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Espírito Santo é o estado com maior número de casos da doença no país
O Brasil registrou 183 mortes por dengue este ano, média de dois óbitos por dia, segundo dados do Ministério da Saúde. O número pode ser maior, já que ainda há 231 óbitos em investigação no País. Os dados, apurados até o dia 6 deste mês, apontam 592.453 casos prováveis de dengue em todos os Estados. A incidência é de 278 casos por 100 mil habitantes. Dos 5.570 municípios brasileiros, 4.230 já tiveram ao menos um caso positivo de dengue este ano.
A maior incidência dessa doença entre a população ocorre no Espírito Santo, com taxa de 1.568 casos por 100 mil habitantes. O Estado teve 1.742 casos no primeiro trimestre de 2022 e agora registra 64.422, segundo boletim do ministério. Em número, o maior aumento aconteceu em Minas Gerais. O Estado somou nos primeiros três meses deste ano 170.164 casos, enquanto em 2022 foram 23.256. Mato Grosso do Sul também registrou alta de 4.248 casos para 24.048 nos mesmos períodos.
Em São Paulo, embora o Ministério da Saúde aponte alta no número de casos prováveis, de 98.080 para 131.807, a Secretaria de Saúde do Estado afirma que a doença já incide menos. “São Paulo registra neste ano redução de 23,8% nos casos de dengue e 32% nos óbitos em todo o Estado, em comparação com o ano passado”, disse em nota.
Segundo a pasta, foram confirmados até o momento 88,8 mil casos e 70 mortes pela doença. No mesmo período de 2022, foram 116,6 mil casos e 103 óbitos. A diferença se deve ao fato de que, enquanto o ministério contabiliza casos prováveis, a secretaria estadual só soma os casos depois de confirmados por exames.
No interior, chama a atenção a morte de crianças devido à doença. A cidade de Osvaldo Cruz, com 33 mil habitantes, no oeste paulista, está em situação de emergência devido à epidemia. Nesta segunda-feira (10), foi confirmada a morte de uma criança de 7 anos por dengue.
A vítima foi internada no dia 19 de março e morreu no dia seguinte; o exame do Instituto Adolfo Lutz confirmou a causa. Foi a quarta morte por dengue este ano no município, que contabiliza 2.893 casos positivos de dengue e tem outros 277 em investigação.
Em Junqueirópolis, de 21 mil habitantes, uma menina de 7 anos morreu no dia 29 de março com sintomas de dengue. Ela deu entrada no pronto-socorro municipal durante o dia e morreu à noite. Enquanto aguarda o laudo do Adolpho Lutz, a prefeitura realiza fumacês (nebulização com inseticida) nas ruas e no interior das casas.
Em Lins, a Secretaria da Saúde investiga a morte de uma menina de 4 anos com sintomas de dengue. O óbito foi registrado no último dia 7 e, se confirmado, será o segundo na cidade. Uma idosa de 77 anos morreu com dengue no dia 4.
Baixa saturação
A funcionária pública Lorena Aparecida Gomes apresentou os sintomas da doença na terça-feira de carnaval, 21 de fevereiro. Ela contou ter passado mal em um supermercado e foi levada para a Santa Casa de Oswaldo Cruz, onde foi diagnosticada a dengue.
“Cheguei com baixa saturação, quase sem pulsação e estava roxa. Se eu tivesse ido para casa, desidratada como estava, provavelmente teria morrido”, contou. Lorena passou a pedir que as pessoas não subestimem a dengue. “Tive Covid duas vezes e pensei que a dengue não era nada, mas é muito pior. A dengue mata, eu quase fui embora”, disse.
Outras cidades paulistas em situação de epidemia devido à dengue são Itápolis (2.396 casos), Taquaritinga (3.815) e Presidente Prudente (6.849). Em Prudente, já são sete mortes pela doença este ano. A prefeitura transformou o Centro Cultural Matarazzo, espaço de artes e cultura, em um Centro de Combate, unidade exclusiva para pacientes com sintomas de dengue.
Já a prefeitura de Campinas confirmou na segunda-feira, 10, a primeira morte por dengue do ano – o último óbito tinha sido em abril de 2022. A cidade, com 1,2 milhão de habitantes, registra 2.467 casos positivos este ano, bem menos do que municípios de menor porte. Os números, no entanto, cresceram 72% em uma semana e causaram alerta.
