O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi informado oficialmente sobre a não participação do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na Cúpula da Amazônia, em Belém, confirmaram ao GLOBO fontes diplomáticas. Representantes do governo só souberam que Maduro não estaria no evento — considerado um dos mais importantes pelo Palácio do Planalto em matéria de política externa em 2023 — quando a porta do avião presidencial venezuelano se abriu e apareceu a vice-presidente do país, Delcy Rodríguez, comentou outra fonte consultada.
Perguntadas sobre a existência de uma comunicação oficial do Palácio de Miraflores ao Palácio do Planalto para informar sobre a ausência de Maduro, as fontes afirmaram que tal comunicação não existiu e que a desistência do chefe de Estado venezuelano foi uma mudança de última hora.
O presidente Lula esperava que Maduro estivesse presente no encontro para que, num ambiente menos hostil a Caracas em comparação ao da cúpula de chefes de Estado sul-americanos em maio, em Brasília, a Venezuela pudesse começar a se reaproximar da região. Até poucos dias atrás, as informações que chegavam de Caracas indicavam que o presidente venezuelano estaria em Belém.
Na capital da Venezuela, as especulações foram variadas. Fontes com acesso ao governo chavista afirmaram que uma das possibilidades é de que, ao não ter novas informações e decisões para apresentar ao governo brasileiro sobre as eleições presidenciais de 2024, Maduro preferiu não viajar. Poucos acreditaram na justificada para ausência apresentado por Maduro em suas redes sociais: um diagnóstico de “otite média” acompanhado de uma recomendação médica de não viajar.
Na noite da última segunda-feira, Maduro escreveu em sua conta na rede social X (antes Twitter): “Por recomendação médica, produto de uma otite média, me vejo na obrigação de suspender minha agenda pública. Ofereço minhas desculpas ao povo venezuelano, vou mantê-los informados.”
Nenhuma palavra sobre a Cúpula Amazônica de Lula. Esse tuíte despertou dúvidas no governo brasileiro, mas a confirmação só chegou quando as portas do avião presidencial venezuelano se abriram em Belém.
‘Agora medo se chama otite’
Na mesma rede, os comentários sobre a suposta otite de Maduro se multiplicaram. Jornalistas e analistas locais afirmaram que “agora medo se chama otite” e relacionaram a atitude do presidente com uma misteriosa viagem de Diosdado Cabello, número 2 do regime venezuelano, a Cuba — lugar que visitou poucas vezes, segundo fontes venezuelanas, a última delas para buscar o corpo de Hugo Chávez, em março de 2013.
Caracas virou uma usina de rumores sobre o real estado de saúde de Maduro e a situação política de seu governo. O processo eleitoral avança a trancos e barrancos, com candidatos inabilitados, entre outros conflitos entre governo e oposição.
Fontes do governo brasileiro minimizaram a ausência do chefe de Estado venezuelano, lembrando que o francês Emmanuel Macron tampouco está presente e destacando que mesmo sem Maduro o clima na cúpula de Belém está ótimo.
Para Lula, porém, a ausência do venezuelano não foi uma boa notícia no momento em que o Brasil tenta contribuir com o processo eleitoral venezuelano, promover uma transição democrática no país e conseguir apoios na região para sua iniciativa, considerada um dos principais objetivos do governo Lula em matéria de política externa.
O Globo