Comandado pelo físico J. Robert Oppenheimer em julho de 1945, o Trinity liberou 25 kilotons de energia. E, como um novo estudo revela, criou uma gigantesca nuvem de poeira radioativa
Em 16 de julho de 1945, em uma área militar no deserto do Novo México, os Estados Unidos detonaram a primeira bomba atômica. Foi um teste, batizado de Trinity, em que uma bomba de fissão com núcleo de plutônio (similar à que seria usada em Nagasaki no mês seguinte) explodiu, liberando energia equivalente a 25 kilotons, ou seja 25 mil toneladas de TNT.
O teste foi considerado um sucesso. O que não foi divulgado, e um novo estudo revelou só agora, é que o Trinity espalhou radioatividade por uma enorme área, cobrindo 46 estados americanos, o Canadá e o México.
Os autores do estudo, cientistas das universidades do Colorado e de Princeton, analisaram dados da época, totalizando 2 milhões de registros de informações como a pressão atmosférica, a temperatura, umidade relativa do ar, direção dos ventos, chuva e outros elementos.
A partir daí, eles desenvolveram um modelo matemático que consegue mapear, com alto grau de certeza, a dispersão das partículas atmosféricas nos 10 dias seguintes ao Trinity. Isso permite saber como a poeira radioativa levantada pela explosão se propagou, e quanta radioatividade ela carregou.
Imagem: Universidade de Princeton/Reprodução.
A nuvem de partículas radioativas se espalhou pelos EUA e, em 20 de julho de 1945, chegou ao Lago Crawford, no Canadá. A radiação no local foi aumentando até o dia 22, quando alcançou o auge. Segundo os cientistas, parte do plutônio da bomba não fissionou (quebrou) durante a detonação, e acabou indo parar nesse lago, onde se depositou.
O estudo também mapeou a propagação de radiação causada pelos outros testes nucleares dos EUA (ao todo, foram 94), e constatou que todo o território do país sofreu algum grau de contaminação.
Imagem: Universidade de Princeton/Reprodução.
O estudo não discute as possíveis consequências à saúde, mas recomenda que isso seja feito. As descobertas “fornecem uma oportunidade para reavaliar as consequências para a saúde pública e o ambiente dos testes nucleares na atmosfera”, dizem os autores.
Em 1963, os EUA, a União Soviética e o Reino Unido assinaram um acordo, o Limited Test Ban Treaty, banindo os testes de bombas atômicas na atmosfera (eles continuaram sendo feitos, com detonações subterrâneas).
Em 1996, mais de 180 países assinaram o Comprehensive Nuclear Test Ban Treaty, que proíbe totalmente os testes. Mas ele não entrou em vigor, pois oito países -China, EUA, Egito, Índia, Irã, Israel, Coreia do Norte e Paquistão- não o ratificaram.
Fonte: Super Interessante.