Foto: Reuters
O Mounjaro, nome comercial da tirzepatida, não tem previsão de chegar às prateleiras no Brasil. O pedido de registro está em análise pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas não há detalhes sobre o andamento.
A agência afirmou que “não é possível antecipar outras informações antes da conclusão do processo”.
A farmacêutica Eli Lilly, responsável pela produção do medicamento, declarou também não ter previsão de finalização do processo que autorizaria o fármaco no país. O pedido foi submetido à Anvisa para o tratamento de diabetes tipo 2.
“Tendo a aprovação regulatória, o medicamento segue para o processo de precificação pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos)”, afirma a empresa.
O medicamento injetável, aprovado nos Estados Unidos e na Europa para tratamento de diabetes, é utilizado de forma off-label para perda de peso no exterior.
Segundo Ricardo Barroso, diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo), a substância já é muito procurada pelos pacientes devido os efeitos percebidos em usuários nos Estados Unidos. “Agora resta aguardar a aprovação da Anvisa.”
Barroso pontua que o medicamento, se aprovado, precisará de indicação médica, assim como outros tratamentos para obesidade, independentemente se as substâncias terapêuticas são usadas de forma off-label ou conforme a indicação da bula.
“Quando [o Mounjaro] chegar ao mercado brasileiro, é importante que haja acompanhamento com médicos familiarizados com seu uso.”
A endocrinologista Gláucia Carneiro, responsável pelo ambulatório de obesidade da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), relata otimismo em relação à aprovação, pois há comprovação científica da segurança e eficácia tanto para diabetes como para sobrepeso.
Uma análise apresentada no último Congresso Europeu de Obesidade, em Dublin (Irlanda), destrinchou os efeitos do medicamento para o tratamento da obesidade utilizando dados de um estudo de 2022 patrocinado pela Eli Lilly, farmacêutica responsável.
O trabalho mostrou que pessoas com o IMC (índice de gordura corporal) maior tiveram um emagrecimento mais acentuado no decorrer de 72 semanas, tempo estimado pelo estudo original para atingir o chamado platô (quando o paciente em tratamento para obesidade para de perder peso).
Considera-se que o indivíduo atingiu o platô quando perde menos de 5% do peso corporal num período de 12 semanas.
De acordo com a análise, os participantes incluídos na maior faixa de IMC (a partir de 40), perderam o dobro de peso do que os usuários com sobrepeso (taxa menor que 30). Além disso, pessoas com índices mais altos também mantiveram um emagrecimento mais intenso após as primeiras 24 semanas de tratamento.
Segundo o estudo original, mais de 80% dos participantes apresentaram perda de peso significativa em 72 semanas, tempo considerado inédito se comparado a outros tratamentos existentes.
O medicamento existe em doses de 5 mg, 10 mg e 15 mg. Apesar de dosagens maiores causarem mais emagrecimento, o tempo para atingir o platô foi semelhante entre as doses e as diferentes faixas do índice.
“Conforme o indivíduo perde peso, ocorre a ativação de algumas vias de defesa dessa perda e, com isso, a estabilização do peso”, afirma Carneiro.
O estudo incluiu participantes com IMC superior a 30 ou a partir de 27 com ao menos uma comorbidade. Os resultados contribuem para a busca da aprovação do medicamento para o tratamento da obesidade. Não há indicação para pessoas que não se encaixam nesses critérios.
A tirzepatida é considerada um duplo-agonista, pois simula os efeitos de dois hormônios intestinais que atuam na sensação de saciedade e no metabolismo. A semaglutida (Ozempic e Wegovy), por exemplo, tem efeito de apenas em um desses hormônios.
Não existem estudos robustos comparando os efeitos das duas substâncias, mas a eficácia da tirzepatida na perda de peso é considerada inédita.
Para a dosagem de 15mg, a redução registrada foi, em média, de 22% do peso corporal. “Para a semaglutida, a média é uma redução de 15% do peso”, afirma a endocrinologista.
Folha