Paul Krugman afirma que alta dos preços observada ao longo dos últimos meses está no início de um processo de reversão de tendência
A economia dos Estados Unidos ainda não entrou em recessão, mas existe a possibilidade de que isso venha a ocorrer nos próximos meses. Em um cenário de desaceleração da economia global, o Brasil é um dos emergentes mais bem posicionados para atravessar o período adverso com um pouco mais de resiliência.
A avaliação é de Paul Krugman, economista norte-americano vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2008.
Segundo o especialista, embora dois trimestres consecutivos de queda do PIB (Produto Interno Bruto) sejam utilizados por alguns analistas como o conceito técnico para definir uma recessão, a economia americana ainda não se encontra neste estágio.
Para Krugman, o mercado de trabalho ainda pujante é um sinal de que a recessão ainda não chegou nos Estados Unidos. “Os Estados Unidos ainda não estão em recessão, embora possam entrar nos próximos meses”, afirmou o economista, durante participação no evento FebrabanTech nesta quarta-feira (10), em São Paulo.
Ele reconheceu, contudo, que uma desaceleração no ritmo da atividade econômica na região está em curso, por influência do aperto da política monetária conduzida pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, para combater a persistente pressão inflacionária no país.
Os dados mais recentes de inflação divulgados nesta quarta, afirmou Krugman, podem ser um sinal de que a alta dos preços observada ao longo dos últimos meses está no início de um processo de reversão de tendência.
Os preços ao consumidor ficaram estáveis em julho em comparação com junho, mostrou relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgado nesta quarta, marcando a taxa mensal mais fraca em mais de dois anos, com queda dos preços dos combustíveis.
“A inflação adiante deve se mostrar melhor do que de fato parece ser”, afirmou o economista, acrescentando ser difícil ter uma estimativa a respeito de até quando, e quanto, o Fed irá elevar os juros para trazer a inflação de volta para a meta de 2% ao ano.
De toda forma, a desaceleração da economia americana, somada a uma provável recessão em que a Europa já deve se encontrar neste momento por conta dos reflexos da invasão russa à Ucrânia, indica um ambiente de crise financeira global mais à frente, assinalou Krugman.
Krugman disse também que é difícil fazer uma previsão a respeito de quanto tempo ainda irá durar a guerra no Leste Europeu, mas afirmou que prevê que a Ucrânia sairá vitoriosa contra a Rússia no conflito.
O apoio financeiro e bélico dos países do Ocidente, a motivação das tropas ucranianas, as sanções contra a Rússia e uma potência militar não tão forte como se imaginava sobre o poderio militar russo foram apontados entre as razões que embasam a previsão.
Um dos emergentes menos vulneráveis
Em um cenário de crise econômica global nos próximos meses, Krugman afirmou que o Brasil encontra-se em uma posição privilegiada.
Seja pelo fato de o país ser relativamente autossustentável em relação ao fornecimento de energia, ou por conta do forte viés exportador de commodities agrícolas, que beneficia a região com a alta dos preços das matérias-primas no mercado internacional e do dólar.
O economista afirmou ainda que os impactos da invasão russa na Ucrânia, e a pauta exportadora similar com a brasileira, representa uma oportunidade a ser explorada pelo país.
“O Brasil é um dos emergentes menos vulneráveis em um cenário de crise global, apesar dos problemas domésticos que ele atravessa”, afirmou.
Ele acrescentou que é possível traçar “paralelos óbvios” entre o cenário político do Brasil com o dos Estados Unidos, em uma aparente menção velada aos ataques ao processo democrático promovidos pelo ex-presidente americano Donald Trump e pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Questionado sobre o potencial do bitcoin, o economista afirmou que não enxerga as criptomoedas com potencial para virem a representar uma concorrência real às moedas tradicionais.
O bitcoin já não é um tema tão novo assim no mercado, tendo surgido após a crise financeira de 2008, e, até hoje, ainda não há um uso significativo da criptomoeda para as relações comerciais, disse Krugman.