foto: Anderson Coelho / AFP
Três professores e outros cinco funcionários da unidade de ensino já prestaram depoimento à polícia, segundo assessoria jurídica
Cerca de 140 crianças estavam na creche Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau (SC), no momento do ataque de um homem de 25 anos com machado e faca. Passadas 24 horas do crime, os próprios professores ainda tentam reconstituir as cenas de horror que se desenrolaram num tempo que estimam entre um e dois minutos. Para salvar os 25 meninos e meninas que estavam no parquinho na “roda de conversa”, atividade pedagógica semanal, pelo menos quatro docentes arriscaram a própria vida. Oito funcionários já prestaram depoimento à polícia, sendo três deles professores.
— Eles não tiveram nem tempo de entender que era um atentado. O homem pulou já atacando as primeiras crianças que viu. Os professores começaram a gritar e a retirar o máximo de alunos daquela área para protegê-los. Eles corriam na frente e os professores atrás. Isso nos deixa a convicção, a clareza, de que o autor do ataque tinha como foco mesmo as crianças. Tudo deve ter durado cerca de um a dois minutos. Assim que percebem a saída dele, o que também foi muito rápido, eles deixaram os pequenos sob a guarda de outros professores para preservá-los das imagens violentas. Tentaram reanimar as vítimas, não sabiam que algumas já deviam estar mortas. Ficaram esperando o Samu chegar, segurando a mão delas — conta Patrícia Kasburg, assessora jurídica da creche, acrescentando que a unidade de ensino tem recebido muitas manifestações de solidariedade, inclusive com oferta de psicólogos e institutos de acompanhamento terapêutico para os docentes.
Segundo ela, enquanto a professora Simone Aparecida Camargo se trancou com um um grupo de alunos numa sala, após ter ouvido gritos e suspeitado de um assalto, havia professores com outros grupos de crianças que participavam de atividades diferentes em diversas salas da creche. Todos os professores que estavam com alunos no momento do crime e que permitiram a fuga de boa parte deles eram mulheres.
— Se não tivessem agido rápido por instinto e amor àquelas crianças, estaríamos vivendo uma situação muito, muito pior, se é que isso é possível. Eles colocaram as crianças na frente e ficaram atrás, só não foram feridos porque não era essa a motivação do autor do ataque. O foco dele era as crianças, não escolheu, não deu tempo de reação — conta.
A creche Cantinho do Bom Pastor só deve retomar as aulas na quarta-feira (12/04). A unidade dispõe de câmeras de segurança que serão entregues à polícia. Kasburg explica que, no momento, tem conversado com os professores e procurado dar a eles tempo para absorver os acontecimentos porque eles estão em choque.
— Conhecem as crianças muito profundamente e eram muito apegados a elas. Sabem os sonhos de cada uma, que um era mais travesso, que outro sonhava ser bombeiro. A percepção deles é de que tudo não durou mais de dois minutos. Não tivemos ainda condições emocionais de ver as imagens porque elas vão suscitar muitas emoções e questionamentos. Vamos deixar a polícia cuidar disso neste momento tão difícil. Os professores foram mais do que heróis. Não só aqui. No país inteiro, em outros momentos, são eles que saem todos os dias para trabalhar, às vezes em meio a muitos dificuldaes, mas não abandonam seus alunos e ainda salvam vidas — diz.
Jornal Extra