Foto: Arshad Arbab/EFE/VEJA.
Com o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (PHEIC, na sigla em inglês) para a mpox, zoonose viral que ficou conhecida como varíola dos macacos e monkeypox, anunciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quinta-feira, 11, apenas uma doença permanece no mais alto status dado pela entidade para uma doença em circulação no mundo: a poliomielite, também chamada de pólio e paralisia infantil. Altamente contagiosa e responsável por quadros de paralisia nos membros inferiores, ela é mantida em emergência internacional desde 2014, o período mais longo desde a criação do mecanismo em 2005. Na semana passada, após mais de três anos, a OMS também encerrou a emergência global para Covid-19.
A declaração ocorreu diante do registro de 68 casos de poliovírus selvagem, o que ameaçava a meta de erradicação global da doença estabelecida pela Assembleia Mundial da Saúde em 1988, quando a pólio causava paralisia em 1 mil crianças por dia. Entre 1988 e 2021, os casos de poliovírus selvagem caíram de 350 mil episódios em 125 países endêmicos para seis casos em 2021. O último episódio notificado no Brasil ocorreu em 1989 e o país foi considerado livre do vírus em 1994.
O polivírus selvagem tem três cepas e duas já foram erradicadas. O tipo 2 foi eliminado em 1999 e o 3, em 2020. No ano passado, o poliovírus endêmico tipo 1 continuava ativo apenas no Paquistão e no Afeganistão.
A pólio afeta principalmente crianças com menos de 5 anos e foi responsável por surtos que deixaram pacientes pediátricos sem movimentos das pernas e causou mortes. Segundo a OMS, uma em cada 200 infecções leva à paralisia irreversível e, nessa população, 5 a 10% morrem em decorrência da imobilidade dos músculos respiratórios.
O contágio ocorre de pessoa para pessoa por via oral-fecal ou por contato com alimentos ou água contaminados. A multiplicação do vírus ocorre no intestino e, após a invasão do sistema nervoso, a paralisia pode ter início em questão de horas. Os primeiros sintomas são febre, fadiga, dor de cabeça, vômitos, rigidez de nuca e dores nos membros.
Não há tratamento para a poliomielite e só a vacina pode evitar casos da doença. Ela é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para bebês e crianças, que também devem receber doses de reforço (veja esquema abaixo).
A cobertura vacinal para evitar surtos e epidemias deve ser de 95%, mas, no caso da pólio, ela tem caído. Um levantamento da Unicef divulgado no fim do mês passado mostrou queda de 84,2% (2019) para 67,7% (em 2021).
Em setembro do ano passado, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou que Brasil, República Dominicana, Haiti e Peru corriam risco muito alto de retorno da poliomielite por causa da queda nas coberturas vacinais.
Veja calendário de vacinação contra a poliomielite
Esquema inicial
Poliomielite 1,2,3 (VIP – inativada)
1ª dose: 2 meses de idade
2ª dose: 4 meses de idade
3ª dose: 6 meses de idade
Reforço
Poliomielite 1 e 3 (VOP – atenuada)
1° reforço: 15 meses de idade
2° reforço: 4 anos de idade
Emergência internacional
A Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional é uma das medidas previstas pelo Regulamento Sanitário Internacional (RSI), estabelecido em 2005, que tem como foco “ajudar a comunidade internacional a prevenir e responder a graves riscos de saúde pública que têm o potencial de atravessar fronteiras e ameaçar pessoas em todo o mundo”. Com a declaração, as ações dos países passam a ser coordenadas para evitar que a doença se espalhe ainda mais e cause impactos para as populações e sistemas de saúde.
Até o momento, a emergência foi declarada sete vezes: na pandemia de gripe H1N1 (2009), nos surtos de Ebola (na África Ocidental 2013-2015 e na República Democrática do Congo 2018-2020), poliomielite (2014), Zika vírus (2016), Covid-19 (2020) e mpox (2022).
Créditos: VEJA.