o jogador, que na época jogava pelo Ajax, da Holanda, passava férias no Brasil.
A princípio, se tratava de um caso extraconjugal, já que Antony era casado. Após se separar de Rosilenny Batista, mãe do filho do jogador.
No entanto, apesar da relação passar a ser pública, e ambos passarem a morar juntos, na Holanda e em Manchester, a DJ e influenciadora relata que o relacionamento foi marcado por agressões e casos de abuso psicológico.
Gabriela, em entrevista ao Domingo Espetacular, da RecordTV, um mês após a denúncia, relatou a violência das agressões cometidas por Antony, que envolvem agressões físicas e verbais.
“Me segurou pelos dois braços, me jogou na cama e caiu em cima de mim. Nisso, minha prótese de silicone deslocou. Na hora, me deu uma falta de ar que parecia que eu ia morrer”, revela a DJ, pontuando que teve que tomar 40 pontos na parte interna do seio.
Durante o conturbado relacionamento, Gabriela também conta ter sido agredida pelo jogador durante a sua gestação. Cavallini perdeu o bebê após um parto de 30 horas, no que descreveu como “a maior tristeza da vida”.
“Eu nunca tinha sido agredida, nem pelos meus pais. Dentro do carro, ele começou a brigar comigo porque eu estava em uma festa, começou a reclamar, falar que não era meu direito. […] Ele estava me assustando muito, pegando no meu braço, puxando meu cabelo, me chacoalhando, gritando muito, me empurrando contra a porta”, conta.
Durante a entrevista com Roberto Cabrini, Gabriela cita ter sido vítima de diversas ameaças de morte e uma situação de cárcere privado, quando Antony a teria impedido de sair da casa dele, em Manchester, quebrando sua mala e seu celular.
O Manchester United, clube que pagou 86 milhões de libras para contratar o atleta, em setembro do ano passado, ainda não se pronunciou sobre o caso.
Na última segunda-feira (4), o jogador foi desconvocado da seleção brasileira, por conta da repercussão do caso. A CBF optou pela decisão “a fim de preservar a suposta vítima”.
Em nota divulgada em suas redes sociais, Antony assumiu que seu relacionamento era “tumultuado”, mas negou ter agredido Gabriela e diz ser vítima no caso.
“Contudo, posso afirmar com tranquilidade que as acusações são falsas, e que a prova já produzida e as demais que serão produzidas demonstram que sou inocente das acusações feitas. Minha relação com a Sra. Gabriela era tumultuada, com ofensas verbais de ambos os lados, mas jamais pratiquei qualquer agressão física”, escreve o atleta.