O coordenador do Programa de Arboviroses, Fausto Marinho Neto, disse que os meses de janeiro e fevereiro deste ano tiveram um aumento de 200% nos casos confirmados. Ele lembrou que mais de 4 mil casos suspeitos ainda estão em investigação.
Quais as melhores maneiras de evitar a proliferação do mosquito?
Encha os pratos dos vasos de plantas com areia até a borda
Troque a água e lave o vaso das plantas aquáticas com escova, água e sabão pelo menos uma vez por semana
Troque a água dos animais de estimação e lave as vasilhas constantemente
Coloque o lixo em sacos plásticos e mantenha a lixeira sempre fechada
Caixas d’água também devem permanecer fechadas e todos os objetos que acumulam água, como embalagens usadas, devem ser jogados no lixo
Folhas e tudo o que possa impedir a água de correr pelas calhas também precisam ser removidos
Garrafas e recipientes que acumulam água devem ser sempre virados para baixo
Brasil teve mais de mil mortes em 2022
Em 2022, o Brasil registrou o maior número de mortes por dengue desde que a doença voltou ao cenário nacional na década de 1980. Foram 1.016 mortes, superando o recorde anterior de 2015, quando houve 986 óbitos.
Em São Paulo, foram confirmados 332.139 casos de dengue em 617 dos 645 municípios paulistas. Houve ainda 287 mortes. Já este ano, de 20 a 25 de março, o Estado realizou a Semana Estadual de Mobilização Social contra o mosquito Aedes aegypti. São Paulo está no período de maior transmissão da doença – entre o final da primavera e o início do outono -, mas os casos tendem a diminuir no inverno.
Diante do alerta de aumento da incidência no País, o Ministério da Saúde informou ter instalado o Centro de Operações de Emergências de Arboviroses para atuar no controle e redução de casos graves de dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
Para apoiar Estados e municípios que sinalizaram crescente aumento nos casos, a pasta tem enviado equipes técnicas para reforçar as ações de vigilância epidemiológica, controle vetorial e assistência. Segundo o ministério, todos os Estados estão abastecidos com três tipos de inseticidas para controle do mosquito.
Perguntas e respostas sobre a dengue
O que é dengue?
A dengue é uma doença infecciosa febril aguda causada por um vírus que pertence à família Flaviviridae, do gênero Flavivírus. O vírus da dengue apresenta quatro sorotipos, em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Também são classificados como arbovírus, ou seja, são normalmente transmitidos por mosquitos.
Como a dengue é transmitida?
No Brasil, os vírus da dengue são transmitidos pela fêmea do mosquito Aedes aegypti (quando infectada pelos vírus) e podem causar tanto a manifestação clássica da doença quanto a forma considerada hemorrágica, conforme a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
A dengue é a arbovirose urbana mais prevalente nas Américas, principalmente no Brasil.
Segundo o Ministério da Saúde, o período do ano com maior transmissão ocorre nos meses mais chuvosos de cada região, geralmente de novembro a maio. O acúmulo de água parada contribui para a proliferação do mosquito e, consequentemente, maior disseminação da doença.
Que remédios é possível tomar contra a dengue?
Toda medicação deve ser tomada só após a indicação de um médico. Mas é importante reforçar que alguns remédios são contraindicados em caso de suspeita da doença, entre eles, Ácido acetilsalicílico (aspirina) e Prednisolona, pois podem agravar o quadro clínico em caso de confirmação da dengue.
Como é o mosquito da dengue?
Apesar de ser muito parecido com o pernilongo, o mosquito da dengue tem algumas características que servem para diferenciá-lo. Além das listras brancas e pretas, ele é silencioso e costuma picar durante o dia. Igualmente considerada vetor da febre amarela urbana, a fêmea do mosquito Aedes aegypti é a principal transmissora da dengue no Brasil.
Conforme a Fiocruz, o Aedes tem se caracterizado como um inseto de comportamento estritamente urbano, sendo raro encontrar amostras de seus ovos ou larvas em reservatórios de água nas matas.
Quais são os sintomas da dengue?
A doença pode ser assintomática ou pode evoluir até quadros mais graves, como hemorragia e choque. Na dengue clássica, a primeira manifestação é febre alta (39° a 40°C) e de início abrupto, usualmente seguida de dor de cabeça ou nos olhos, cansaço ou dores musculares e ósseas, falta de apetite, náuseas, tontura, vômitos e erupções na pele (semelhantes à rubéola). A doença tem duração de cinco a sete dias (máximo de 10), mas o período de convalescença pode ser acompanhado de grande debilidade física, e prolongar-se por várias semanas.
