“Durante anos, Calvin Lo se apresentou incansavelmente como um bilionário-financista-filantropo itinerante, com uma coleção de champanhe, casas em três continentes, uma frota de supercarros exóticos e investimentos em um hotel cinco estrelas e uma equipe de Fórmula 1. Ótima história – pena que é (principalmente) ficção”.
Foi assim que a Forbes decidiu expor um falso magnata que atuou “desesperadamente”, desde 2020, para inflar sua reputação empresarial e financeira para emplacar seu nome na lista de bilionários da revista.
De acordo com a publicação, Calvin Lo foi anunciado à equipe como CEO e proprietário da R.E. Lee International, que seria “a maior corretora de seguros de vida do mundo”, com cerca de US$ 1 bilhão em prêmios (R$ 4,7 bilhões).
Além disso, era fundador da R.E. Lee Capital, que geria ativos de valores entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões (R$ 37,7 bilhões a R$ 47,1 bilhões), conforme diferentes comunicados enviados à imprensa.
Lo seria formado em Harvard, teria pago US$ 1,2 bilhão (R$ 5,6 bilhões) para comprar o hotel de luxo Mandarin Oriental, em Taiwan, e manteria participações na equipe da Williams de Fórmula 1, mansões em várias partes do mundo, uma fundação de caridade e um jato exclusivo Gulfstream G650.
A Forbes ouviu cerca de 40 pessoas e investigou durante quase um ano todo o patrimônio de Calvin Lo, e a maioria das alegações sobre a fortuna não pôde ser comprovada. Algumas delas são “mentiras descaradas”, como definiu a publicação.
Ele nunca se formou em Harvard, não tem fundação de caridade, não investe na escuderia de Fórmula 1, não possui um hotel e boa parte das casas, cujos endereços forneceu à revista, na verdade, pertencem a seus pais ou a outras pessoas.
A mãe de Lo, Regina Lee, é presidente do conselho da R.E. Lee Capital. No entanto, a empresa afirmou não estar associada ao falso magnata e confirmou não gerir nem perto dos bilhões em ativos citados por ele. Já a corretora de seguros, da qual ele é CEO, é estimada em US$ 60 milhões (R$ 283 milhões).
Foi comprada por Regina Lee, em 2015, e pode ter sido transferida para o filho. Já o pai dele, Frank Lo, tem dois apartamentos numa das áreas residenciais mais valorizadas de Hong Kong e um condomínio em Vancouver, no Canadá, onde nasceu, mas manteve a cidadania chinesa. Ou seja, a família é rica, mas não tanto quanto ele alega, concluiu a Forbes, que estimou a fortuna do clã em US$ 200 milhões (R$ 943 milhões).
A Forbes pondera que esta não é a primeira vez que pessoas mentem ou tentam enganar a revista para entrar na lista de bilionários. No entanto, o caso de Calvin Lo chamou a atenção.
“Lo se destaca pela audácia de suas reivindicações e até onde ele estava disposto a ir. Isso inclui não apenas contratar firmas de relações públicas e uma série de advogados para perpetuar suas falsidades, mas também provavelmente falsificar documentos financeiros. Embora muitas pessoas poderosas tenham nos dito que valem mais do que realmente valem, elas geralmente sabem que não devem fingir possuir os bens de outras pessoas”, afirmou a publicação.
Dilema sobre lista era ‘encenação’
A investigação da revista começou depois que Calvin Lo recebeu um editor da Forbes num escritório de Hong Kong, em setembro do ano passado. Na ocasião, Lo afirmou estar curioso para saber como outros bilionários na Ásia viram o ranking.
Estaria vivendo um dilema: ou resguardaria sua privacidade, sem dar os documentos sobre sua riqueza para ser incluído na lista, como magnatas mais velhos, ou forneceria os dados, como os mais jovens fazem, e poderia alavancar a venda de apólices de seguros. Mas o dilema era uma encenação, segundo a Forbes.
De acordo com a Forbes, Calvin Lo passou dois anos tentando blefar para entrar na lista de bilionários. Foram contatos de pelo menos sete pessoas, desde 2020, com 11 repórteres diferentes da revista, em mais de 20 ocasiões, para anunciar o empresário como o “bilionário mais desconhecido e reservado”.
Um artigo que o chamava de “bilionário” chegou a ser publicado no site Forbes Middle East, uma edição independente que tem licença para usar a marca. No entanto, era um anúncio publicitário, que foi posteriormente retirado do ar.
De início, Calvin Lo apenas não parecia rico o suficiente. A revista mantém uma redação com seis pessoas em Hong Kong, onde a R.E. Lee International não era tão conhecida. Além disso, ganhar bilhões com a revenda de apólices de seguro “parecia absurdo”.
Mas a Forbes decidiu expor a história diante da persistência do homem e depois que vários veículos de imprensa, como BBC, CNBC, Daily Express, Daily Mirror, Financial Times, Independent, Reuters e South China Morning Post, passaram a chamá-lo de bilionário e entrevistá-lo para vários temas, como champagne e criptomoedas.
Créditos: Revista PEGN.