O primeiro passo da humanidade na Lua completou 54 anos nesta quinta-feira (20). Para passar quase um dia inteiro explorando a superfície do nosso satélite, Neil Armstrong e Buzz Aldrin precisaram levar, é claro, água e comida. E, segundo uma empresa, a água consumida na missão Apollo 11 era brasileira.
Quem conta é a Lindoya Verão, da cidade de Lindoia, no interior de São Paulo. Registros da época, incluindo uma nota fiscal guardada como um tesouro, mostram que a Nasa de fato fez uma grande compra em abril de 1969, meses antes da histórica missão lunar.
Foram 100 caixas, com uma dúzia de garrafas de meio litro cada, totalizando 600 litros de água mineral. Custou NCr$ 226, cruzeiros novos, moeda brasileira da época.
Naquele tempo, eram caixas de madeira e garrafas de vidro com tampa de metal. Ainda há pessoas vivas que contam essa história. O pedido era para ser embalado com muito cuidado, foi um trabalhão. (Marcos Angeli, gerente administrativo)
Nota fiscal mostra compra de 1200 garrafas de água Lindoya em abril de 1969 Imagem: Divulgação.
A água em questão vinha da fonte São Sebastião, conhecida por propriedades como alta pureza, minerais equilibrados e baixa acidez.
“A escolha também foi motivada por anotações de Marie Curie, que ressaltou os efeitos terapêuticos das qualidades radioativas das fontes da cidade”, afirma Angeli. Ele faz referência à visita ao Brasil em 1926 da cientista que estudou a radioatividade e foi laureada com o Nobel de física e química.
Neil Armstrong bebeu mesmo a água?
A compra aconteceu no Rio de Janeiro e a encomenda foi para o aeroporto Santos Dumont, com destino ao Cabo Kennedy (hoje Cabo Canaveral), na Flórida. É de lá que a Apollo 11 foi lançada.
A partir daí, é impossível garantir qual teria sido seu uso final e se a água brasileira chegou mesmo à Lua. Até mesmo o executivo da Lindoya admite o tom de causo no acontecimento.
Certeza que entrou no foguete nós não temos. Há relatos de um astrônomo de Campinas de que isso aconteceu, mas não podemos garantir. Mas é uma história que gostamos de contar. (Marcos Angeli)
Segundo ele, a prefeitura de Lindóia tentou, por diversas vezes, obter a confirmação de que a água abasteceu a nave Columbia, que levou os astronautas até o satélite. Teria recebido apenas respostas evasivas, por se tratar de informações confidenciais.
Até hoje, a Nasa também não desmentiu. (Marcos Angeli)
Lindoya Verão fez exposição no 50º aniversário da Apollo 11; garrafa da época estava em uma redoma/Imagem: Divulgação.
Em uma missão espacial, a água é necessária não só para beber, mas para hidratar e preparar alimentos. Também é usada na higiene pessoal e até nos sistemas de resfriamento.
O que sabemos é que, na Apollo 11, eram as células de combustível a bordo da nave Columbia forneciam água potável para a tripulação, como subproduto da geração de energia. Elas combinavam hidrogênio e oxigênio para isso. Essa era a principal fonte durante a viagem — claro que havia um suprimento extra para emergências e para uso na superfície lunar.
Essas células não existiam na parte da nave que desacoplou e pousou na Lua, o chamado módulo lunar Eagle. Por isso, Neil Armstrong e Buzz Aldrin levaram bolsas de água; não há evidências que comprovem se elas foram preenchidas com o conteúdo de garrafas Lindoya.
A cidade de Orlando, na Flórida, alardeia desde o fim dos anos 1960 que a água levada na missão era do sistema de abastecimento municipal — água de torneira mesmo, após passar por um processo de purificação.
Buzz Aldrin – Nasa – Nasa – Astronauta Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na Lua, logo após Neil Armstrong, na missão Apollo 11, em 20 de julho de 1969/Imagem: Nasa.
Outra possibilidade é que a água brasileira tenha, sim, sido usada para os astronautas, mas em atividades na Terra, antes ou após a missão.
É como a lenda do vinho [chileno] Casillero do Diablo [de que havia um guardião sobrenatural para impedir roubos noturnos no vinhedo], mas com muito mais verdade. Algo que provavelmente nunca teremos certeza dos detalhes, mas que continuaremos contando todos os anos para celebrar nossa história. (Marcos Angeli)
Créditos: UOL/Tilt.