O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, teria tentado controlar as entrevistas concedidas pelos diretores da autoridade financeira após a nomeação de Gabriel Galípolo, segundo a colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo.
A proposta de Campos Neto era condicionar as conversas com a imprensa à aprovação prévia do presidente do BC — ou seja, a sua própria aprovação. A ideia já teria sido, inclusive, discutida com técnicos do banco.
A autarquia, no entanto, afirma que os diretores têm liberdade garantida por lei e, portanto, o presidente não pode vetar eventuais entrevistas. A única regra é que eles não façam considerações sobre a taxa básica de juros, nem falem na semana que antecede a reunião do Comitê da Política Monetária (Copom).
A tentativa de Campos Neto teria elevado as tensões no Banco Central, uma vez que o recém-nomeado diretor Galípolo é abertamente a favor do corte da taxa básica de juros. Suas entrevistas exporiam a racha na autoridade.
Críticas à Campos Neto
O presidente Lula (PT) vem criticando a postura do presidente do Banco Central há meses, já que não concorda com as decisões da autoridade e com o atual patamar da Selic.
Em reunião, na semana passada, com a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), e a presidente da Caixa, Rita Serrano, Lula disse que facilitará o crédito a prefeituras e Estados, independente da “teimosia” de Campos Neto. Aquela não foi a primeira vez que o petista o chamou de teimoso.
O presidente da República também vem cobrando ação do Senado contra o BC. Em entrevista à Rádio Gaúcha na semana passada, Lula disse que a casa tem responsabilidade na questão da taxa de juros porque aprovou a indicação de Campos Neto como presidente.
O presidente do Banco, inclusive, já foi convocado para comparecer à audiência no Senado no dia 10 de agosto. Ele terá que prestar esclarecimentos sobre um suposto descumprimento da lei de autonomia do BC.
O que esperar da Selic?
Em entrevista coletiva no final do mês passado, Campos Neto afirmou que, na última reunião do Copom, os membros do comitê estavam divididos quanto ao eventual corte da taxa de juros e que o cenário deve ser o mesmo em agosto.
A afirmação veio após a ata Copom reforçar que a porta está aberta para cortes na Selic. Para o presidente da autoridade, o processo deve ser feito “com parcimônia”.
“A manutenção dos juros nos últimos meses tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”, disse em entrevista.
Para a próxima reunião do Copom, o mercado aposta na redução de 0,25 ponto percentual (p.p.) dos juros. Uma parcela mais otimista projeta um corte de 0,50 p.p.