Os principais sintomas:
Febre alta acima de 39°
Dor no corpo e articulações
Dor atrás dos olhos
Mal estar
Falta de apetite
Dor de cabeça
Manchas vermelhas no corpo
Aumento progressivo do hematócrito (medida da proporção de hemácias no sangue)
O que é dengue hemorrágica?
No que se refere à forma mais grave da enfermidade, conhecida como febre hemorrágica da dengue, os sintomas iniciais são semelhantes, porém há um agravamento do quadro no terceiro ou quarto dia de evolução, com aparecimento de manifestações hemorrágicas e colapso circulatório.
“Nos casos graves, o choque geralmente ocorre entre o terceiro e o sétimo dia de doença, geralmente precedido por dor abdominal. O choque é decorrente do aumento de permeabilidade vascular, seguida de hemoconcentração e falência circulatória. Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade”, alerta a Fiocruz.
Grávidas, crianças e idosos têm mais riscos de desenvolver complicações pela doença. Os riscos aumentam quando o indivíduo tem alguma doença crônica, como asma brônquica, diabetes mellitus, anemia falciforme, hipertensão, além de infecções prévias por outros sorotipos da dengue, de acordo com o Ministério da Saúde.
Quais são os sinais de alerta?
Dor abdominal intensa e contínua
Vômitos persistentes
Acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico)
Hipotensão postural e/ou lipotímia (perda de sentidos)
Letargia e/ou irritabilidade
Sangramento de mucosas
Como diferenciar a dengue da Covid-19?
A dengue é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, enquanto a transmissão pela covid acontece por meio de partículas que se espalham pelo ar, secreções de pessoas infectadas ou superfícies contaminadas.
Sintomas comuns entre as doenças: febre, dores no corpo e de cabeça, cansaço e mal-estar.
No entanto, tosse, dor no peito, falta de ar – principalmente – e alteração do olfato, por exemplo, são sintomas apenas da covid-19. Já no caso da dengue a diferença é que a pessoa pode apresentar manchas na pele e problemas gastrointestinais.
Posso pegar dengue mais de uma vez?
Quando uma pessoa é infectada por um dos quatro sorotipos, torna-se imune a todos os tipos de vírus durante alguns meses e posteriormente mantém-se imune, pelo resto da vida, ao tipo pelo qual foi infectada.
Caso volte a ter dengue, com um dos outros três tipos do vírus que ainda não contraiu, poderá apresentar ou não uma forma mais grave. A maioria dos casos de dengue hemorrágica ocorre em pessoas anteriormente infectadas por um dos quatro tipos de vírus.
Depois que o mosquito da dengue pica, quanto tempo aparecem sintomas?
Geralmente, os sintomas da dengue surgem a partir do terceiro dia depois da picada do inseto, com uma média de cinco a seis dias.
Como o mosquito da dengue se contamina?
O mosquito fêmea se torna infectado quando suga o sangue de alguém doente, no curto período em que esta pessoa tem várias partículas do vírus circulando em seu sangue. Neste momento, o mosquito terá o vírus em seu estômago, mas ainda não é capaz de transmiti-lo.
“Entre 10 e 12 dias depois, as partículas do vírus dengue se disseminam pelo organismo, multiplicam-se e invadem suas glândulas salivares: neste momento, o mosquito fêmea se torna infectivo e, somente a partir daí, poderá transmitir o vírus a outra pessoa”, acrescenta a Fiocruz.
Existe vacina contra a dengue?
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou no começo de março de 2023 uma nova vacina contra a dengue, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda. O produto, batizado de Qdenga, teve eficácia de 80% nos estudos clínicos. É o segundo imunizante contra a doença a receber registro no Brasil, mas o primeiro que poderá realmente mudar o curso das epidemias da doença. Isso porque a primeira vacina, do laboratório Sanofi Pasteur e aprovada no País em 2015, foi descartada pela maioria dos países como estratégia de prevenção por ser recomendada apenas para quem já contraiu algum sorotipo da dengue, já que aumenta a ocorrência da forma grave da doença em pessoas nunca antes infectadas pelo vírus. Ela tem ainda como limitação a faixa etária para qual é indicada: 9 aos 45 anos.
Ainda não há previsão de quando a vacina estará disponível no mercado. Antes, ela precisará passar pelo processo de precificação junto à Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que costuma durar meses. Também não é possível dizer ainda se o produto será incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) para ser oferecido em campanhas nacionais de vacinação.
Estadão