O impasse comercial entre Mercosul e União Europeia volta ao centro do debate internacional às vésperas da data prevista para a assinatura do acordo de livre comércio, no próximo sábado (20/12). Depois de mais de duas décadas de negociações, a expectativa de destravar um tratado que criaria uma das maiores áreas de livre comércio do mundo esbarra em novas salvaguardas propostas pelos europeus e na resistência de governos e agricultores dentro do bloco.
Qual o impasse comercial entre Mercosul e União Europeia?
De um lado, o Mercosul busca acesso ampliado ao mercado europeu para produtos agrícolas como carnes, aves e açúcar. De outro, a União Europeia tenta conter a entrada desses itens por meio de salvaguardas, alegando necessidade de proteção a produtores locais e estabilidade social no campo.
Esse travamento nas conversas expõe o conflito entre interesses do agronegócio sul-americano e preocupações políticas e econômicas dentro da Europa. O acordo é visto por diplomatas como peça estratégica para aproximar duas regiões com forte peso econômico, mas a percepção de que o texto não entrega um “livre comércio” pleno alimenta resistências em ambos os lados.
Por que as salvaguardas europeias travam o acordo Mercosul-União Europeia?
As salvaguardas aprovadas pelo Parlamento Europeu funcionam como um mecanismo de defesa para o setor agrícola do bloco. Na prática, elas permitem a imposição de limites ou barreiras adicionais caso a entrada de produtos do Mercosul seja considerada prejudicial à produção local, o que reduz a previsibilidade para exportadores sul-americanos.
Países como França e Polônia lideram a resistência, alegando risco de perda de competitividade e impacto social em áreas rurais. Como a aprovação depende de uma maioria de países que representem ao menos 75% da população do bloco, a posição de grandes economias, como França, Itália e Alemanha, torna-se decisiva e adiciona incerteza ao processo.
Quais são os impactos do impasse para Brasil?
No Brasil, entidades do setor produtivo acompanham o tema com atenção e preocupação. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) já sinalizou que, se o acordo entrar em vigor com travas que inviabilizem o livre comércio, os países do Mercosul devem aplicar medidas de reciprocidade, o que pode incluir respostas tarifárias e barreiras técnicas.
As salvaguardas impactariam especialmente as exportações de carnes, aves e açúcar, áreas em que o Brasil tem forte presença global. A frustração pode atingir também setores industriais, já que parte da indústria europeia enxerga no acordo uma chance de ampliar vendas e investimentos na América do Sul, além de definir padrões em temas como meio ambiente e regras sanitárias.
Quais os próximos passos no caso?
Os próximos passos dependem principalmente do andamento no Conselho Europeu e da capacidade dos governos de administrar pressões internas. Caso a votação seja adiada ou bloqueada, o acordo tende a entrar em uma nova fase de incerteza, com risco de perda de impulso político e reabertura de capítulos já negociados.
Entre os cenários mais discutidos por diplomatas e analistas, estão possibilidades que variam desde a aprovação com ajustes até uma reconfiguração parcial do tratado, o que pode prolongar um processo que já dura mais de um quarto de século:
- Aprovação do acordo com as salvaguardas atuais, seguida de negociações complementares;
- Pedido de ajustes adicionais por parte de países europeus mais resistentes;
- Retomada de trechos da negociação, estendendo o calendário de ratificação;
- Reação do Mercosul com medidas de reciprocidade, caso considere o resultado desequilibrado.
FAQ sobre o acordo Mercosul-União Europeia
- O acordo Mercosul-UE pode ser dividido em partes para facilitar a aprovação? Alguns analistas consideram a possibilidade de “fatiar” o acordo, tratando separadamente temas como tarifas, meio ambiente e compras governamentais, mas isso exigiria novo consenso político entre os dois blocos.
- Há outros acordos comerciais do Mercosul em andamento além da União Europeia? Sim. O Mercosul mantém negociações ou tratativas com países e blocos como EFTA, Canadá e Singapura, entre outros, buscando diversificar parceiros e reduzir a dependência de poucos mercados.
- Os padrões ambientais europeus influenciam esse impasse comercial? Influenciam de forma indireta. Ainda que o embate atual esteja centrado nas salvaguardas agrícolas, discussões sobre desmatamento, rastreabilidade e sustentabilidade costumam aparecer como condicionantes na opinião pública e em alguns parlamentos nacionais.
- Produtores europeus podem ganhar algo com o acordo Mercosul-UE? A indústria europeia e alguns segmentos de serviços veem potencial de ampliar exportações e investimentos na região do Mercosul, aproveitando a redução de tarifas e a previsibilidade regulatória prevista no tratado.
