Foto: Diálogos Das Américas
O site diálogo Américas é de propriedade do Comando Sul dos Estados Unidos da América (SOUTHCOM) e foi construído por determinação do Departamento de Estado dos EUA, considerado estratégico no que diz respeito a divulgação de informações. Há algumas semanas mencionamos aqui na Revista Sociedade Militar um dos seus artigos, que versa sobre a influência chinesa e o Tik Tok.
Em um artigo publicado em 15 de junho os norte-americanos apontam irregularidades em obras construídas pela China no Panamá, mencionando princípios questionáveis. O artigo diz ainda que várias obras construídas pelos chineses têm dinheiro do Partido Comunista e diz ainda que há objetivos estratégicos e militares ocultos. A ponte inicialmente teria 51 metros de largura com uma faixa extra para o metrô panamenho, mas a China – pelo que se sabe – está recuando e tentando fugir do projeto inicial.
“Os chineses sempre têm sua estratégia, têm seus padrões duplos; eles não fazem as coisas exclusivamente por motivos comerciais”, declarou Tapia. “Há também um objetivo estratégico do tipo militar. É preciso ter cuidado com eles… Nesse megaprojeto, que foi concedido sob princípios muito questionáveis, eles [o consórcio chinês] primeiro fazem um acordo e depois começam a introduzir adendos …”
A China e a ponte sobre o canal do Panamá
O Panamá, juntamente com o consórcio chinês formado pela China Communications Construction Company (CCCC) e pela China Harbour Engineering Company (CHEC), assinou um anexo para retomar “nos próximos meses” a construção da quarta ponte sobre o canal interoceânico panamenho, de acordo com o jornal La Estrella de Panamá.
A ponte agilizará o movimento diário de mais de 70.000 veículos, beneficiando 1,7 milhão de pessoas, conectando a província de Panamá Oeste à Cidade do Panamá, de acordo com estimativas do Ministério de Obras Públicas do Panamá (MOP).
“Nesse megaprojeto, que foi concedido sob princípios muito questionáveis, eles [o consórcio chinês] primeiro fazem um acordo e depois começam a introduzir adendos”, disse à Diálogo Euclides Tapia, professor de Relações Internacionais da Universidade do Panamá, em 29 de maio.
O projeto, com um custo ajustado de US$ 1,3 bilhão, inclui um adendo, assinado em março, que elimina o deck de observação e o restaurante que estavam contemplados no projeto original e ajusta a largura do deck principal, os intercâmbios e o tipo de colunas, além de eliminar a etapa de manutenção, informou o MOP em um comunicado. O adendo também separa a construção da ponte da Linha 3 do Metrô do Panamá, que originalmente estava prevista para ser construída ao mesmo tempo.
“Durante os meses seguintes, a equipe de especialistas do consórcio continuará o desenvolvimento do projeto detalhado, estudos e outros trabalhos no terreno, com o objetivo de iniciar as obras de mais envergadura nos próximos meses”, disse o ministro do MOP, Rafael Sabonge, durante a assinatura do adendo.
Histórico de corrupção
Tanto a CCCC quanto sua subsidiária CHEC têm um histórico de corrupção, informou a plataforma de jornalismo investigativo Diálogo Chino. A CCCC foi desabilitada em 2011 pelo Banco Mundial por seis anos, por práticas fraudulentas nas Filipinas.
Os outros registros da CCCC incluem corrupção em uma obra ferroviária na Malásia e na Austrália. Em Bangladesh, a CHEC foi acusada por funcionários do governo de pagar comissões de forma ilegal. Ela também foi acusada de corrupção na construção de um porto na Tanzânia.
Além disso, ele disse que a CCCC está envolvida em mais de 50 obras em pelo menos 19 países da América Latina e do Caribe, com o apoio do capital do Partido Comunista Chinês por meio de seu Banco Comercial e Industrial.
“Não devemos nos surpreender se mais tarde houver problemas [na construção da quarta ponte], os mesmos problemas que os chineses têm em outras latitudes”, disse Tapia. “O Panamá precisa de uma obra bem feita, não de qualquer coisa” feita pela China.
Em São Luís, no estado do Maranhão, Brasil, onde a CCCC está construindo um enorme porto, os promotores locais estão investigando se a empresa obteve proveito com a venda de títulos de propriedade de forma irregular. Também houve problemas com um contrato da obra de uma universidade no Equador, observou Diálogo Chino.
Expansão do porto
“Os chineses sempre têm sua estratégia, têm seus padrões duplos; eles não fazem as coisas exclusivamente por motivos comerciais”, declarou Tapia. “Há também um objetivo estratégico do tipo militar. É preciso ter cuidado com eles.”
Um relatório do think tank dos EUA, Centro para uma Sociedade Livre e Segura, detalha que muitas empresas chinesas envolvidas em projetos de investimento e desenvolvimento de portos estratégicos têm vínculos com o Exército Popular de Libertação da China.
Os investimentos de Pequim em terminais portuários em ambas as bocas do Canal do Panamá confirmam a intenção da China de tirar o máximo proveito dessa infraestrutura, de acordo com um relatório da Universidade de Navarra, na Espanha.
“O componente político não pode ser isolado de qualquer investimento chinês no Panamá ou na América Latina”, afirmou Tapia. “O setor portuário faz parte de sua estratégia global.”
Uma prova de que a China está visando o Panamá como um objetivo militar é sua não adesão ao Protocolo de Neutralidade do Canal do Panamá, argumentando que Taiwan é um dos países que aderiram ao tratado, segundo Tapia.
De acordo com Pequim, “Taiwan não existe como um país. Se não existe como país, qual é o problema?”, questionou Tapia. “O Panamá mantém vigente um tratado de livre comércio com Taiwan, apesar do rompimento. Os Estados Unidos alertaram na época que deveríamos ter ‘muito cuidado’ com os investimentos chineses.”
Investidores
“Não queremos colocar o Panamá em uma situação em que tenha que escolher entre os Estados Unidos e a República Popular da China”, disse a embaixadora dos EUA no Panamá, Mari Carmen Aponte, ao canal de mídia panamenho TVN, em 27 de fevereiro.
O Panamá e os Estados Unidos têm em comum valores como democracia, respeito aos direitos humanos, transparência, responsabilidade e atividade econômica inclusiva. Esses são valores aos quais a China frequentemente não adere, observou.
“Os investimentos chineses não devem ser tratados com leviandade, sabendo das reivindicações que eles têm sobre o mundo. A China está criando seu próprio núcleo de entidades de investimento nativas para criar um nível de dependência política, para pressionar os governos latino-americanos a responder aos interesses chineses”, concluiu Tapia.