A resistência de parte dos petistas de São Paulo em apoiar a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP) à Prefeitura da capital no ano que vem decorre do receio de que o PT perca votos no eleitorado de esquerda e encolha na maior cidade do país.
O apoio a Boulos em 2024 foi a condição para que o psolista desistisse de se candidatar ao Palácio dos Bandeirantes, nas eleições de 2022, para deixar Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, como candidato único da esquerda ao governo estadual.
Embora conte com a bênção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Boulos não conquistou a simpatia de uma influente ala do PT paulistano, capitaneada pelo clã dos Tatto, cinco irmãos que ocupam cargos na Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e na Câmara dos Deputados.
O deputado federal Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação do PT, já expôs abertamente que o partido deveria lançar uma candidatura própria em 2024. Ele tem se aproximado desde o ano passado do prefeito Ricardo Nunes (MDB), um flerte considerado arriscado por petistas que declaram apoio a Boulos.
O grupo de vereadores mais ligado aos Tatto provocou um racha interno do PT durante a votação do novo Plano Diretor da cidade, no fim de junho. Parte do motivo foi a proximidade com Nunes e o descontentamento com o apoio da direção nacional a Boulos.
Fracasso contra Boulos e “tiro no pé”
Jilmar foi o candidato do PT à Prefeitura em 2020, mas obteve apenas 8,6% dos votos e ficou em sexto lugar na disputa. Internamente, o desempenho foi considerado um fracasso pela sigla, já que ele ficou atrás do ex-deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei e integrante do Movimento Brasil Livre (MBL).
Na ocasião, Boulos, candidato pelo PSol, avançou ao segundo turno contra o então prefeito Bruno Covas (PSDB), de quem Nunes era vice. Covas foi eleito por uma diferença de pouco mais de um milhão de votos, mas morreu em maio de 2021 vítima de um câncer.
Desde então, vereadores e deputados do PT se preocupam com o fato de que o partido não conseguiu fortalecer nenhum nome próprio para a disputa em 2024.
Para alguns petistas ouvidos reservadamente pelo Metrópoles, o apoio a Boulos é “um tiro no pé” porque pode “empoderar” o deputado sem garantia de que o PT se beneficiará com cargos e vantagens em uma eventual administração psolista.
Além disso, temem que a bancada petista encolha ainda mais na Câmara Municipal e seja ultrapassada pelo partido de Boulos, o que tornaria o Partido dos Trabalhadores a segunda força da esquerda na maior cidade do país. Atualmente, o PT conta oito vereadores, enquanto o PSol tem seis. Na Legislatura anterior (2017-2020), o PT tinha nove e o PSol apenas dois parlamentares.
Futuro do PT
Na visão dos petistas, o PT precisa manter candidatura própria na maior cidade do país para assegurar a fidelidade do eleitorado de esquerda a longo prazo. O maior receio é de que o nome de Boulos cresça o suficiente para engolir quadros do partido em disputas como o governo paulista ou até a Presidência da República.
Além disso, eles também temem que o partido perca força para disputar outras eleições em municípios da região metropolitana, como Osasco, Guarulhos, São Bernardo e Franco da Rocha, que já foram administradas por petistas e hoje são comandadas por outros partidos.
Embora o PT não abra mão de indicar o vice na chapa de Boulos, sendo a deputada federal Juliana Cardoso o nome mais bem recebido internamente, vereadores petistas chegaram a entregar uma carta ao Diretório Nacional pedindo que Boulos se filiasse ao PT, algo que o líder do MTST já manifestou não ter intenção de fazer.
Créditos: Metrópoles.