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Automóveis sem motorista é coisa do futuro? Nos Estados Unidos, isso já é uma realidade. Cidades como Houston (Texas), Los Angeles, Moutain View e São Francisco (Califórnia) estão convivendo com carros autônomos no trânsito, especialmente por meio de aplicativos de transporte, como a Uber. A modalidade, no entanto, tem levantado uma série de debates.
O brasileiro Leto Leitão Ferreira Neto, 25, é um dos clientes que está participando dos testes da Uber no país. Natural de Itaueira (PI), o influenciador compartilha nas redes sociais as experiências com o veículo em São Francisco. Na cidade, a empresa que fornece os carros autônomos é a Waymo, pertencente à Alphabet, que é parceira da Uber.
A Tilt, Leto contou que está utilizando a modalidade desde fevereiro deste ano, especialmente aos fins de semana. “Me inscrevi em agosto do ano passado para o programa de entrada e, desde que fui aceito, tenho aproveitado. Por enquanto, não é todo mundo que tem acesso aqui em São Francisco”, explicou ele.
De início me senti deslocado em outro mundo, pois é nova a sensação de você ver o carro saindo e dirigindo sozinho, principalmente, em ver a direção girando, mas, como sou antenado em tecnologia, confiei 100%.
Leto Neto.
Para pedir um carro autônomo, o usuário deve seguir o mesmo procedimento que faria ao solicitar uma corrida convencional. É proibido tocar nos botões de controle e, para o automóvel andar, o passageiro precisa estar com cinto de segurança.
A influenciadora Livian Fernanda, 23, viveu uma situação inusitada com o noivo durante uma corrida em Phoenix, no Arizona. Por ele ficar alguns minutos sem cinto de segurança, o carro parou na via e eles receberam uma ligação do comando de controle orientando o uso do dispositivo.
O carro ficou apitando para ele colocar o cinto. Assim que o dispositivo para de apitar, a central entra em contato, fala seu nome e pede para que coloque o cinto. Enquanto você não coloca, a pessoa fica na ligação e diz que se não fizer isso, vai precisar descer do carro e a corrida será cancelada. Isso traz um conforto por saber que tem alguém vendo o trajeto.
Livian Fernanda.
Natural de Valinhos (SP), Livian afirma que a segurança foi um dos principais benefícios que ela encontrou na corrida.
O carro segue o padrão das ruas: todos os limites de velocidade são respeitados. Ele freia para o pedestre passar e quando algum carro sai do estacionamento, por exemplo, ele percebe que o veículo está se aproximando. Desde o momento que o carro chega para nos buscar, dá para ver que tem segurança. O aplicativo mostra todos os dados, o percurso. E tem ainda o conforto de não ter que se preocupar com quem está dirigindo, se alguém pode fazer alguma coisa com você dentro do carro. É uma segurança principalmente para as mulheres que estão sozinhas.
Leto, no entanto, acredita que a presença humana é importante, mesmo que nos bastidores. Ele conta que viveu algumas situações incomuns com carro autônomo. Em uma delas, ele quase sofreu uma batida porque o carro dele e outro — com motorista — iam entrar no mesmo sentido. No entanto, a situação foi evitada tanto pela inteligência artificial quanto pelo humano dentro do outro carro.
Na outra, o veículo não entendeu que a via estava fechada pelas autoridades. “Como o carro iria seguir a frente, ele ficou parado sem conseguir dar a volta, o que o obrigou a ligar o pisca-alerta. Automaticamente, a central entrou em contato comigo falando que alguém iria tomar o controle do carro”, diz ele.
Acho que ainda precisa melhorar o modo como decide o que fazer em casos específicos, como esse. O que o ser humano poderia levar segundos para fazer, o computador não conseguiu e precisou de ajuda. Mas nada que não possa ser corrigido por especialistas no futuro.
Leto Neto.
Tanto Leto quanto Livian perceberam que houve uma redução no preço em relação aos carros convencionais. Livian disse ter reduzido em até US$ 4 o valor de uma corrida. Já Leto percebeu que não há tarifa dinâmica com os autônomos. Ou seja, o preço não altera ainda que haja uma demanda muito grande em um mesmo lugar. “Quando a demandada em um lugar aumenta, o preço continua com o mesmo valor”, diz ele.
Testes não são novidades
Os testes de carros autônomos já ocorrem há alguns anos nos Estados Unidos. Desde 2018, por exemplo, a unidade de carros autônomos da Alphabet está ruas.
Naquele ano, a Uber também tinha uma frota própria circulando no país. A experiência despertou atenção das autoridades quando uma ciclista morreu atropelada por um carro da empresa. Elaine Herzberg, 49, conduzia uma bicicleta pela estrada em Tempe, no Arizona, quando o foi atingida pelo veículo. Essa foi a primeira morte registrada envolvendo um automóvel autônomo, segundo a BBC.
Na ocasião, as investigações apontaram que o sistema do carro não considerava a possibilidade de uma pessoa atravessar a rua fora da faixa de pedestres. A Uber suspendeu as operações, mas mais tarde retomou os testes com novas parcerias.
Desde a popularização dos carros autônomos, outras empresas também tem apostado na modalidade, como a Lyft. O aumento dos veículos sem motoristas nas cidades tem chamado atenção para um maior estresse no trânsito, segundo reportagem de abril do Washington Post.
Em janeiro, a Autoridade de Transporte do Condado de São Francisco escreveu uma carta para as agências estaduais descrevendo as preocupações com os planos de expansão dos veículos.
Dentre as ocorrências descritas, há a de um carro da Waymo que não conseguiu contornar uma árvore e parou no meio de um cruzamento e outro da Cruise, braço da General Motors, que foi responsável por uma colisão na traseira de um ônibus urbano.
São Francisco está animado com o potencial que os carros autônomos podem oferecer para expandir as opções de transporte disponíveis na cidade (…). Mas, desde a aprovação de circulação dos carros da Cruise, houve paradas não planejadas e inesperadas nas faixas de tráfego, obstruindo o trânsito e o serviço, além de se intrometerem em cenas de emergência, incluindo cenas de supressão de incêndio, criando perigos adicionais.
A automação dos veículos também tem levantado debates sobre as oportunidades de trabalho. Após o anúncio dos carros autônomos, especulou-se que os motoristas parceiros da empresa poderiam perder seus postos com o avanço da tecnologia. Na ocasião, o então CEO da Uber, Travis Kalanick, refutou a ideia dizendo que não imagina que o número de motoristas humanos irá cair tão cedo.
Existem lugares onde os carros autônomos simplesmente não poderão ir ou que não conseguirá lidar em certas circunstâncias. (…) Posso imaginar 50 mil a 100 mil motoristas humanos ao longo de uma rede de um milhão de carros.
Kalanick ao Business Insider em 2016.
Além do transporte de pessoas, a Uber também está trabalhando com a ideia de levar os veículos autônomos para as entregas nos Estados Unidos.
O Uber Eats, o delivery da empresa, fechou uma parceria de dez anos com a Nuro, companhia de veículos autônomos. Testes já ocorrem em Houston (Texas), Los Angeles e Mountain View (Califórnia). Segundo a Forbes, os veículos da modalidade são menores, mas incluem espaço para duas dúzias de sacolas de supermercado.
Procurada por Tilt, a Uber informou que, por enquanto, não há previsão de expandir carros autônomos no Brasil.
Créditos: Tilt/UOL.