Um estudo inédito na Europa revelou que os canudos de papel — apontados como a solução para o problema do plástico no meio ambiente — podem conter compostos químicos associados a alguns tipos de câncer, doenças da tireoide, aumento do colesterol e outros problemas de saúde.
Pesquisadores da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, analisaram 39 marcas de canudos “eco friendly”. Eles eram feitos de cinco materiais: papel, bambu, vidro, aço inoxidável e plástico.
As amostras foram obtidas em lojas, supermercados e restaurantes de fast-food. Todas foram submetidas a duas rodadas de testes em busca de PFAS (família de substâncias perfluoroalquiladas que inclui milhares de compostos químicos), também chamados de “produtos químicos eternos”.
Em um artigo publicado na quinta-feira (24) na revista científica Food Additives and Contaminants, os cientistas afirmaram que 27 das 39 marcas (69%) continham PFAS, e foram detectados 18 tipos.
Em 90% dos canudos de papel submetidos à análise havia PFAS. Em seguida apareceram os canudos de bambu (80%), de plástico (75%) e de vidro (40%). Os de aço inoxidável não continham as substâncias.
A PFAS mais comumente encontrada, o PFOA (ácido perfluoroctanoico), está proibida globalmente desde 2020.
“Canudos feitos de materiais à base de plantas, como papel e bambu, frequentemente são anunciados como sendo mais sustentáveis e ecologicamente corretos do que aqueles feitos de plástico. […] No entanto, a presença de PFAS nesses canudos significa que isso nem sempre é verdade”, comenta o cientista ambiental Thimo Groffen, que integrou o time de pesquisadores.
O PFOA é usado em uma série de produtos, principalmente antiaderentes, e pode se acumular no ambiente e no corpo humano.
Autoridades sanitárias e ambientais dos Estados Unidos e da Europa associaram o PFOA a uma série de doenças, incluindo:
• doenças cardíacas: o PFOA pode aumentar o risco de doenças cardíacas, como infarto e acidente vascular cerebral;
• câncer: o composto tem sido associado a um aumento do risco de câncer, incluindo de fígado, rim, testículo e tireoide;
• problemas de desenvolvimento: a substância pode afetar o desenvolvimento fetal e infantil, levando a déficits de aprendizagem, desequilíbrio hormonal e outras complicações;
• problemas de reprodução: o PFOA pode afetar a fertilidade e causar problemas de gravidez, como aborto espontâneo e parto prematuro.
Embora as concentrações de PFAS encontradas tenham sido baixas e a maioria das pessoas use canudos ocasionalmente, não há um risco significativo imediato, mas o pesquisador faz uma ressalva.
“Pequenas quantidades de PFAS, embora não sejam prejudiciais em si mesmas, podem somar-se à carga química já presente no corpo.”
Outro ponto levantando é o fato de esses canudos com PFAS serem descartados no ambiente.
“O comportamento das PFAS no meio ambiente significa que elas tendem a poluir os lençóis freáticos e a água potável, o que é difícil e caro de remediar. Certas PFAS são conhecidas por se acumular em pessoas, animais e plantas e causar efeitos tóxicos”, explica a Agência Europeia de Substâncias Químicas.
R7