Ex-presidente dos EUA e 18 aliados políticos foram indiciados na semana passada, acusados de participar de um amplo esquema criminal cujo objetivo era mudar ilegalmente o resultado da eleição vencida por Joe Biden em 2020
O ex-presidente dos EUA Donald Trump se apresentou nesta quinta-feira, 24, à Justiça em uma prisão do condado de Fulton, na Geórgia, onde será autuado por 13 acusações criminais por seus esforços para tentar reverter sua derrota nas eleições de 2020 no Estado.
Diferentemente das outras quatro vezes que se entregou às autoridades, Trump teve uma fotografia policial tirada ao ser fichado. Em resposta, o xerife do condado de Fulton, Pat Labat, disse que Trump seria tratado como qualquer outra pessoa.
Nos casos anteriores, as autoridades optaram por não fazer a fotografia por temores de que ela fosse utilizada por apoiadores do ex-presidente. Trump, que é o favorito nas primárias presidenciais republicanas de 2024, afirma ser vítima de uma caça às bruxas pela Justiça.
Ao contrário das suas apresentações anteriores, que aconteceram em tribunais pouco antes das primeiras aparições perante um juiz, desta vez ele se entrega em uma prisão famosa por ser superlotada e insalubre.
A instalação é frequentemente citada em letras de rap e objeto de uma investigação do Departamento de Justiça sobre condições.
Acusações contra o ex-presidente e aliados
Trump e 18 aliados políticos foram indiciados na semana passada, acusados pela promotora distrital do condado de Fulton, Fani Willis, de participar de um amplo esquema criminal cujo objetivo era mudar ilegalmente o resultado da eleição vencida por Joe Biden em 2020. Muitos dos outros acusados no caso se entregaram no início desta semana, incluindo Rudy Giuliani, Sidney Powell e Jenna Ellis na quarta-feira, 23, e John Eastman na terça-feira, 22.
Assim como os outros acusados que se entregaram à Justiça, Trump foi liberado após o pagamento de uma fiança, fixada em US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão). Um agente de fiança da Foster Bail Bonds em Lawrenceville, Geórgia, confirmou que Trump usou seus serviços para pagar sua fiança antes de ser preso hoje na Geórgia.
Seu último chefe de gabinete, Mark Meadows, também se apresentou ontem e foi liberado após pagar fiança de US$ 100 mil (R$ 500 mil). Outro acusado, Harrison Floyd, ficou detido porque não foi favorecido com a liberdade sob fiança.
Um dia antes de partir para Atlanta, Trump adotou um tom desafiador em uma postagem nas redes sociais. “Serei orgulhosamente preso amanhã à tarde na Geórgia”, escreveu ele. “Deus abençoe os Estados Unidos da América!!!”
Uma enxurrada de ações legais foi apresentada horas antes de seu comparecimento, com a promotora do condado de Fulton, pedindo que o julgamento fosse marcado para 23 de outubro. Trump, se opõe a essa data indicando que quer que o processo se mova mais devagar.
Enquanto Trump viajava de New Jersey para Atlanta, o juiz Scott McAfee, do Tribunal Superior do Condado de Fulton, aprovou a moção de um dos réus do caso, Kenneth Chesebro, para um julgamento rápido, marcando a data de início para 23 de outubro. A decisão, porém, não impacta os demais réus.
Por preocupações de segurança, as duas entradas da prisão foram fechadas para o trânsito desde a manhã, com exceção dos veículos da polícia.
Horas antes de se apresentar, Trump trocou o seu advogado do caso, substituindo Drew Findling por Steven Sadow, em uma decisão que ainda não foi explicada.
No passado, Sadow criticou a lei contra o crime organizado usada pela promotora Fani Willis para indiciar coletivamente os 19 réus, uma norma que prevê penas de cinco a 20 anos de prisão.
Sadow é um advogado veterano de defesa criminal que assumiu uma série de casos de notoriedade. Ele já representou clientes de rap, incluindo T.I., Rick Ross e o cantor Usher.
Os 19 acusados têm até meio-dia local (13h00 de Brasília) de hoje para se entregarem às autoridades. Eles devem retornar ao tribunal na semana de 5 de setembro para se declararem culpados ou não.
Trump é alvo de quatro acusações criminais, duas em nível federal, em Washington e na Flórida, uma no Estado de Nova York e esta na Geórgia.
Cada processo, no entanto, rende para ele milhões de dólares em doações, feitas por apoiadores convencidos de que ele é vítima de uma caça às bruxas.
A apresentação de Trump ocorreu após o primeiro debate para as primárias republicanas, realizado na noite de ontem em Milwaukee, Wisconsin, ao qual o magnata considerou desnecessário comparecer, dada a sua liderança nas pesquisas.
Em vez disso, o empresário deu uma entrevista ao ex-apresentador da Fox News Tucker Carlson, que foi ao ar na rede social X (antigo Twitter) ao mesmo tempo em que o debate era exibido.
“Por que deveria ficar ali por uma hora ou duas sendo assediado por pessoas que sequer deveriam ser candidatos presidenciais?”, interrogou, ao justificar sua ausência.
Apesar da ausência, Trump roubou as atenções do debate, e quase todos os pré-candidatos, com exceção de dois, disseram que apoiariam sua candidatura republicana mesmo que seja condenado.
Na noite da quinta-feira, Trump utilizou pela primeira vez desde 2021 a rede social X, plataforma anteriormente conhecida como Twitter, para compartilhar uma imagem de sua foto após sua autuação no condado de Fulton, Geórgia. A conta de Trump havia sido suspensa após o infame ataque ao Capitólio americano em 6 de janeiro de 2021.
No seu mandato na Casa Branca, Trump utilizou o Twitter de forma continua para compartilhar com seus seguidores todo tipo de conteúdos: desde informações sobre suas decisões como presidente até ataques políticos a seus adversários.
O ex-presidente publicou primeiro a foto na rede social Truth Social, uma plataforma na qual ele tem participação financeira. /AP, AFP e NYT