Foto: André Borges
A visita da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Brasil frustrou os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de fechar um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul em seus seis primeiros meses de governo. Mas a chefe da diplomacia europeia deu sinais de que o bloco quer se aproximar do Brasil para conter o avanço da Rússia e da China na América do Sul.
“Temos a ambição de terminar [o acordo entre a União Europeia e o Mercosul] o quanto antes, o mais tardar até o final do ano. Eu acredito que há vantagens para todos os lados. Esse acordo é mais do que um acordo comercial, é uma plataforma para diálogo, é um engajamento a longo prazo”, disse a líder europeia depois do encontro com Lula.
A declaração von der Leyen frustrou as expectativas de Lula, que pretendia embarcar para Bruxelas em julho já com o acordo finalizado. O encontro na capital da Bélgica vai reunir os presidentes dos países do Mercosul para uma cúpula de chefes de Estado entre membros da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia.
O tratado vem sendo costurado desde 1999 e chegou a ser aprovado em 2019, no início do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas não foi confirmado no Parlamento Europeu. Isso ocorreu devido a entraves ambientais que foram vistos por analistas como pretextos para protecionismo de mercado por parte dos europeus.
Mas a invasão russa na Ucrânia mudou esse cenário ao polarizar a política internacional, colocando americanos e europeus de um lado e russos e chineses de outro. Documentos da União Europeia vazados neste ano mostraram que o bloco estuda estratégias para conter o avanço da diplomacia russa em países em desenvolvimento, principalmente Brasil, Chile, Nigéria e Cazaquistão.
Uma das estratégias para agradar o Brasil – reveladas no documento – era reconhecer Lula como um ator global. Ursula von der Leyen deu um sinal de que isso está sendo colocado em prática ao afirmar a Lula: “Acolho sua liderança em relação às questões climáticas e em relação à biodiversidade”.
Contudo, as exigências ambientais dos europeus para colocar em prática o acordo com o Mercosul também preocupam políticos e analistas. Isso porque elas podem dificultar ações do Brasil para levar desenvolvimento para áreas da floresta amazônica. Dessa forma, o país ficaria impossibilitado de explorar recursos minerais e agrícolas que colocariam o país em uma posição mais competitiva no comércio global.
Por outro lado, o acordo poderia facilitar a reindustrialização do Brasil e diminuir a dependência que o país já tem da China no comércio internacional. Em 2022, as trocas comerciais entre o Brasil e países da Europa totalizaram aproximadamente 93 bilhões de euros (R$ 490 bilhões), segundo dados da Comissão Europeia.
A viagem de von der Leyen ao país acontece três meses após a vice-presidente-executiva da Comissão Europeia, Margrethe Vestager, ter se reunido em Brasília com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB). Na ocasião, Vestager afirmou ser preciso adotar medidas para “acelerar” a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
Gazeta do Povo