O retorno da energia nuclear ao centro da matriz elétrica japonesa ganha um novo capítulo com a decisão da província de Niigata de permitir a reativação de Kashiwazaki-Kariwa, considerada a maior usina nuclear do mundo, reacendendo quase 15 anos após o desastre de Fukushima o debate sobre segurança, custo de energia, risco ambiental e equilíbrio entre segurança energética e compromissos de descarbonização.
Como o Japão se prepara para reiniciar a maior usina nuclear do mundo?
A usina de Kashiwazaki-Kariwa, a cerca de 220 quilômetros a noroeste de Tóquio, foi desligada após o terremoto e o tsunami de 2011, que levaram ao colapso da usina de Fukushima Daiichi. Operada pela mesma empresa do desastre, a Tokyo Electric Power Company (TEPCO), sua volta tem peso simbólico e prático no debate sobre energia nuclear.
Com sete reatores, o complexo é considerado a maior usina nuclear do mundo em capacidade instalada, e estimativas do Ministério do Comércio do Japão indicam que apenas o primeiro reator, ao voltar a operar, pode elevar em cerca de 2% o fornecimento de eletricidade para a região de Tóquio. Em um cenário de alta dependência de combustíveis fósseis importados, esse incremento é visto como estratégico.
Como a retomada de Kashiwazaki-Kariwa impacta a economia?
O passo político decisivo ocorreu quando a assembleia da província de Niigata aprovou um voto de confiança no governador Hideyo Hanazumi, que declarou apoio ao retorno das operações. Isso removeu o último grande obstáculo local para que a TEPCO coloque novamente em funcionamento o primeiro reator, possibilidade cogitada já para 20 de janeiro, segundo a NHK.
Para o governo japonês, reativar a maior usina nuclear do mundo está diretamente ligado à segurança energética e ao custo da eletricidade, especialmente após o aumento da importação de carvão e gás natural liquefeito (GNL). Em outubro, combustíveis fósseis responderam por cerca de 60% a 70% da geração elétrica, com gastos de 10,7 trilhões de ienes em importações de GNL e carvão.
Quais são as principais preocupações da população de Niigata?
A reativação de Kashiwazaki-Kariwa ocorre sob forte pressão por transparência e segurança, e a TEPCO afirma ter reforçado protocolos para evitar a repetição de um acidente como o de Fukushima. Ainda assim, uma pesquisa da prefeitura de Niigata indica que 60% dos moradores não consideram atendidas as condições para a retomada, e quase 70% demonstram desconfiança em relação à empresa.
No dia da votação, cerca de 300 manifestantes, em sua maioria idosos, protestaram em frente à assembleia provincial, sob temperatura de 6 °C, com cartazes contrários ao reinício e mensagens de apoio a Fukushima. Entre eles, estava Ayako Oga, agricultora e ativista antinuclear deslocada da zona de exclusão de Fukushima, que vê o reinício da usina como uma nova ameaça próxima.
O que muda com o retorno da maior usina nuclear do mundo?
A reativação de Kashiwazaki-Kariwa reorganiza o debate nacional sobre energia nuclear no Japão, ao mesmo tempo em que reforça o abastecimento de Tóquio e contribui para reduzir emissões de gases de efeito estufa frente ao uso intensivo de combustíveis fósseis. O plano oficial prevê dobrar a fatia da geração nuclear na matriz elétrica para algo em torno de 20% até 2040, em meio ao crescimento do consumo por centros de dados de inteligência artificial.
Para tentar conquistar apoio local, a TEPCO prometeu investir 100 bilhões de ienes na prefeitura de Niigata ao longo de 10 anos, em projetos de desenvolvimento regional, infraestrutura e ações voltadas à segurança. Mesmo assim, o governador Hanazumi declara desejar um futuro em que o país não dependa de fontes que gerem ansiedade na população, revelando o equilíbrio delicado entre necessidade energética e prudência.
FAQ sobre a usina Kashiwazaki-Kariwa no Japão
- Por que Kashiwazaki-Kariwa é considerada a maior usina nuclear do mundo? A usina reúne sete reatores em um único complexo, o que, somado à capacidade instalada total, a coloca entre as maiores estruturas de geração nuclear do planeta em termos de potência.
- A população de Niigata recebe algum benefício direto com a reativação? Além do reforço na oferta de energia para a região, a TEPCO se comprometeu com investimentos de 100 bilhões de ienes em projetos locais ao longo de uma década, incluindo infraestrutura e desenvolvimento econômico.
- Quantos reatores nucleares o Japão já reativou desde Fukushima? Desde 2011, 14 dos 33 reatores ainda considerados operáveis foram reiniciados sob novas normas de segurança, enquanto outros seguem em análise, desativação ou processo regulatório.
- O Japão pretende construir novas usinas nucleares? Além de reativar instalações existentes, o país já discute novos projetos; a Kansai Electric Power anunciou estudos para erguer um reator no oeste do Japão, sinalizando uma retomada gradual de expansões.