O lançamento do Threads, rival do Twitter criado pela Meta, foi um dos movimentos mais agressivos de concorrência a que o Vale do Silício assistiu em décadas. Um movimento inteligente, bem executado, que muda a trajetória da Meta e põe o Twitter sob risco de vida. É também uma aula de contrastes em qualidade de gestão e comunicação.
Há coisa de duas semanas, Mark Zuckerberg aceitou, no Twitter, um desafio feito por Elon Musk para uma briga no octógono. Briga mesmo, para que saíssem no braço. MMA. Zuck, CEO e principal acionista da Meta, luta jiu-jítsu competitivamente. Musk não luta nada e está fora de forma. Parece evidente que a luta não ocorrerá. Mas tudo o que envolve Elon Musk no Twitter é lido por todo mundo que frequenta o Twitter. Quando aceitou a briga, Zuck se pôs no radar dos usuários da rede de Musk.
Musk errou muito desde que comprou a plataforma. Ao trazer de volta todos os radicais de direita que haviam sido expurgados ao longo dos anos por discurso de ódio, deixou gente demais insatisfeita. Fez colar na rede a imagem de um ambiente que dá preferência àquele grupo político. Não foi só. Desnorteou todos os usuários vendendo o selo que garantia credibilidade a contas jornalísticas. O Twitter se tornou uma plataforma sem bússola para dizer em quem confiar. Mais: tanto mexeu no algoritmo que, ao entrar, é raro encontrar algo interessante. Não é que, na real, a rede tenha ficado mais à direita. É só que está chata. Tendo demitido um número excessivo de engenheiros, se viu obrigada nas últimas semanas a limitar o número de tuítes que cada usuário pode ler. Um serviço que vive de vender audiência obrigado a impor teto à audiência… O site engargalou, e os servidores não aguentam mais o tranco.
Se no meme o conflito é entre Zuck e Musk, na verdade o responsável pelo lançamento do Threads é Adam Mosseri, CEO do Instagram. Mosseri já fizera algo ímpar: manteve sua rede relevante perante o crescimento do rival chinês, TikTok. Outras redes, noutros momentos, sucumbiram perante o rápido crescimento de um rival novo e atraente. Não aconteceu com o Insta, que reagiu rápido ampliando o espaço para vídeos curtos e, diferentemente do que se temia, não sacrificou as fotografias. Mesmo perante o Facebook, o Insta é a propriedade mais valiosa da Meta. Tem 2,3 bilhões de usuários.
O Threads foi lançado como um aplicativo à parte. É um desafio convencer as pessoas a baixar um novo app. Empresas morrem ao nascer se não conseguem fazer isso. Mas eles consideraram que implementar um clone do Twitter dentro do Instagram tornaria o outro aplicativo muito confuso. Melhor tê-los separados. Ao mesmo tempo, facilitaram a importação de todo mundo que cada usuário do Insta já segue. É entrar numa rede social nova podendo trazer de outra toda a sua rede de contatos. Foto, texto de descrição, selo de verificação — tudo pode ser aplicado com um clique. Entre baixar o app e já ter perfil e rede prontos é menos de um minuto.
Musk abriu o espaço para que Zuck fizesse propaganda de sua briga metafórica no Twitter, onde os usuários já estão faz meses em busca de alternativa. A implementação do Threads foi tão bem executada que, em sete horas, a rede já tinha 10 milhões de perfis. As conversas ali acontecem como se fossem habituais. Embora ainda faltem recursos, a rede é igual ao Twitter. O mundo precisa de uma rede de conversas públicas. Mas não há espaço para mais de uma dominante. Na briga entre Zuck e Musk, Mosseri está com pinta de vencedor.
Créditos: O Globo.