Imagem: Getty Images.
Estações de metrô são um espaço para a arte. No de São Paulo há um esforço nesse sentido, embora essa não esteja entre as principais categorias pelas quais ele é reconhecido, vamos combinar. É diferente do de Moscou, por exemplo, que tem estações monumentais que são ícones da arte de propaganda soviética (uma estação trata inclusive da longa relação com a Ucrânia, o que já foi assunto aqui no Terra à Vista).
Moscou talvez seja mais conhecido e celebrado, mas foi Estocolmo que abraçou para valer a ideia de que as estações não são apenas equipamentos públicos essenciais para o transporte em grandes cidades. O metrô da maior cidade escandinava transpira arte. As informações são do Terra à Vista (UOL).
Nem sempre foi assim: a capital sueca ganhou sua primeira linha em 1950, e foi preciso uma década de discussões entre o poder público e a comunidade artística para que uma tradição da Suécia, as exibições de arte públicas, se espalhasse também pelo subterrâneo.
A ideia parte da premissa de que nem todo mundo tem dinheiro, tempo ou disposição de ir a um museu. Obras do tipo, então, cumprem esse papel de levar arte, de graça, ao dia a dia das pessoas (mesmo que elas não tenham pedido por isso).
Nos últimos 60 anos, o metrô de Estocolmo se desenvolveu para virar o que os órgãos de turismo locais chamam de “maior exibição de arte do mundo”. Viajar pelos 110 km de extensão da rede e passar pelas 100 estações é um passeio por si.
Foi algo que se desenvolveu junto com o metrô. Sempre que o governo anunciava novas linhas e estações, artistas entravam em cena ao lado dos engenheiros.
Isso se mantém até hoje. Em 2018, com o anúncio de uma expansão de 11 novas estações, previstas para 2026, 150 artistas foram contratados para os trabalhos de arquitetura e design.
Uma das mais famosas e fotografadas é a Kungstradgarden (“jardim do rei”, em sueco). Como o nome indica, a área é um dos parques públicos mais antigos da capital. Entre os séculos 17 e 19, ali ficava um belo palácio, que, incendiado, deu lugar a um campo de exercícios militares e, depois, ao parque.
As estátuas na estação são réplicas das que havia no antigo palácio. O padrão de cores em vermelho, branco e verde são uma referência ao jardim em estilo francês.
Além das atrações em escalas grandiosas, há as minúsculas. Em 2016, cientistas descobriram uma espécie nova de fungo, com uma estrutura de DNA única, na estação. Tem também uma espécie de aranha das cavernas (Lessertia dentichelis) do sul da Europa que chegou ali, supostamente, de carona no maquinário usado na construção. Adaptou-se muito bem, mas não saiu de lá: é o único lugar da Escandinávia onde ela pode ser vista, segundo o site Visit Stockholm.
A estação Mörby Centrum tem azulejos coloridos sobre a rocha. É bonita, poderia ser o quarto de Steve Pequeno, do “Incrível Mundo de Gumball”.
Mas o barato mesmo é quando percebermos que eles mudam de cor de acordo com a posição de quem olha. É uma ilusão de ótica criada por Gösta Wessel e Karin Ek com o uso de cores sob luz e sombra. Dependendo do lugar onde o passageiro está, os tons tendem ora para o rosa, ora para um verde-acinzentado.
Na Solna Centrum, de 1975, Karl-Olov Björk e Anders Aberg criaram um ambiente idílico rubro-verde. O vermelho do teto seria o pôr do sol atrás de um bosque verdejante, representado pelo verde da parte inferior das paredes. Os artistas posteriormente adicionaram elementos que falam de êxodo rural, desmatamento e outras questões ambientais — um tema político importante em um país que é pioneiro no assunto (e terra natal de Greta Thunberg, aliás).
A Stadion, de 1973, é uma das primeiras estações-cavernas de Estocolmo. A fim de evitar uma associação fantasmagórica com o submundo (sim, isso podia acontecer), a estação ganhou uma arte estupidamente alegre: um céu desbundante, rasgado por um enorme arco-íris.
Por mera coincidência, a Parada LGBTQIA+ de Estocolmo, que acontece desde 1998, é realizada no complexo esportivo Östermalms, ali ao lado.
Até a estação central de Estocolmo, T-Centralen, inaugurada em 1957, usa a arte a seu favor. Em uma plataforma, os muros azuis, além de indicarem o acesso à linha azul, transmitem uma calma difícil de imaginar no centro de uma metrópole.
A veia artística se estende para além da cidade. No Citybanan, o trem metropolitano, inaugurado em 2017, 14 artistas trabalharam em diversas estações. A Odenplan é a mais emblemática. Pendurado no teto do corredor de uma das entradas, uma instalação de David Svensson é feita de linhas brancas irregulares de luz fluorescente, brilhando nos túneis com seus 400 metros de iluminação LED.
Estação mal-assombrada
O sistema metroviário de Estocolmo também tem sua dose de lendas urbanas. A mais famosa fala de uma estação abandonada, de onde parte o Silverpilen (“flecha de prata”), um trem-fantasma prateado.
A maldição teria começado, segundo uma das versões, com uma jovem voltando para casa tarde da noite, após uma festa. Ela pegou o tal trem prateado, achou os outros passageiros meio estranhos, mas não deu bola. Só entrou em pânico quando viu que o carro não parava em nenhuma estação.
Ao passar por Kymlinge, o trem parou. Os passageiros atravessaram as portas trancadas e desapareceram. Quanto à garota, foi encontrada morta ou enlouquecida, caminhando no bosque vizinho de Ursvik.
A lenda tem uma base de verdade. O trem cinza, que muitos holmienses (sim, esse é o gentílico de Estocolmo) alegam ter visto pela malha metroviária, existe para valer.
É apenas um carro de apoio, sem pintura, usado em momentos de manutenção. Só isso.
Já Kymlinge é uma cidade da região metropolitana de Estocolmo que, nos anos 1970, passou por um período de urbanização que acabou interrompido. A ideia de transferir escritórios e agências governamentais para lá acabou engavetada quando as autoridades perceberam que era melhor focar em outras áreas mais centrais e ainda pouco urbanizadas e preservar o verde de Kymlinge.
Assim, as obras da estação foram interrompidas. A estrutura está lá, e é possível vê-la sem sair do trem, logo após passar pela estação Hallonbergen.
Créditos: UOL/Terra à Vista.