MONTAGEM R7/REPRODUÇÃO TIKTOK/INSTAGRAM
A influenciadora Janaína Braga se defendeu de críticas nas redes sociais, dizendo que a filha recebe limites, mas sem violência
Uma mãe gerou polêmica ao divulgar um vídeo no qual recebe tapas no rosto, dados pela própria filha. “Quando você é a favor da educação respeitosa e sua filha age assim”, diz a legenda do vídeo, em tom de humor.
A influenciadora Janaína Braga tem mais de 493 mil seguidores apenas no TikTok, onde produz conteúdos sobre maternidade.
O vídeo que viralizou já foi visto mais de 9,5 milhões de vezes na plataforma. No Twitter, algumas páginas compartilharam as imagens, que também foram reproduzidas mais de 11 milhões de vezes até o momento.
Janaína recebeu diversas críticas por supostamente não reagir à agressão da filha Cristal, de 2 anos. Em entrevista ao R7, a influenciadora se disse assustada com a repercussão.
“Está sendo bem difícil lidar com tanto ‘hate’. Com outras mães me julgando, e com comentários tão maldosos”, desabafou ela.
Após todas as reações ruins, Janaína chegou a limitar os comentários do vídeo, que tinham até mesmo mensagens incentivando a violência contra a menina: “Teve um que disse ‘essa criança deveria tomar uma martelada'”.
Janaína explicou que as cenas vistas no vídeo são uma exceção, e que Cristal não costuma ter esse tipo de comportamento. “Eu recebi inúmeras mensagens falando que ‘estava gravando ao invés de acolher’ e ninguém parou para realmente ouvir a resposta. A Cristal nunca tinha feito aquilo, então eu gravei para mostrar pro pai dela como ela tinha ficado quando ele saiu, e logo depois desliguei a câmera e segurei ela até se acalmar”.
Segundo a criadora de conteúdo, o tamanho de Cristal parece ter confundido muita gente: “Ela tem 2 aninhos, apesar de parecer grande é muito pequena, inclusive ainda usa fraldas. As pessoas estão agindo como se ela fosse uma adolescente de 15 anos me batendo e é horroroso de ver esses comentários”.
Cristina Mendes Gigliotti Borsari, coordenadora do setor de psicologia do hospital infantil Sabará, detalhou um pouco melhor o que seria a ‘educação respeitosa’ citada no vídeo, também chamada de ‘educação positiva’: “Quando a gente pensa nessa educação positiva, nós estamos falando de pais e mães que prezam muitas vezes pelo diálogo, pelas conversas, e estabelecem regras claras. As regras são muito importantes para estabelecer os limites e promover uma disciplina na casa, na rotina da criança. O diálogo é importante porque ele faz com que a criança consiga expressar suas emoções, seus sentimentos, e o respeito mútuo”.
A médica disse que o método também visa mostrar para a criança que ela não pode se comportar de maneiras que façam mal aos outros: “O respeito mútuo é uma das bases desse modelo de educar e, no vídeo, a gente vê que a criança está batendo no rosto, [demonstrando] um pouco de descontrole. É o momento em que o pai precisa ser um pouco mais enérgico com a criança, no sentido de impor o limite. Não estamos falando, em hipótese alguma, de gritar ou bater na criança, de comportamentos punitivos”.
Janaína revelou que é contra qualquer tipo de punição física para a filha: “Bater em uma criança para ensinar só vai gerar traumas. A criança vai sentir raiva, vai ter medo, vai tentar fazer o ‘errado’ escondido. Bater nunca vai ensinar, só vai afastar seu filho de você”. A influenciadora chegou a gravar um novo vídeo, para mostrar que Cristal é, na verdade, uma criança muito doce, e para esclarecer algumas das dúvidas que a primeira publicação gerou.
Cristina argumentou que é possível ser firme com a criança, sem que isso represente qualquer ameaça física ou psicológica: “De repente, segurar as mãos, olhar nos olhos, pedir para ela respirar, conversar com ela, perguntar o que ela está sentindo, para ela expressar esse sentimento. É isso que a psicologia positiva e a educação positiva fazem. Tem técnicas que a gente pode fazer com os filhos no momento da birra”, disse a médica.
A especialista ensinou uma dessas técnicas para tentar acalmar as crianças em momentos de estresse: “A gente usa muito com crianças na primeira infância, de 0 a 5 anos, você vai ‘assoprar a florzinha’. Você segura uma florzinha e fala para a criança assoprar. Nisso a criança está tendo um controle da respiração, vai acalmando essa serotonina, essa adrenalina que está exacerbada no sistema neurológico, e a criança vai trazendo mais tranquilidade”.
Exposição nas redes sociais
A pequena Cristal encanta os seguidores de Janaína nas redes sociais
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
A médica pediatra Mariele Rios, professora de pediatria da Universidade de Itaúna, disse em entrevista ao R7 que muitas pessoas ainda carregam visões antiquadas do que é educar uma criança: “Infelizmente, muitas das famílias ainda acham que a educação precisa vir através de uma hierarquia rígida, em que o pai e a mãe mandam a qualquer custo, inclusive através de força, violência, ódio, para que uma criança obedeça”.
“Essa menina precisa é de uma boa chinelada para aprender”, dizia um dos comentários no Twitter. “Não precisa bater na criança, mas um pequeno susto, um tapinha leve, isso tudo ajuda a ensinar, sim”, concordou outra internauta.
