O zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos, não teria cumprido o combinado de cartões e gerou uma grande discussão entre os apostadores investigados na Operação Penalidade Máxima. As conversas que incluíram como tema a morte do jogador foram levantadas pelo Ministério Público de Goiás. O UOL teve acesso ao documento.
O que aconteceu
- Romário Hugo dos Santos, conhecido como Romarinho, foi cobrado na conversa com o contato salvo como “Jesus L@3rCio Didi” sobre a aposta fracassada que teria sido combinada com Eduardo Bauermann. O lucro seria de R$ 800 mil.
- Romarinho tenta defender Bauermann e contesta o colega da quadrilha: “Quer que eu mate o cara, mano?”
- A polícia encontrou duas armas de fogo e 23 munições sem autorização legal na casa de Romário.
Veja a discussão abaixo:
Jesus L@3rCIO Didi: “E aí, meu truta. Como vai ficar essa fita, mano? Mando mensagem e não responde. Vê aí, mano… Se não, vou mandar pros amigos
Aí eles veem a melhor maneira para resolver isso”.
Romário Hugo dos Santos: “Ô, jovem, deixa eu falar uma fita para tu. Está pensando que aqui tem filho de pai assustado, vagabundo? Se você quiser passar para frente, pode passar para frente, manda me ligar, truta. Entendeu, mano? Manda me ligar, rapaz, eu não estou manobrando seu dinheiro, não. Eu não mexi a mão no seu dinheiro, não. Entendeu, mano? Você viu que a parada lá [do Bauermann] deu trave. O truta não tem como pagar nós, o truta quer pagar fazendo os trampos, mano. Infelizmente, vai fazer o que? Vai matar o cara para perder dinheiro? EU mesmo não vou matar ninguém para perder meu dinheiro, mano. Entendeu, mano? O cara está disposto a dar o bagulho do passe [direitos econômicos] dele para nós, cabe a nós correr e tentar vender o passe dele lá também, mano. Se você quiser, filho, pode botar qualquer irmão para pular aqui na minha linha, aí se você quiser que nós encoste na Baixada também, nós encosta, entendeu, mano? Tem problema nenhum, amigão. Do mesmo jeito que você perdeu, eu também perdi. Perdi uma nota também, mano. Você quer eu faça o que? Quer que eu mate o cara, mano? Você também é aí da Baixada, pega seus revólveres aí também, vai atrás do cara e mata o cara. Entendeu, mano? Vai fazer o que? O cara não tem o dinheiro, parceiro. O cara tinha feito um combinado lá comigo, ele já me ligou, o empresário dele veio aqui três vezes conversar comigo que o Santos nem está pagando, está com três meses de salário atrasado lá dos caras, mano. Está com três meses de salário atrasado, entendeu? Eu vou fazer o que? Matar o cara, mano? Pega aí o passe do cara, é só pegar o passe do cara e vender para alguém, mano. Entendeu? Nós têm o passe do moleque na mão, é só arrumar alguém para comprar. Estou querendo vender isso aí, eu falei com um truta ali que se o truta me der 600 mil eu mando embora o passe dele. E ele está falando de R$ 1,5 milhão. Eu quero é que se f… Se vender por 600 mil eu estou vendendo”.
Jesus L@3rCIO: “Meu truta, ninguém está falando isso aí, não, de botar o revólver e matar ninguém, mano. Ninguém está nessa linha de raciocínio, não, entendeu? Nós somos maloqueiros aqui também, irmão. Não tem dessa não. Agora tu está vindo com uma palavra a mais aí de botar revolver na cara e matar o cara. Não é isso, não. Quero chegar nisso aí, não. Quero chegar na melhor forma aí para pegar minha moeda de volta, entendeu? Ele falou para mim que estava se acertando e tinha pago três meses. Agora, se ele não está, ele já está com outra conversa, entendeu? Te mandei um áudio aí você nem sequer escutou. Está escutando aí agora se pá, entendeu, vagabundo? Então demorou, demorou, é isso mesmo”.
Romarinho: “Irmão, você está entendendo o que eu falei para você? Eu mandei um áudio para você te explicando direitinho. Certo, mano? O empresário dele fala comigo todo dia, certo? O moleque mesmo não quer nem falar mais comigo, porque um truta que trampa com nós foi preso numa parada ali do futebol. O Bruno Lopez, certo? O truta foi preso, o parceiro nem quer ficar muito com contato, que o cara está em pânico de acontecer qualquer fita com a carreira dele, certo? Então, meu amigo, o que nos resta é isso aí, ou é pegar esse passe dele e vender, mano, ou esperar voltar o Campeonato Brasileiro e fazer umas caminhadas com ele para levantar o dinheiro que perdemos”.
Jesus L@3rCIO: “Lógico que eu entendo, eu compreendo, irmão. Só que é o seguinte: meu cavalo tem que andar aqui também. E outra, mano, se o cara está em choque de entrar na linha aí… Para estar tendo entendimento para ver a melhor forma e pá, para resolver isso aí. Quem vai garantir que ele vai tomar um cartão no Brasileiro, irmão? Lógico que ele não vai tomar, irmão. Não vai tomar, entendeu? Então, se você não arrumar ninguém para comprar essa parada dele aí, ele que se vire, irmão. Venda carro, joia. Vende o que for, mano”.
O que Bauermann teria deixado de fazer?
De acordo com o processo, Bauermann topou R$ 50 mil para levar cartão amarelo contra o Avaí, no dia 5 de novembro de 2022 e não cumpriu. Para se redimir, teria prometido ser expulso diante do Botafogo, cinco dias depois. O zagueiro levou o vermelho, mas após o apito final, o que não é contabilizado nas casas de apostas.
O atleta do Peixe, então, passou a receber ameaças de morte dos apostadores, com cobranças para ressarcir a quadrilha, como mostram as conversas do processo. A aposta que incluía cartões para Dadá Belmonte, ex-Goiás, e Igor Cariús, ex-Cuiabá, renderia R$ 800 mil.
O defensor, de acordo com as mensagens, alegou não ter R$ 800 mil à disposição e se comprometeu, por meio do empresário Luiz Taveira, a pagar um acordo de R$ 50 mil mensais em 20 parcelas (R$ 1 milhão no total, com juros), além de usar seus direitos econômicos como garantia. O último pagamento registrado nas mensagens foi em fevereiro, após forte cobrança dos apostadores.
Bauermann, no print de Whatsapp, envia uma proposta que recebeu do León (MEX) de 2,5 milhões de dólares e avisa que receberá uma oferta maior, de 4 milhões de dólares, no fim do ano. Além disso, teria afirmado que acha que conseguiria envolver mais dois jogadores do Santos no esquema. Tudo para tentar acalmar os líderes da quadrilha.
Com informações do UOL