Violência física, pressão psicológica, tiros de armas de fogo e brutalidade são constantes na vida dos assentados que em algum momento ousaram questionar as ordens do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o MST. Depoimentos obtidos por Crusoé e relatos colhidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito revelam que muitos brasileiros que em algum momento aderiram ao grupo com o intuito de um dia cultivar a própria terra hoje vivem sob um estado de terror e à margem da lei, em que abusos são recorrentes. Há casos de famílias expulsas de suas terras e de casas derrubadas ou entregues para outras pessoas.
Com apoio do Invasão Zero, um movimento dos produtores rurais da Bahia, Crusoé entrou em contato com diversos assentados que vivem sob a tirania do MST. Após escutar seus relatos, é possível ver que há um denominador comum. Todos passaram a despertar a ira do MST após solicitar ou obter um título de domínio. Trata-se do documento que transfere a propriedade da terra ao seu beneficiário, comprovando que aquele lote pertence ao assentado. É o último passo no processo da reforma agrária que deveria acabar com as inseguranças e propiciar uma nova vida. Para muitos assentados, contudo, o título de domínio marca a entrada em um inferno, do qual eles só conseguem se livrar abandonando o lugar.
Domingas Neves de Jesus, de 41 anos, viveu por 13 anos em um assentamento do MST, até ser expulsa de sua propriedade. As ameaças começaram quando ela deu entrada na documentação para conseguir o título de domínio. “Eles passavam soltando fogos, bombas e dando tiros na frente da minha casa, isso acontecia de noite, tanto que a gente teve que sair de dentro da casa de noite e dormir fora com medo de eles atacarem a gente”, contou Domingas.
Com medo dos fogos e tiros, Domingas pegou suas coisas no começo do ano e foi para a casa do filho, no município de Teixeira de Freitas. Nesse mesmo dia, a casa construída com muito suor foi derrubada a mando dos líderes do MST. “O pessoal mandou foto para mim mostrando que minha casa estava derrubada. Deixei minhas criações, transformador, tinham algumas coisas dentro de casa ainda (…) Eles não deixaram eu pegar mais nada e colocaram outra pessoa no meu lote”, relatou Domingas.
Domingas não foi diretamente atacada, embora tenha tido a vida totalmente alterada. Outros tiveram ainda menos sorte. Vanuza dos Santos de Souza participava do Acampamento São João. Em depoimento à CPI do MST, ela relatou como foi expulsa pelo grupo, em 2020, após ir contra a ideologia do movimento.
Vanuza contou que, durante 14 anos, participou de várias invasões a terras públicas e privadas. Nos últimos seis anos, começou a se recusar a participar dessas ações. Com isso, passou a ser perseguida. Foi espancada e amarrada em uma árvore fora do assentamento. Com ela estavam seu filho de 18 anos e a filha de dois. Em um vídeo que foi compartilhado na CPI, Vanuza faz um desabafo em uma delegacia no município de Teixeira, extremo Sul da Bahia. “Isso aí, esse é o resultado da nossa luta pelo documento da terra, pela legalização da terra. Senhor ministro da Justiça, senhor presidente… ou nós temos um país de gente ou nós temos um país de animal irracional (…) eu fui uma das pessoas que pediu à força nacional para poupar minha vida, eu posso não morrer agora, estou toda machucada, estou toda chutada”.
Os depoimentos também mostram que as famílias que moram nos assentamentos e discordaram do grupo vivem sob um medo constante. Em um vídeo gravado por moradores no Assentamento Rosa do Prado, onde vivem 250 famílias, um homem com boné do MST ameaça os demais. Ele diz que aqueles que tinham se aproximado de Liva teriam de pagar as consequências. Liva era um ex-membro do MST que começou a ajudar as famílias a conseguir seu título de domínio.
“Diariamente nós somos ameaçados. Eu sou ameaçado, o Liva é ameaçado“, disse a Crusoé Carlos Sérgio dos Santos Oliveira, 42 anos, agricultor do Assentamento Rosa do Prado. “A gente peitou eles, a gente não aceita mais as ideologias do MST. Eu encaro mesmo, eu quero prezar pela verdade. A gente não aceita mais esse povo aqui” (…) “Teve um líder deles que veio aqui no meu terreno me ameaçar, dizendo que quem tivesse com Liva não ia ficar, dizendo que quem mandava ali era o MST.”
A mesma realidade tem sido observada em todo o país. “Pessoas que foram ouvidas e relatos enviados à CPI dão conta de tratar-se a ‘disciplina’ de prática corrente nos acampamentos e assentamentos, em todas as regiões do Brasil. Deputados dos mais variados Estados trouxeram casos assim, demonstrando o modus operandi do MST e afins”, diz o deputado federal e relator da CPI do MST, Ricardo Salles (PL-SP).
No reinado de terror do MST, as leis do país não valem nada. Violações de direitos humanos ocorrem sem uma reação das autoridades. Tanto Domingas como Carlos, entrevistados por Crusoé, afirmaram terem trabalhado como escravos para o MST. Segundo eles, essa prática ocorre em todos os assentamentos. “Lá a gente fazia trabalho escravo, era trabalho coletivo, a gente não ganhava nada, tínhamos que trabalhar na roça para eles [MST]. Nós éramos obrigados a trabalhar, se a gente não trabalhasse eles expulsavam a gente”, diz Domingas.
Carlos Sérgio conta uma história parecida. “Aqui todo mundo era obrigado, duas vezes por semana, a fazer trabalho coletivo para eles [MST], mas nesse coletivo, se você não fosse, você tinha que pagar. Hoje a diária de trabalho braçal aqui está por volta de 60 reais, se você não fosse tinha que pagar o valor da diária para eles. Era obrigado a fazer esse trabalho coletivo, seja para plantar, capinar etc. Eles não pagavam nada por esse trabalho. Hoje nós somos contra a escravidão do MST. O MST sempre escravizou o povo para se beneficiar, quanto mais o assentado é miserável, melhor para eles. Eles usam o povo como massa de manobra, para ser palanque político, na política eles obrigam você votar para o candidato deles. O candidato deles mesmo é o (deputado federal) Valmir Assunção, todo mundo é obrigado a votar nele, ou você vota ou você perde a terra”, diz o assentado.
Ao experimentar essa brutalidade, muitos dos assentados que antes tinham uma visão positiva do movimento passaram a ter repulsa pelos seus integrantes e pelas suas ideias. “Esse MST tem que ter fim. O que eles fazem não é reforma agrária, o que eles fazem é escravizar o povo”, diz Carlos Sérgio.
Fonte: Crusoé.