Os 180 passageiros que embarcaram no Egito rumo ao Porto esperavam uma viagem tranquila. Afinal, este era para muitos o final de umas merecidas férias. Só que em pleno ar, já nos últimos minutos da viagem, as férias transformaram-se num pesadelo a bordo do voo charter 4S3501 da Red Sea Airlines. Agora, vários passageiros procuram uma resposta por parte da companhia — tudo para perceber o que provocou o incidente que podia ter terminado em tragédia.
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Tudo começou com um atraso de 11 horas. O avião — um Boeing 737-800 com 17 anos — devia ter partido do aeroporto de Hurghada por volta das 9 horas de segunda-feira, 7 de agosto, mas só levantou voo pelas 20h05. O voo estava aparentemente a correr de forma tranquila, até que cerca de 45 minutos antes de aterrar no Porto — e seis horas depois de o avião ter partido do Egito —, as máscaras de oxigénio caíram sobre as cadeiras.
De um momento para o outro, vários passageiros começaram a vomitar e a desmaiar — incluindo as tripulantes de cabine. Em momento algum, relatam alguns dos passageiros à NiT, não foi prestada qualquer declaração a explicar o que sucedera.
Vários camiões dos bombeiros aguardavam em pista a chegada do avião que, ao que a NiT apurou terá sofrido uma despressurização da cabine. O comandante do avião, ao aperceber-se do sucedido, terá feito várias chamadas a pedir a presença de ambulâncias junto à pista de aterragem, no aeroporto do Porto, por volta das 23 horas.
Perante este cenário e a falta de respostas por parte da companhia responsável, os passageiros decidiram tomar ação. É o caso de Roberto Martins que seguia no voo e que tem liderado este esforço. “A Red Sea é uma companhia com duas aeronaves. Pergunto-me: porque não fomos alocados para o outro avião, se sabiam que este não estava em condições?”, questiona Roberto Martins que, numa segunda fase, admite processar a Red Sea Airlines.
“Nesse dia, ninguém nos explicou nada, apesar de termos insistido. Disseram-nos que íamos ser encaminhados para um hotel, sem previsão de quando descolaria o voo. No entanto, assim que chegámos ao hotel, pelas 14 horas, tivemos logo de abandonar porque nos informaram que o voo seria às 15 horas. Nem tive tempo de ver o quarto.”
Este, porém, seria o primeiro de muitos constrangimentos. “Quando regressámos, a hora do voo já tinha mudado novamente. Tanto insisti por qualquer tipo de informação, que me disseram que podia falar com o capitão da aeronave. Ele insistiu que não tinha nada que prestar declarações e nem sequer se dignou a levantar para falar comigo, mas garantiu-nos que, quando a aeronave chegasse, estaria segura para viajar”.
Entretanto, o voo só descolaria por volta as 20 horas, “sem qualquer pedido de desculpas relativamente aos atrasos”, revela Roberto. “Foi um voo bastante tranquilo, até nos aproximarmos do espaço aéreo português, pelas 22h16. Não sei se a despressurização da cabine se deu antes ou depois da descida, mas, dada a descida abrupta de 37 mil para 10 mil pés, tudo indica que se deu antes”, refere.
Roberto lembra uma sensação de frio extremo, enquanto todas as luzes se acendiam e caíam as máscaras de oxigénio. “Não houve qualquer aviso por parte da tripulação para colocarmos as máscaras. Só depois percebemos que era porque se encontravam desmaiados, tirando uma, que estava a prestar primeiros socorros”.
Roberto sofreu com os efeitos da despressurização. Uma letargia forte que o incapacitou de dar assistência ao filho de sete anos. “A minha mulher estava aos gritos e em pânico. Disse que eu estava roxo. Por sorte, umas bombeiras que estavam na fila da frente ajudaram-me a mim e ao meu filho a colocar a máscara como deve ser”, revela. Acabariam por aterrar em segurança, mas sem qualquer esclarecimento.
Já em terra, percebeu que “algo tinha de ser feito”. Falou com outros passageiros e trocaram contactos. “As notícias erradas apresentadas noutros jornais deixaram-nos irritados (…) Criei um grupo no Messenger e fomos adicionando passageiros com o objetivo de dar a conhecer a situação”.
O grupo já conta com 30 a 40 membros, mas Roberto Martins apela para que outros passageiros entrem em contacto, de forma a que todos tenham acesso às diligências que, em último caso, poderão dar origem a pedidos de indemnização relativas ao atraso do voo. Quer também que a situação não se repita, através “da exposição à Autoridade Nacional de Aviação Civil e ao Ministro das Infraestruturas, para que tomem as devidas diligencias”. “Em último caso, queremos que o Certificado de Operador Aéreo seja retirado à Red Sea, dado que a segurança não é a prioridade principal. Devem parar de operar.”
O chat serve também como local de partilha sobre o trauma vivido no avião. “Algumas pessoas relataram incontinência durante o sucedido. Outras estão agora a sofrer com barotrauma, que pode ser irreversível. A minha mulher está com problemas de audição graves”.
O nosso objetivo não é o dinheiro. Queremos processar a companhia para garantirmos que nada deste género volta a acontecer. Queremos saber se realmente havia um vidro partido, algo que nunca foi negado pela empresa. Estamos todos inteirinhos, mas se não estivéssemos, ninguém sabia o que realmente se tinha passado”, afirma.
Apesar das já inúmeras tentativas de contacto, a Red Sea Airlines ainda não respondeu a qualquer e-mail. “Os operadores que venderam os pacotes têm de ter a hombridade de ajudar a mediar o processo e a obrigação de repensar a utilização de charters de Terceiro Mundo. Temos de ser mais criteriosos.”
NiT