A psicóloga Cristina Borsari reforçou que punir as crianças não tem resultados bons para o desenvolvimento, e deu alternativas que funcionariam melhor: “O comportamento de punição, de castigo, de palmadas, ele não deve existir. Isso tem estudos já que comprovam. O que você tem que fazer? Regras claras que devem ser seguidas e, se não forem, você perde algum privilégio. Aos fins de semana a criança pode dormir um pouco mais tarde, tomar um sorvete, pode fazer algo que é muito prazeroso para ela? ‘Você não cumpriu o combinado, então você não pode tomar o sorvete esse fim de semana’. Sempre mostrando causa e efeito”.
Para a médica Mariele Rios, um certo nível de agressividade é normal em crianças, principalmente até os 4 anos, já que elas ainda não sabem expressar corretamente os sentimentos. Por isso, é importante ter uma comunicação bastante clara: “A função do adulto responsável é ensinar aquela criança que ela pode ter aquela sensação [raiva, frustração, tristeza], mas que ela não pode desrespeitar os outros, ela não pode ultrapassar os seus limites, então a função do adulto nesse caso é primeiro não permitir que essa criança se machucasse, então sim, você pode segurar a criança, segurar a mão dessa criança, dizer pra ela ‘olha, eu entendo que você está frustrada, eu entendo que você está com raiva, mas bater em mim não é uma opção. Nessa casa ninguém encosta a mão em ninguém'”.
A quantidade de comentários recebidos por Janaína fez com que a influenciadora refletisse sobre seu trabalho: “Confesso que sim, pensei em desistir. Mas, depois de conversar com muitas pessoas, eu vi que muita gente já passou por isso e é inevitável”.
Ela ainda explicou ao R7 o motivo para ter escolhido compartilhar o vídeo, que tinha sido feito apenas para mostrar ao pai de Cristal: “Eu gravo vídeos para a internet desde os 14 anos, mas quando engravidei, e veio a onda do TikTok, foi que meus vídeos começaram a chamar um grande público. Desde então, eu abordo o tema maternidade com muito humor, que na verdade foi a minha intenção quando postei o vídeo, fazer uma ‘trend’ do TikTok”.
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Para a psicóloga Cristina, a empatia também é fundamental para estar presente na internet: “A gente sempre precisa se colocar no lugar do outro e respeitar os valores que a mãe e o pai julgam essenciais para a criação e educação de um filho. A gente vê hoje uma sociedade muito julgadora, muito imediatista, onde não existe o respeito por aquilo que a gente tem como premissa”.
“É claro que se você vê algo que infringe leis, que traz um prejuízo para o desenvolvimento de uma criança, algo que ameaça a integridade física de uma criança, a gente precisa intervir, conversar sobre isso. A internet virou um lugar em que eu deposito a minha fala de uma forma que vá atingir o outro sem me colocar no lugar desse outro”, pondera a especialista.
Mariele Rios concordou com a psicóloga, relembrando que existe mesmo uma lei que protege as crianças de castigos físicos: “Tem a Lei da Palmada, que as pessoas não levam a sério, mas é muito sério. A punição física, a punição emocional, inclusive o castigo, eles têm consequências na vida da criança”, argumentou ela ao citar a Lei nº 13.010, conhecida como Lei Menino Bernardo.
A médica dá outro exemplo para ilustrar como bater em uma criança não faz sentido: “Então se você tem um idoso e o idoso acorda de madrugada e chora, você vai bater no idoso? Se ele faz cocô no lugar errado, você vai bater? Claro que não, você sabe que ele tá perdendo aquela capacidade, aquele controle. E a criança é a mesma coisa, ela não é um adulto. Então a gente tem que entender, e auxiliar e cuidar sem as punições”.
Cada família funciona de um jeito
Cristal e Janaína também receberam muitas mensagens de apoio
MONTAGEM R7/REPRODUÇÃO INSTAGRAM
Segundo a médica Cristina Borsari, a criação e educação de uma criança são questões complexas e, por isso, fazem os ânimos ficarem tão exaltados na internet: “Eu penso muito como psicóloga, como educadora e mãe, que cada família possui uma opinião e o método que ela considera ideal para a criação do seu filho, e isso vai ser baseado num conjunto de fatores, vai ser baseado na história da família, como esses pais foram educados, como eles tiveram acesso e orientação dos seus próprios pais, quais são os valores da família”.
A especialista completa que não existe uma fórmula secreta para educar uma criança: “A gente não tem uma regra, uma receita de bolo. Cada família é única, cada família tem os seus valores. A gente tem estudos científicos, orientações profissionais, e a gente pode ver o que funciona melhor na rotina da minha casa. Castigos, bater, isso hoje a gente recrimina. A gente precisa colocar essa criança como protagonista do seu comportamento. Tentando sempre pelo diálogo, pelo afeto, pelo carinho, pelo tempo de qualidade com o seu filho”.
Após todo o alvoroço, Janaína fez uma reflexão sobre a maternidade e voltou a dizer que dá limites para a filha sem violência: “Está bem longe de ser um conto de fadas [a maternidade]. Foi um fato totalmente isolado o do vídeo, ela tem limites e é uma criança supercarinhosa. Cada uma sabe o que é melhor para o seu filho e nenhuma mãe deveria julgar a outra”.
A médica Mariele Rios concluiu explicando que o processo de educar uma criança é algo normalmente repetitivo: “Você vai ter que repetir mil vezes para aquela criança, você vai ter que usar o lúdico, você vai ter que ter paciência, você vai ter que ser exemplo. É demorado, é um caminho demorado, mas ele é um destino mais certo do que o medo”.
R7