No auge das tratativas supostamente destinadas a armar uma arapuca para o ministro Alexandre de Moraes e criar condições para um golpe de estado que colocaria em xeque as eleições presidenciais de 2022 no Brasil, o senador Marcos do Val, do Podemos do Espírito Santo, enviou uma mensagem ao ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira, apontado como seu comparsa na trama, na qual diz que, devido a uma “outra função” que exerce, teve de reportar informações “para a inteligência americana”.
A mensagem é de 13 de dezembro de 2022. Logo no início da manhã, Daniel Silveira dá bom dia ao senador e diz estar a caminho de Brasília para “fecharmos aquela conversa”. Àquela altura, o tal plano golpista que os dois vinham maquinando estava em pleno curso. Marcos do Val responde já quase no fim da tarde. “Fala camarada! Estou pegando o voo agora para Brasília”, escreve o senador. Em seguida, aparentemente tentando explicar a demora na resposta, ele emenda: “Devido a outra função que exerço, tive que reportar para a inteligência americana. Amanhã teremos uma posição para te passar”.
No relatório, a PF registra que a mensagem “causa estranheza”. Em seguida, observa não ter encontrado registros de conversas travadas por Marcos do Val com contatos do exterior e cogita a hipótese de o tal “reporte para a inteligência americana” ser um mero blefe: “Mesmo havendo contatos com números americanos (DDI +1) no celular do senador não foram encontradas mensagens no aplicativo WhatsApp que se referissem ao compartilhamento da ‘missão’ com qualquer contato. É possível que DO VAL tenha dito (sic) tal afirmação apenas como um ‘blefe’”.
A mensagem foi enviada um dia antes de o senador escrever a Daniel Silveira dizendo que estava “declinando” da suposta missão golpista, que consistia em marcar uma reunião com Alexandre de Moraes para gravá-lo e, depois, usar o teor da gravação para descredibilizar o processo eleitoral e criar condições para uma intervenção militar no país.
O relatório ao qual a coluna teve acesso traz ainda mensagens trocadas por Marcos do Val com Jair Bolsonaro e com o próprio ministro Alexandre de Moraes – a quem ele avisa, por exemplo, que havia sido procurado por jornalistas para falar “a respeito daquele assunto do Daniel (Silveira) e (Jair) Bolsonaro pedirem para ajudá-los no golpe de estado”.
Em 15 de junho, Marcos do Val foi alvo de uma operação da Polícia Federal justamente em razão dessa suposta trama. Endereços residenciais do senador no Espírito Santo e em Brasília, assim como o gabinete dele no Senado, foram visitados por policiais federais, que cumpriam uma ordem de busca e apreensão expedida pelo ministro Moraes. A investigação prossegue. Nesta quarta-feira, Jair Bolsonaro será ouvido pela PF sobre o tema.
Créditos: Metrópoles/Rodrigo Rangel.