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A venda de carros zero-quilômetro sofreu forte queda nos últimos dias, à espera de detalhes do plano do governo federal para baratear os veículos novos. O relato foi feito ao UOL Carros por diversas redes de concessionárias que, de forma unânime, observam um forte movimento de desistência e até cancelamento das compras, o que impactou no atingimento das metas estabelecidas para o mês.
Segundo relatos, muitas dessas metas já estavam em vias de serem cumpridas até a véspera do anúncio feito por Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, mas já se sabe que não serão alcançadas.
“Depois do anúncio começou uma correria de clientes para cancelar as compras. Tínhamos uma meta de 50 carros no mês, que já estava batida, e no fim das contas vamos cumprir 40 com muito esforço. Foram mais de 10 cancelamentos em menos de uma semana. Nós nunca tivemos que lidar com esse tipo de incidente antes”, disse uma das fontes que trabalha também com vendas de carros abaixo dos R$ 120 mil, que é o valor teto do programa.
Outra entrevistada disse que até as vendas de carros de categoria superior caíram, além de que nem os seminovos ficaram de fora do prejuízo. Isso levou a loja a colocar uma faixa no lado de fora dizendo que estão praticando “descontos antecipados” de 2% do valor de tabela.
O mercado está parado. Por enquanto, nem a fabricante e nem o lojista sabem o que fazer. Muita gente aguardava o anúncio para fechar negócio e agora vai esperar até a divulgação de todas as informações, que deveriam ter saído no máximo em até 24 horas após o pronunciamento”Cassio Pagliarini da Bright Consulting.
Na última quinta-feira (25), Alckmin anunciou a intenção do governo de, através da redução de tributos como IPI e PIS/Cofins, baratear os preços de carros zero-quilômetro de até R$ 120 mil. Os descontos implicariam em redução de até 10,96% no preço final dos veículos, mas a definição do programa ainda passará pelo ministério da Fazenda, que dará um parecer em até 15 dias após o anúncio do vice-presidente.
Os reflexos dessa decisão impactaram as projeções sobre o desempenho do mercado, em linha com a realidade do chão de loja. Cassio traz números que ajudam a dar maiores dimensões dos danos, que mesmo antes do fechamento do mês, já configuram os resultados.
“No início do mês, a projeção para o mês era de 181 mil vendas, entre automóveis e comerciais leves. A primeira quinzena foi muito boa e seguiu esse número. A partir do momento que foi anunciado que no dia 25 teria uma reunião, o número de vendas começou a cair. A gente foi vendo isso e rebatendo com os nossos estudos, que são feitos diariamente. A gente projeta que, no fim das contas, o mês vai fechar em 166 mil”, explica.
Medo do desconhecido
Seguramente, qualquer desconto é bem-vindo. Mas resta saber se será suficiente para atingir o objetivo pretendido. Além disso, ainda desconhecemos o que as montadoras pretendem fazer para oferecer automóveis mais acessíveis, considerando que a margem de lucro de carros de entrada já é baixa e não dá para retirar itens de segurança obrigatórios nem aumentar o nível atual de emissões”Ricardo Bacellar da Bacellar Advisory Boards.
Para o especialista, a recuperação da indústria automotiva brasileira, que há três anos sofre com baixas vendas e elevada capacidade ociosa das fábricas, não passa apenas por corte de impostos e linhas de financiamento mais acessíveis: é preciso recuperar o poder de compra dos cidadãos.
“Apenas subsídio não resolve o problema. Precisamos de projetos estruturantes, que incluem aumento na renda média, mais empregos e menos tributos”, afirma.
A reportagem procurou também a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que afirmou que não iria se pronunciar sobre o tema antes do dia 2, quando divulgará seus próximos resultados.