O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, disse nesta segunda-feira (31) que outras ações serão realizadas contra envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Em evento em São Paulo, ele também criticou o Exército pela atuação diante dos acampamentos bolsonaristas.
Segundo Andrei, a PF quis remover duas vezes os acampamentos montados após a campanha eleitoral de 2022, mas o Exército não permitiu. Ele afirmou ainda que houve “complacência de várias entidades e órgãos públicos de manutenção daqueles acampamentos”.
O chefe da PF participou em São Paulo de evento sobre os dez anos da Lei Anticorrupção promovido pela seção brasileira da entidade Transparência Internacional e a instituição de ensino Insper.
Andrei integrou uma mesa intitulada “Cooperação Interinstitucional para o Combate à Corrupção”, que contou com Ricardo Liáo, presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), e Vânia Vieira, secretária-executiva da CGU (Controladoria-Geral da União).
O diretor-geral da PF foi indagado sobre os acontecimentos do 8 de janeiro pelo mediador da mesa, o professor do Insper e advogado Beto Vasconcelos, que foi secretário nacional de Justiça no governo Dilma Rousseff (PT).
Andrei começou sua explanação afirmando que, “um ponto muito relevante é a questão da corrupção. Porque há envolvimento de muitos agentes públicos, servidores militares e civis, nesse caso”.
Em seguida, criticou o Ministério da Justiça sob o governo anterior de Jair Bolsonaro (PL) ao fazer menção à suspeita de que o ex-titular da pasta Anderson Torres teria pedido mapas de votação de Lula em eleições anteriores para planejar ações de fiscalização da PRF (Polícia Rodoviária Federal) nos locais com maior número de eleitores do petista.
“Eu preciso entender isso desde o ano passado, onde dentro do próprio ministério se gestou um sistema para acompanhar índice de votação de um candidato, se utilizaram as instituições, a fiscalização de rodovias, com uma força maior em locais onde um candidato teria melhor votação.”
Segundo Andrei, o ato golpista “deveria ter sido evitado lá em dezembro”, quando, afirma, a corporação tentou remover o acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília e acabou impedida pelos militares. “Quando nós fomos de novo, no dia 8 de janeiro lá, tinha tanque de guerra no meio da rua impedindo que a polícia entrasse para retirar aquelas pessoas do acampamento. Então, isso é uma sequência.”
Ele relatou que, na véspera do 8 de janeiro, fez um alerta oficial sobre a movimentação golpista, em reunião que convocou na Secretaria de Segurança do DF e em um ofício. Segundo o diretor-geral da PF, a comunicação escrita foi feita ao ministro da Justiça, Flávio Dino, que depois teria enviado o alerta ao Governo do Distrito Federal.
“Não só coloquei e verbalizei isso, como eu mandei um ofício escrito. Não sou vidente, não, mas eu tô vendo as coisas aconteceram, e nele escrevi: ‘Essas pessoas têm que ser contidas no acampamento. Não podem sair de lá porque eles irão invadir o Congresso, o Supremo e o Palácio do Planalto’. O que aconteceu no dia seguinte? Não só permitiram a saída, como esse bando foi levado até os palácios.”
Andrei lembrou ter atuado como chefe da segurança feita pela PF a Lula (PT) na campanha eleitoral de 2022 e disse que “foram presas 30 pessoas que atentavam contra a integridade do então candidato”.
O chefe da Polícia Federal recordou as mais de 2.000 prisões de suspeitos feitas após o episódio golpista.
“Aliás, já pedi até para minha assessoria contactar o Guinness Book: é a maior prisão da história do mundo. Nós prendemos duas mil pessoas em flagrante. E aí vocês imaginam a logística disso tudo acontecer, sendo que nós tínhamos uma semana da minha gestão”, disse.
O diretor-geral da PF afirmou que haverá novas ações da PF no caso.
“Já fizemos 14 ou 15 fases da operação que chamamos de Lesa Pátria, e outras ações virão. Nós não vamos parar enquanto a gente não desmantelar completamente tudo isso que aconteceu”, concluiu.
Também participaram do evento da Transparência Internacional – Brasil e do Insper o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).
O inquérito policial militar aberto para investigar os militares que deveriam ter protegido o Palácio do Planalto diante dos ataques golpistas de 8 de janeiro livrou as tropas de culpa e apontou “indícios de responsabilidade” da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, que integra a pasta do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
A apuração concluiu que, se houvesse tido planejamento “adequado” no início do governo Lula seria possível ter evitado a invasão do palácio ou minimizado os estragos.
O relatório sigiloso, obtido pela Folha, foi finalizado em 2 de março e recebeu uma complementação no dia 14 daquele mês.
O inquérito policial militar é uma investigação pré-processual elaborada pelos próprios militares para avaliar se há indícios de crime militar e quais os possíveis responsáveis.
Folha de SP