Por mais de meio século, os produtores rurais americanos dominaram o mercado internacional de milho, crucial para a alimentação de rebanhos e fabricação de alimentos processados em todo o mundo.
Não mais. No ano-safra que se encerrou nesta quinta-feira, os EUA entregaram a coroa de principal exportador de milho para o Brasil e podem nunca mais recuperar este título.
Os EUA foram responsáveis por cerca de 23% das exportações globais de milho no ano-safra que se encerra este mês, enquanto o Brasil respondeu por quase 32%, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA.
E o país deve manter a liderança no ano-safra que se inicia em setembro.
Em dados que remontam ao governo Kennedy no início dos anos 1960, os EUA só haviam saído do primeiro lugar por um único ano, em 2013, após uma seca devastadora. Foi também em 2013 que o Brasil assumiu a liderança definitivamente nas exportações globais de soja.
Uma série de fatores nos EUA contribuíram para o Brasil passar à frente: custos crescentes, escassez de terras agrícolas, impactos duradouros da guerra comercial que o ex-presidente Donald Trump travou com a China e um dólar forte, que é desfavorável às exportações.
Os EUA hoje respondem por cerca de um terço das exportações globais de soja, um distante segundo lugar atrás do Brasil.
No caso do milho, cerca de 40% da produção americana abastece usinas de etanol, e essa demanda está em risco com o avanço dos veículos elétricos.
O Brasil, por outro lado, investiu para melhorar a infraestrutura portuária e logística e, com o clima mais quente, obtém duas colheitas de milho por ano. O país também se beneficia de boas relações com a China.
No ano passado, a potência asiática assinou um acordo de compra de grãos brasileiros para reduzir sua dependência dos EUA e substituir o fornecimento da Ucrânia cortado pela invasão russa.
O primeiro embarque de milho do Brasil sob o novo acordo partiu em novembro. Em julho, a China já foi o principal destino dos embarques de milho do Brasil, com compra de 902 mil toneladas.
A interdependência com a China também se estende a investimentos em infraestruturas e tecnologia que fortalecem ainda mais os vínculos dos dois países, membros fundadores do Brics.
– Não parece provável que as relações diplomáticas dos EUA com a China melhorem muito no curto prazo, o que, gostemos ou não, deixará a agricultura dos EUA em desvantagem – disse Even Pay, analista agrícola da Trivium China, uma consultora política em Pequim.
O Globo