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O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse na quinta-feira (11) que o governo brasileiro e o Mercosul vão reavaliar o acordo comercial com a União Europeia após o bloco europeu impor novas condições.
“A União Europeia, sem crítica direta ao grupo, a nenhum dos países diretamente, tem um viés muito protecionista. E nós estamos reavaliando o acordo. Esse documento [com demandas da UE] é extremamente duro e difícil, criando uma série de barreiras e possibilidades, inclusive de retaliação, de sanções”, disse.
“Isso [novas demandas] pode ter prejuízos enormes. Isso aumenta, inclusive, os compromissos no Acordo de Paris, por exemplo, que o Brasil vai respeitar e vai fazer”, completou Vieira.
Mas as novas demandas sobre a parceria — de termos acordados em 2019, na gestão Bolsonaro — não partem somente dos europeus. Parte do novo governo brasileiro vê na sinalização da UE a possibilidade de abrir diálogo sobre outros termos de acordo.
Entre estes termos estão as cotas para produtos agrícolas brasileiros acessarem preferencialmente o mercado europeu e exigências na área de compras públicas — que poderiam contradizer o “espírito” de uso dessas aquisições para estímulo de políticas industriais.
Há ainda uma divisão entre atores que acreditam que as falas de Lula sobre a invasão russa à Ucrânia podem ter impactado negativamente a relação e outros que veem o velho continente pouco flexível em suas demandas.
Caio Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), destaca ainda uma mudança na relação comercial entre os blocos ao longo das últimas décadas que impacta diretamente os rumos da negociação.
“As coisas mudaram. Imagine que quando começamos a negociar o acordo, as exportações brasileiras eram 45% para a Europa, agora são 18%. E eles continuam a se posicionar como ‘rulers’ — quer dizer, ‘regradores’ do mundo”, disse.
O futuro do acordo
Segundo o chanceler, Mauro Vieira, uma contraproposta será apresentada à União Europeia. Contudo, ele não confirmou um prazo para tal.
O governo brasileiro tem expectativa de que pode haver uma janela para avanço do acordo no segundo semestre deste ano, quando a Espanha — um dos maiores entusiastas da parceria dentro do bloco europeu — assume a presidência do Conselho da União Europeia.
Por outro lado, gera expectativa negativa a realização de eleições na Argentina no segundo semestre deste ano, já que o acordo não vem sendo recebido por setores do país vizinho, especialmente por suposto risco de desindustrialização que seus termos acarretariam.
O presidente da Abag diz que realiza periodicamente reuniões com entes privados brasileiros e de outros países do Mercosul e reitera o interesse no acordo por parte do bloco. Ele crê, porém, que nos termos atuais a parceria encontrará dificuldades para avançar.
“Devo deixar claro que há o maior interesse dos países do Cone Sul, do setor privado, para que o acordo saia. E percebo do lado Europeu também esse interesse. Mas devo dizer que atropelando nossas leis internas, como com o ‘desmatamento zero’, eles não vão conseguir nada e vamos ter muita dificuldade em assinar esse acordo”, aponta.
Créditos: CNN.