Lançada na noite de quarta (5/7), a rede social Threads, da Meta, ultrapassou os 30 milhões de usuários cadastrados em menos de 24 horas. Ainda que a plataforma não tenha funções específicas de publicidade e transações financeiras, pequenas e médias empresas têm motivos para criar seus perfis por lá, segundo especialistas.
Segundo Maurício Felício, professor de Comunicação e Publicidade da ESPM e head de mídia da Energy BBDO, o foco do perfil, nesse caso, deve ser a conexão do negócio com o seu público – que eventualmente pode se interessar pela proposta e buscar meios de adquirir produtos.
“A rede pode ser muito importante para um negócio, mesmo que não permita comprar propriamente. Se eu trabalho com decoração, o Pinterest é muito importante. O importante é analisar se ela pode repercutir a minha marca”, diz Felício.
Pelo ambiente de informalidade e pouca preocupação estética, usar o Threads pode ser um jeito de engajar um público mais jovem e mais propenso a usar uma rede nova, como grande parte dos usuários do Twitter.
“Você pode não ter a possibilidade de postar uma galeria sobre o seu produto no Threads, mas, ao conseguir se conectar com este público, isso pode fazê-lo buscar pelo seu produto em outro momento”, afirma Felipe Collins, mestre em Marketing e head da área na fintech QI Tech.
O profissional ressalta que redes sociais em estágio inicial tendem a premiar novos usuários com engajamento, um benefício que é maximizado com a base de informações já existente que o Threads recebe do Instagram. Tal contexto faz a aposta do empreendedor no Threads ser ainda mais interessante, segundo ele.
“O cliente que já segue seu negócio no Instagram recebe, de cara, a opção de seguir seu negócio no Threads assim que ele cria a conta na rede social. Isso é muito positivo. Angariar seguidores é um esforço grande que, no Threads, foi significativamente diminuído”, explica Collins.
Uma dica frequente para a criação de conteúdo em qualquer rede social é que as pessoas gostam de ver pessoas. Embora o foco do Threads seja o texto, a adoção de uma linguagem mais humanizada e bem-humorada colabora para essa conexão. Um exemplo dessa prática é a adoção do personagem “estagiário” praticada por grandes empresas no Twitter.
“Além disso, vemos diversos perfis que printam seus tweets e postam no Instagram. Essa estratégia permite que o texto alcance quem não quer ou não pode parar para assistir a algo. A absorção da mensagem não é prejudicada e, na verdade, é tão efetiva quanto. Vemos muitos perfis de humor que fazem isso – e isso também engaja e cria um senso de credibilidade sobre o emissor”, explica Collins.
Contudo, a criação de personagem para a marca é um ponto mais sensível para Maurício Felício. “Só faz sentido se a marca vai passar a emitir posicionamentos que precisam de uma personalidade. É necessário um propósito maior por trás. Caso contrário, o projeto dá errado e acaba confundindo o consumidor, que pode até mesmo pensar que ele está lidando com um perfil falso da marca”, pontua o professor.
Interagir com usuários é uma máxima em todas as redes, e vale ainda mais para o Threads – levando em consideração seu formato. Sendo assim, vale curtir e responder às threads de outros usuários. A ação aumenta o alcance do perfil, trazendo mais seguidores e, no limite, mais vendas.
“Interagir com concorrentes, contudo, pede um pouco mais de cautela. Se falamos de uma marca mais bem-humorada ou até sarcástica, pode valer. Agora, um negócio B2B deve ficar mais atento para que você não associe o seu negócio com outro equivocadamente”, pontua Felício.
Outra oportunidade que o Threads pode trazer é relativa a parcerias com influenciadores. “Por ser uma rede nova, influenciadores ainda estão sem base para cobrar pelas postagens. Sendo assim, acredito que isso pode representar uma oportunidade para o negócio ser postado ou associado a um influenciador interessante, que faça sentido para o seu produto, mas que estava distante devido ao custo”, diz Collins.
Cuidados
Assim como em todas as redes, a presença de uma empresa deve ser embasada em coerência e cautela, segundo os especialistas.
“Ao entrar em uma rede nova, pode ser necessário adaptar a linguagem da empresa e o tom de fala, e isso é perfeitamente normal. Mas os valores devem ser uniformes em todas”, pontua Felício.
Outro ponto a ser levado em consideração, segundo Collins, são as ações de engajamento dentro da rede pelo perfil. “O empreendedor deve ter em mente que o perfil da sua empresa não é um perfil pessoal, por mais que ele o administre. Comentários, curtidas e repostagens de outros perfis são associados à sua marca, então entendo que há temas a serem evitados”, explica.
Por fim, mas não menos importante, existe a possibilidade de o empreendedor não criar uma conta no Threads, caso o formato de texto já não seja praticado pelo seu negócio e crie uma demanda inviável no momento.
“É importante criar a conta no Threads se existe conteúdo para postar na rede. Um negócio que já não produz conteúdo no Twitter, que é o formato mais parecido com o Threads, vai ter de fazer um esforço maior para passar a postar na rede nova. Isso deve ser colocado na balança para que o perfil não vire uma ruína daqui um tempo”, pondera Felício.
Créditos: Revista PE&GN.