Preso há 80 dias, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, mantém uma rotina ativa no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília. O tenente-coronel está detido desde 3 de maio, quando foi alvo de operação da Polícia Federal que investigava supostas fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente e de pessoas ligadas a ele.
Pela manhã, Cid deixa a cela de 20 metros quadrados por cerca de uma hora para o banho de sol, ocasião em que vai até uma praça onde pratica exercícios físicos acompanhado de outro militar. Acostumado a uma vida agitada, Cid se queixa do tempo ocioso, segundo o relato de uma pessoa de seu círculo próximo. Lê livros levados por seu advogado ou dados por amigos, recebe orientação religiosa de pastores e escreve bastante — inclusive anotações que possam servir para a sua defesa, que nega qualquer irregularidade.
Na prisão, Cid teve suas visitas limitadas a defensores e familiares mais próximos — sua mulher, Gabriela, as três filhas, a mãe e o pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid. A restrição se deu após o ex-ajudante de ordens ter recebido 73 visitantes (mais da metade deles, militares) em apenas 19 dias, número considerado “elevadíssimo” por Moraes.
— Cid está preso sem acusação. Fica em uma sala onde um soldado traz a comida e depois retira o prato. Toda a família está com o sigilo quebrado, o que configura uma excepcionalidade absurda. A esposa e as filhas estão muito abatidas — conta o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS).
Preparo para adversidades
Um aliado de Bolsonaro observa que Cid tem preparo maior para lidar com as adversidades: além da formação militar, conta com o apoio do “grupo político Forças Armadas”. Seu pai, membro do topo da hierarquia militar, tem conversado com os amigos oficiais sobre o “momento difícil” vivido pela família, o que o transformou em um importante articulador na tentativa de criar um ambiente favorável à soltura do filho.
Cid vinha se mantendo em silêncio, mas, em seu último depoimento, no final de junho, decidiu colaborar. Segundo uma pessoa a par da investigação, ele respondeu pela primeira vez às perguntas sobre mensagens golpistas encontradas em seu celular. Afirmou que enviou para si mesmo (do WhatsApp pessoal para o “business”) a minuta de um documento que declarava estado de sítio no país para lê-la posteriormente na tela do computador, uma prática habitual.
Créditos: O Globo.