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Policial civil foi arrastado por BMW após briga no trânsito e atirou na cabeça de condutor, que sobreviveu no ABC paulista
O policial civil Thiago Osvaldo, de 37 anos, morreu após ser arrastado por cerca de dez metros por um carro de luxo, na madrugada desse domingo (2/4), após uma briga de trânsito em Santo André, no ABC paulista. Não foi informado se o policial estava de folga ou trabalhando.
Enquanto era arrastado, com o braço preso à janela do motorista da BMW, o policial atirou uma vez e acertou a cabeça do empresário Isaias Bispo dos Santos, também de 37 anos, que conduzia o veículo. O carro pertencia a um amigo dele, o autônomo Lucas Rocha de Brito, de 26 anos.
Isaias foi encaminhado ao Centro Hospitalar Municipal de Santo André, onde permanece internado, com escolta policial. Ele passou por uma cirurgia e o quadro de saúde é estável, segundo o advogado do empresário.
O caso foi registrado como homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e por ter como vítima um agente de segurança pública. Thiago trabalhava no 6º DP de Santo André desde 2 de janeiro de 2012.
Em depoimento à Polícia Civil, Lucas Rocha afirmou que voltava de carro com o empresário da Arena Tatuapé, na zona leste da capital, quando pararam a BMW que ocupavam em um semáforo. Ao lado deles também parou o veículo conduzido por Thiago Osvaldo, um Chevrolet Camaro.
Os amigos teriam elogiado o carro, sem saber que o ocupante era um policial.
Após ser interpelado pelos amigos, Thiago teria sacado sua arma e questionado o que ambos “faziam da vida”. A dupla se assustou e o empresário, que dirigia a BMW, acelerou, ainda de acordo com o depoimento do amigo.
Ambos foram perseguidos pelo policial até a Avenida Industrial, próximo a um shopping, já em Santo André.
diferentes versões
Há duas versões sobre o caso que acabou na morte do policial. A que foi contada pelo autônomo diz que, após pararem os carros perto do shopping, Thiago desembarcou do Camaro, com a arma em punho, e foi até o carro ocupado pelos amigos.
O autônomo disse ainda que a vítima não teria se identificado como policial “em momento algum.”
Assim que chegou ao lado da dupla, Isaias acelerou a BMW.
O autônomo afirmou “acreditar” que a vítima ficou com o braço preso no “momento em que Isaías arrancou com o carro”. Instantes depois, Lucas ouviu um barulho “muito alto”, logo após o policial atirar.
“Neste momento [Lucas] se encolheu assustado e ao olhar novamente viu Isaias com a cabeça caída sobre o volante, desacordado, e percebeu que o carro estava em movimento.”
Para parar a BMW, o autônomo girou o volante, fazendo o veículo colidir contra um poste, que foi arrancado com a força da batida.
Já o empresário Ricardo Gilio, de 51 anos, que testemunhou a abordagem do policial ao carro, afirmou em depoimento à polícia que a vítima estava calma quando se aproximou do veículo conduzido por Isaías.
Quando Thiago parou em frente à BMW, teria sido atingido nas pernas algumas vezes, após Isaías acelerar o veículo.
O policial, segue a testemunha, se irritou com o empresário e foi até janela do motorista gritando para ele desembarcar, sem sucesso. A vítima então se debruçou sobre a janela do motorista, momento em que o semáforo abriu.
“O motorista da BMW começou a arrastar a vítima, que começou a correr tentando acompanhar o veículo. A vítima parecia estar com um braço preso no interior da BMW, por isso não conseguiu se soltar para não ser arrastada”, diz trecho do depoimento da testemunha, ao qual o Metrópolesteve acesso.
Após ser arrastado por cerca de dez metros, o policial atirou uma vez com sua pistola calibre 9 milimetros, atingindo Isaías na cabeça.
A morte do policial foi constatada ainda no local e o empresário encaminhado ao hospital.
Mesmo internado, a prisão preventiva do empresário foi decretada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Defesa
Os advogados Reinalds Klemps e Rebecca Sartori lamentaram a morte do policial e acrescentaram, em nota, esperar a conclusão das investigações policiais para que elas “possam esclarecer os fatos.”
“O Isaias jamais teve qualquer passagem policial e não ostenta antecedentes criminais. Felizmente, Isaias passou por uma cirurgia e está bem, consciente e se recorda dos fatos”, diz trecho da nota encaminhada ao Metrópoles.
Klemps acrescentou que seu cliente afirmou, ainda internado, que Thiago não teria se identificado como policial “em nenhum momento.”
O empresário afirmou, ainda segundo sua defesa, ter ficado assustado ao ver Thiago com uma arma e por isso acelerou, “por achar que poderia ser um sequestro ou assalto.”
“O caso requer maiores esclarecimentos e fica evidente que é uma fatalidade. A defesa entende que o caso no máximo deve ser enquadrado como legítima defesa e isso será provado, pois a ação só ocorreu por conta da própria vítima.”
Os advogados disseram ainda que irão tentar reverter a prisão preventiva de Isaías, decretada pelo TJSP.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que o caso é investigado pela Central de Polícia Judiciária de Santo André.
Metrópoles