Prestes a oficializar a entrada do Republicanos no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia entregar a um nome indicado pelo partido o comando do Porto de Santos, maior complexo portuário da América Latina e rota de entrada e saída de cerca de um terço das transações comerciais do Brasil. A equipe de articulação do Planalto entende que a nomeação poderia aplacar a insatisfação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com a adesão de sua sigla à gestão petista.
Pelo cálculo de auxiliares de Lula, se o Republicanos assumir o Ministério de Portos e Aeroportos com o deputado Silvio Costa Filho (PE), como previsto, o governador paulista pode ser chamado a participar da indicação do novo presidente do porto, que é vinculado à pasta. Quando Tarcísio era ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro, o porto ficava sob o seu guarda-chuva.
O então ministro chegou a elaborar um plano para privatizar o terminal e encaminhou uma minuta do edital de concessão para o Tribunal de Contas da União (TCU). Como governador de São Paulo, Tarcísio manteve o projeto e conversou com Lula e com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, sobre o tema. Porém, relatou ter encontrado as portas fechadas com o atual titular da pasta, Márcio França (PSB), que se declarou contrário a desestatizar o terminal portuário.
Segundo interlocutores do governador ouvidos pelo GLOBO, Tarcísio avalia que a privatização do porto está travada por questão política, que pode ser revertida. Seu argumento é que a venda do terminal pode trazer recursos para a região. A estimativa é que seriam gerados R$ 20 bilhões em investimentos para a Baixada Santista.
Apontado como herdeiro político de Bolsonaro e cotado para disputar a Presidência em 2026, contudo, Tarcísio avalia que a entrada do Republicanos na base de Lula pode prejudicar seu discurso de oposição. Ao comentar a possibilidade durante um evento no dia 9, o governador não descartou deixar a legenda se a entrada da sigla no governo for concretizada. Neste caso, disse que iria “avaliar a situação com o partido”. Na época, a destinação do Ministério de Portos e Aeroportos para o Republicanos era apenas uma possibilidade.
De acordo com aliados, o governador não mudará a sua posição em relação à adesão do seu partido ao governo federal. Porém, esses mesmos nomes reconhecem que para ele é interessante ter um integrante de sua legenda no comando do ministério que cuida do Porto de Santos, tema considerado “muito caro” a ele.
O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, desconversa sobre a possibilidade de Tarcísio deixar a sigla e afirma que, mesmo que integrantes de seu partido assumam cargos no governo, o partido não poderá ser considerado aliado ao Planalto.
— Mesmo que Lula convide Silvio (Costa Filho), o partido seguirá independente — disse Pereira.
Embate com França
Se o Republicanos assumir o Ministério de Portos e Aeroportos, hipótese vista como muito provável no Planalto, aliados de Tarcísio afirmam que deve intensificar as articulações para privatizar o terminal. A avaliação é que a oposição de França à ideia é maior do que a de Lula.
O atual ministro, que na semana passada conversou com o presidente sobre a sua eventual saída da pasta de Portos e Aeroportos, tem a sua base política na Baixada Santista. França foi prefeito de São Vicente, cidade vizinha a Santos, por dois mandatos e governou São Paulo entre abril e dezembro de 2018. Ele não descarta a possibilidade de voltar a concorrer ao comando do estado, o que poderia colocá-lo como eventual adversário de Tarcísio em 2026 (caso o atual chefe do Executivo paulista concorra à reeleição).
Para presidir o Porto de Santos, França nomeou o advogado Anderson Pomini, um de seus aliados mais próximos. O atual ministro lançou, inclusive, a proposta que o porto assuma a construção de um túnel para ligar Santos ao Guarujá. Hoje, essa travessia é feita por balsa. A obra, orçada em mais de R$ 5 bilhões, foi incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) lançado por Lula no início do mês.
Dentro do governo, articuladores políticos do Planalto dão como certa a saída de França de Portos e Aeroportos. A ideia é realocá-lo em outra pasta. Entre as possibilidades estão Ciência e Tecnologia ou o Ministério da Micro e Pequena Empresa, que o governo ainda estuda criar. A reforma ministerial só será concretizada quando Lula voltar de sua viagem à África, neste domingo.
O Globo