O desaparecimento da universitária Gabriely Cristina Portela Ferreira, de 18 anos, registrado na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), revelou contornos ainda mais complexos do caso: uma disputa familiar pelo seguro milionário deixado pela mãe, Fernanda Portela, que morreu em dezembro de 2020. Seis meses antes da morte, foram feitos dois seguros com empresas diferentes: um no valor de R$ 780 mil, e outro de R$ 1 milhão. Além de Gabriely, Fernanda tinha outra filha. A única beneficiária das apólices, no entanto, era a então companheira Patrícia Feital, com quem tinha uma união estável.
Foi na casa de Patrícia que Gabriely se abrigou quando saiu de casa no último dia 28 de junho sem avisar à família. O pai, Márcio André Vaz Ferreira, registrou o desaparecimento junto à DDPA. Uma semana depois, ela reapareceu e se apresentou na delegacia, acompanhada de um advogado. Em depoimento, ela disse que deixou uma carta de despedida para o pai explicando que não tinha mais interesse em morar com ele e que seu objetivo era “arrumar um emprego para se sustentar, sem depender de ninguém”. Os pais eram divorciados, mas ela passou a morar com Márcio há pouco mais de dois anos, desde que a mãe morreu, em dezembro de 2020.
Segundo a estudante, o pai disputa na Justiça parte dos seguros que somam R$1,7 milhão deixado por Fernanda — sua ex-esposa e mãe de Gabriely — em nome da ex-companheira e antiga vizinha do casal, Patrícia Feital Pinto Silva. A jovem contou que Patrícia tinha uma união estável com a sua mãe e a acolheu quando decidiu sair de casa. A decisão, de acordo com Gabriely, não teria agradado a Márcio, que procurou a polícia para notificar o desaparecimento.
— Depois que completei 18 anos, escrevi uma carta, deixei todos os motivos do porquê eu queria sair de casa e não queria morar com ele (o pai), e assim fui embora. Depois disso, ele foi à delegacia dizer que eu estava desaparecida e que fui sequestrada. Mas, na verdade, não. Eu fui por conta própria, eu deixei avisado a ele — afirma Gabriely. — Ao chegar à delegacia, notei que era tudo por causa do dinheiro. Descobri, pela delegada, que meu pai estava prendendo o seguro para que uma pessoa não conseguisse retirar ele. Porém, foi a essa pessoa que minha mãe deu a permissão para retirar o seguro. Os meus planos, desde que saí de casa, foram arrumar um emprego para me sustentar. Eu não quero depender de ninguém como eu dependia dele. Mas com a minha foto estampada na internet, perdi a chance de ter um emprego.
Em entrevista ao GLOBO, após o desaparecimento de Gabriely, Márcio Ferreira disse que seguradoras entraram em contato com a família, em meados do ano passado, solicitando documentos para a liberação do valor registrado no nome de sua ex-esposa. Ainda de acordo com ele, Fernanda, mãe de Gabriely, teria deixado uma carta escrita de próprio punho afirmando que a quantia seria para a ex-companheira, Patrícia Feital. Ele relatou que ficou desconfiado e decidiu procurar a polícia para registrar uma ocorrência de fraude.
— Seguros de vida entraram em contato conosco para se informar da situação de vida da mãe da Gabriely, e foi aí que vimos que fraudaram um seguro com a morte da mãe dela. Fizemos tudo para provar que tudo o que teria sido dito pela mãe era falso, até que invalidaram e não pagaram — afirmou Márcio.
Fonte: O Globo.