O real teve o segundo pior desempenho do dia entre 33 divisas, em meio a receios em relação ao arcabouço fiscal
O dólar à vista exibiu valorização forte, de mais de 2%, na sessão de hoje, em um dia em que a moeda americana mostrou força contra a maioria das 33 divisas acompanhadas pelo Valor. Com isso, devovleu as perdas da semana passada, na terceira sessão seguida de apreciação. O real, por sua vez, teve o segundo pior desempenho do dia, resultado de um movimento de realização de lucros e das incertezas da execução do novo arcabouço fiscal, principalmente no que se refere ao aumento de arrecadação, conforme apontaram operadores de câmbio.
Terminadas as negociações, o dólar comercial apreciou 2,21%, cotado a R$ 5,0860, bem próximo da máxima do dia, de R$ 5,0865, e distante da mínima de R$ 5,0050. Já o contrato futuro da moeda americana para maio, perto do horário de fechamento, avançava 2%, a R$ 5,0960.
No exterior, também perto do fim da sessão, o dólar avançava 1,01% ante o peso colombiano, enquanto recuava 0,04% ante o peso chileno e 0,02% ante o rand sul-africano. Já o índice DXY exibia crescimento de 0,21%, a 101,957 pontos.
Para o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Novaes, o mercado externo traz um mau humor para a sessão, após a divulgação da inflação britânica vir um pouco mais forte que as expectativas do mercado. “Temos bolsa caindo; juros ‘abrindo’ [subindo] globalmente; dólar mais forte contra as moedas, principalmente emergentes”, diz.
Para ele, o mercado também muda um pouco a perspectiva de como o Federal Reserve (Fed) vai se orientar sua política neste ano. “Os números mostram uma economia americana ainda bem e a inflação continua em patamares altos. Isso tem feito com que os membros do Fed continuem com uma postura mais conservadora”, afirma.
Ao lado disso, Novaes aponta que, no Brasil, o movimento indica uma realização de lucros, enquanto os investidores acompanham com certa dúvida como a proposta das regras fiscais será cumprida. “Algumas coisas que têm sido ventiladas, de aumento de receita, por meio de tributações específicas e diminuições de subsídios, ainda geram incertezas, até porque há grupos de interesse correspondente aos subsídios e, historicamente, sabemos que é difícil de cortar isso. O Congresso não quer aumentar carga tributária. Fica no ar a dúvida de como o governo vai arrumar as receitas para manter a trajetória de [resultado] primário indicada no arcabouço.”
Na mesma linha, Luiz Fernando de Gênova, superintendente de tesouraria do Banco Daycoval, afirma que o mercado absorveu um pouco da melhora recente, enquanto passou a olhar para as regras fiscais com mais cautela. “Agora o texto vai passar pelo Congresso, e isso sempre gera ruído. Então há zeragem de posição com a perspectiva de negociação entre os parlamentares nos próximos dias”, afirma Gênova. “E o mercado vem se perguntando quando de receita seria preciso para que o governo possa alcançar o superávit desenhado pela proposta. Ao mesmo tempo, você vê o próprio governo recuando em relação à taxação das empresas chinesas, mostrando o quão difícil vai ser essa negociação.”